Rúben Amorim é o mestre da terapia de choque. O Sporting não se desgastou muito na temporada passada na Taça de Portugal. Afinal de contas, os leões realizaram apenas um jogo no qual perderam com o Varzim e acabaram por ser tombados. Numa competição que mais do que ser de mata-mata é de matar ou morrer, a equipa de Alvalade ressuscitou para a nova época, sabendo melhor do que ninguém, por força da cicatriz com que ficou, que facilitar é meio caminho andado para o precipício.

O Varzim assumiu um pouco o mesmo papel que o LASK Linz. Tantas vezes Rúben Amorim tocou na ferida que a resposta ao desaire com os austríacos foi uma campanha na Liga Europa bastante positiva. O Sporting iniciava a campanha na Taça de Portugal 2023/24 contra o Olivais e Moscavide, equipa da 1.ª Divisão da Distrital de Lisboa. Os leões queriam que fosse o tiro de partida para uma campanha de redenção na segunda competição mais importante do futebol português.

“Relembrar que no ano passado ficamos pelo caminho com o Varzim. O Olivais e Moscavide está mais abaixo em termos de divisão, mas é lembrar isso. Queremos vencer a prova, mas vamos passo a passo. Temos um novo ciclo de jogos. Queremos ganhar a prova”, destacou Rúben Amorim na antevisão à 3.ª eliminatória, a primeira com equipas do escalão principal. Havia que ter alguma cautela, pois o Olivais e Moscavide, nos dois encontros realizados até aqui, tinha deixado pelo caminho adversários de um nível superior, no caso, o Real SC e Os Sandinenses.

As diferenças entre os clubes eram claras. Rúben Amorim foi questionado sobre o aumento da cobiça em relação a Viktor Gyökeres e referiu que o jogador só deixaria Alvalade caso alguém pagasse o valor da cláusula de rescisão, ou seja, 100 milhões de euros. Pelo contrário, o Olivais e Moscavide, à procura do jackpot, veio a público criticar o facto do Sporting não ceder a sua parte da receita ao emblema da distrital. O clube verde e branco disse que “eticamente considera não fazer sentido doar receitas (independentemente dos valores envolvidos) a equipas com quem vai competir” com o objetivo de “combater uma ideia que infelizmente se perpetua de que o apoio financeiro a clubes mais pequenos serve o propósito de conferir vantagem aos clubes maiores, nomeadamente a realização de jogos em estádios com condições mais favoráveis aos ‘grandes’”.

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Ficha de Jogo

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Olivais e Moscavide-Sporting, 1-3

3.ª eliminatória da Taça de Portugal

Estádio José Gomes, na Amadora

Árbitro: Hélder Carvalho (AF Santarém)

Olivais e Moscavide: Rúben Gonçalves, Ricardo Cabral, Paulo Freitas, Evenílto Júnior (Marco Colaço, 45′), Diogo Silva, Vasco Garcia, Sandro Martinho (João Paulinho, 74′), Diogo Brito (Rodrigo Pedro, 45′; Fábio Freire, 67′), João Varela, Fabrício Simões (Gonçalo Caroço, 74′) e Ittalo Felipe

Suplentes não utilizados: Paulo Júnior, Pedro Marquês, Santiago Rocha, Daniel Semedo

Treinador: Ricardo Barão

Sporting: Franco Israel, Fresneda (Geny Catamo, 45′), St. Juste (Gonçalo Inácio, 81′), Neto, Matheus Reis, Daniel Bragança, Dário Essugo (Hjulmand, 74′), Pedro Gonçalves (Nuno Santos, 55′), Edwards (Esgaio, 81′), Trincão e Paulinho

Suplentes não utilizados: Adán, Coates, Gyökeres e Eduardo Quaresma

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Fabrício Simões (8′), Edwards (44′), Geny Catamo (53′) e Daniel Bragança (90+4′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Pedro Gonçalves (15′), Evenilton (45+2′), Edwards (51′), Daniel Bragança (62′), João Paulinho (79′) e Geny Catamo (90′)

Para tentar fazer bingo, Rúben Amorim lançou o recuperado St. Juste como titular pela primeira vez esta época. O onze inicial escalado fazia prever que o técnico dos leões ensaiasse uma defesa a quatro. Ainda assim, o treinador manteve-se fiel ao 3x4x3, sendo Pedro Gonçalves a fazer de lateral-esquerdo. O meio-campo ficou entregue a Dário Essugo e a Daniel Bragança. Fresneda ocupou o lado direito da defesa. Na frente, Paulinho foi a referência com Edwards e Trincão como flanqueadores.

Ainda os planos apertados da televisão não deixavam fazer o escrutínio do desenho tático dos leões e já Ricardo Cabral arrancava pela esquerda para entusiasmo dos adeptos da equipa da distrital a jogar no Estádio José Gomes, casa emprestada para este encontro. O lateral estava sozinho e parecia ter perdido o lance para os muitos defesas do Sporting que o rodeavam. Ainda assim, numa luta hercúlea, acabou por forçar Fresneda à falta. Fabrício Simões (8′), uma cara conhecida dos escalões profissionais, adiantou o Olivais e Moscavide, provando que a equipa de Alvalade tem mesmo gosto por sofrer.

Inexplicavelmente, o Sporting tinha dificuldades em entrar no compacto, mas não tão recuado assim, bloco do Olivais e Moscavide. Os leões preferiam usar a profundidade para atacar, isso era óbvio. Ainda assim, esperava-se mais esclarecimento na busca do espaço nas costas da defesa. Para sorte dos leões, a qualidade individual dos seus jogadores faz maravilhas. Marcus Edwards (44′) desembrulhou a defesa com um lance de génio e acabou atingido por Evenilton. Como prémio, o inglês foi para a marca dos onze metros empatar o jogo em cima do intervalo.

Ainda havia trabalho a fazer para evitar a hecatombe. Amorim lançou Geny Catamo para a segunda parte, mas insistia em ter Pedro Gonçalves a lateral. O jovem moçambicano não precisou de muito tempo para empatar. O lance foi confuso, Edwards cabeceou ao poste, sendo que foi no ressalto que Geny Catamo (53′) completou a reviravolta. Quando Rúben Amorim já tinha retirado Pedro Gonçalves do encontro e colocado um verdadeiro jogador de corredor, como é o caso de Nuno Santos, a equipa ganhou outro fulgor.

Geny Catamo tentou em jeito marcar de novo. Não o conseguiu fazer ainda que, no tempo em que esteve em campo, tenha somado muitos pontos na consideração de Rúben Amorim. O Sporting tentou voltar à carga. Paulinho esteve perto de marcar, mas foi apanhado fora de jogo no momento do passe de Nuno Santos. Marcus Edwards é que teve um dia mau no que a rematar à baliza diz respeito. Exceto o penálti, o inglês teve três oportunidades claras para marcar, tendo desperdiçado todas elas.

A margem mínima continuava presa no resultado. O Olivais e Moscavide acreditava que podia levar o jogo para prolongamento. Por vezes, do querer ao poder vai uma distância muito grande, mas a equipa orientada por Ricardo Barão encurtou-a levando a bola ao poste já dentro dos minutos de compensação. Apesar do susto para os leões, o lance foi anulado por fora de jogo. Na resposta, Geny Catamo voltou a mostrar o porquê de ser incontestavelmente o MVP do encontro. O extremo arrancou pela direita e entregou a Daniel Bragança (90+4′) o 1-3 que vale a passagem à próxima fase.