“O único conselho que dou aos jovens que se iniciam como escritores na imprensa diária: digam e defendam a vossa verdade, quer ela coincida ou não com aquilo que o jornal defende editorialmente.” Na sua crónica de despedida, Mario Vargas Llosa, que passa em revista os 33 anos em que escreveu para o jornal espanhol El País, reforça o conselho mais do que uma vez: dizer a verdade deve ser aquilo que norteia os jovens jornalistas, recém-chegados à profissão.

O escritor peruano, Prémio Nobel da Literatura em 2010, já tinha anunciado que “Le Dedico Mi Silencio”, publicado em outubro passado, seria o seu último romance. Este domingo, aos 87 anos, Vargas Llosa retira-se também da escrita de opinião, pondo fim à crónica “Piedra de Toque”, que assinava no El País desde 1990, convidado pelo diretor de então, Joaquín Estefanía.

Ao longo de quase 8 mil caracteres, Vargas Llosa recorda como nem sempre a sua opinião esteve alinhada com a do jornal espanhol, chegando a ser defendido pelo empresário Jesús de Polanco, então o principal acionista do El País.

“Em 1990, Joaquín Estefanía, que tinha assumido recentemente a direção da redação, contratou a minha coluna no El País, e desde logo decidi chamar-lhe ‘Piedra de Toque.’ Alguns dias ou semanas mais tarde, quando dei a minha opinião sobre um assunto em que o jornal adotou uma linha diferente, Jesús de Polanco defendeu a minha posição contra a linha do jornal, argumentando que os colunistas do jornal tinham o direito de defender as suas opiniões, quer fossem adversas ou simpáticas às do próprio jornal”, escreve Vargas Llosa.

“O meu conselho, já disse antes, aos jovens jornalistas, é dizer sempre a verdade, mesmo que seja difícil de assimilar e de descrever, com base na realidade”, insiste o Nobel da Literatura. “Embora isto seja muitas vezes difícil, há sempre formas de o abordar, e creio que se o jornalista renuncia à sua obrigação de dizer a verdade, essa é a fonte de onde derivam todos os males da imprensa, desde o pequeno esforço até à maré onda que a mentira pode causar.”

Vargas Llosa defende que “o jornalista talentoso busca a verdade como uma espada que abre caminho por toda parte”. Em contrapartida, escrever mentiras é mais fácil, mas esse caminho será sempre desmascarado. “Contar mentiras, manipular, é fácil, mas mais cedo ou mais tarde fica evidente. Quem diz a verdade e a defende presta um serviço aos seus leitores e ao seu tempo. É isso que timidamente almejei com o nome — ‘Piedra de Toque’ — da minha coluna no El País.”

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