Meredith Whittaker, a presidente da entidade responsável pela aplicação de mensagens encriptadas Signal, trabalhou durante 13 anos na Google, considerando que já viu, por isso, o “outro” lado da tecnologia.

Uma voz repetente na Web Summit, coube a Whittaker a tarefa de encerrar o palco principal no primeiro dia de programação completa. A intervenção começou com um pequeno jogo. “Quantos aqui é que usam a Signal?”, questão que elevou dezenas de braços. Já a pergunta “e quantos é que pagam por isso” levantou menos braços, mas incluiu também a presidente da Signal. “Podem doar, basta ir às definições”, brincou.

Whittaker foi clara nas palavras. “Esta sala sabe, melhor do que ninguém no mundo, que o motor [das tecnológicas] é a venda de dados. Usam-se os dados para qualquer coisa e é assim que a tecnologia ganha dinheiro. Precisamos de ser estruturados para não participar de um modelo de negócio que ameace a privacidade”, explicou. A Signal não tem custos para o utilizador, já que se trata de uma organização sem fins lucrativos.

A Signal “está a nadar contra a corrente num ecossistema que é dominado pela vigilância”, frisou a presidente. Mas, por outro lado, reconhece as dificuldades de responder a um público que quer a mesma experiência que teria noutra app de conversação. Só foi possível com o esforço de uma equipa sénior de pessoas, explicou à plateia da Web Summit. “Ao início, havia pessoas [da Signal] que não iam de férias, porque tinham receio de que acontecesse alguma coisa e não conseguissem responder porque estavam num avião”, exemplificou.

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Mas o tema de conversa não era vigilância, mas sim o “hype” da inteligência artificial. “O termo IA é de 1956, portanto, não não é uma onda que nos atingiu só agora.” Porém, lembrou que há necessidade de que não se repitam os erros e “pecados dos anos 90”, em que se tentou regular as tecnológicas, mas que não surtiu efeito.

Agora, não escondeu o receio de que a história volte a repetir-se, mas com a IA, que está nas mãos de “uma mão cheia de empresas”. “A indústria da IA está fundamentalmente concentrada. Se são uma startup de IA que está aqui sabem que é o responsável pela vossa infraestrutura”, dando como exemplo a Amazon ou Microsoft. “Ou usam um grande modelo de linguagem [LLM, em inglês],  que também foi desenvolvido por estas empresas.”

Recorreu ao exemplo da conferência de inteligência artificial, que decorreu no Reino Unido, no início do mês. “Estavam as tecnológicas na sala a regular as tecnológicas”, exemplificou.

No fim, deixou um conselho às startups na sala. “Saibam quais são os vossos valores e qual é o vosso público.”