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Gyökeres já não precisa ser, basta estar (a crónica do Sporting-Estoril)

Este artigo tem mais de 6 meses

Fez três assistências, colocou Trincão na carreira de tiro, "isolou" Pedro Gonçalves ao arrastar defesas: o planeta Sporting continua a gravitar em torno de um extraterrestre chamado Gyökeres (5-1).

Gyökeres participou em todos os golos da goleada do Sporting frente ao Estoril no resultado mais expressivo da temporada
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Gyökeres participou em todos os golos da goleada do Sporting frente ao Estoril no resultado mais expressivo da temporada

PATRICIA DE MELO MOREIRA

Gyökeres participou em todos os golos da goleada do Sporting frente ao Estoril no resultado mais expressivo da temporada

PATRICIA DE MELO MOREIRA

Janeiro, janeiro, de novo janeiro. As vitórias podiam continuar a aparecer em dezembro mas era em janeiro que Rúben Amorim continuava a colocar todas as atenções, num mês que pode ser decisivo em vários aspetos nas aspirações do Sporting. Por um lado, as ausências tinham peso entre lesões e participações em provas de seleções, deixando Coates, Diomande, Morita, Fresneda e St. Juste de fora das opções (a começar pelo jogo frente ao Estoril, o primeiro do ano). Por outro, havia seis jogos que podiam ser sete em três provas distintas, entre o fecho da primeira volta do Campeonato, os oitavos da Taça de Portugal e ainda a Final Four da Taça da Liga. Por fim, os pontos na Primeira Liga parecem cada vez mais “caros”, bastando para isso recuar até à última ronda para se perceber as dificuldades que os candidatos ao título enfrentaram apesar das vitórias. Ainda assim, nem mesmo os obstáculos que tinha pela frente condicionavam o técnico dos leões.

Sporting goleia Estoril e reforça liderança na Liga com bis de Edwards e hat-trick de assistências de Gyökeres

“Não me preocupa porque temos condições para apresentar um onze de qualidade. Já sabíamos dessas ausências. Podemos encontrar um jogo muito difícil, frente a uma equipa que está livre de responsabilidades. Nem o Coates nem o St. Juste podem estar com a equipa. O Fresneda também continua a sua recuperação mas vamos apresentar um onze forte”, apontara Rúben Amorim, entre elogios a um Estoril que mudou por completo com a entrada de Vasco Seabra e ganhou por duas vezes ao FC Porto. “Dissemos aos jogadores os resultados que têm tido, é uma equipa que não perde há quatro jogos. Têm muitos jogadores com formação de clubes grandes, um treinador que já demonstrou em Portugal fazer grandes trabalhos e ganhar a equipas grandes. A equipa está avisada, sabe que tem o Guitane, dos mais desequilibradores neste momento, a jogar numa nova posição. Toda essa informação foi passada”, acrescentara sobre o adversário.

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Sem ter jogos grandes até à meia-final da Taça da Liga com o Sp. Braga, Rúben Amorim sabia de todas as dificuldades que teria pela frente não só na receção ao Estoril mas também nas próximas viagens a Chaves e a Vizela. Mas quereria a atual liderança no Campeonato significar uma maior crença no título? “Eu sempre acreditei. Quando menos acreditei foi no primeiro ano, depois fomos acreditando. Nós e vocês também. No segundo eu estava muito confiante que poderíamos ser bicampeões, no terceiro também. E foi o que foi. Este ano sinto-me confiante mas sinto que depende muito de tudo. Das lesões, do calendário, da bola que bate no poste. A sorte tem muito impacto em tudo. São quatro anos que parecem 20 mas tem sido um bom trajeto e estamos confiantes de que podemos ser campeões”, realçara antes do arranque da jornada.

Para isso, e de forma inevitável, Viktor Gyökeres assumia um peso extra não só pelos golos mas pelo impacto que teve no jogo do Sporting e nos próprios adeptos leoninos (até nos adversários). “Vimos as características, depois é dar mérito a quem o tem, que é o scouting. O que nós vimos é que tinha as características essenciais para tornar a nossa equipa mais perigosa num momento do jogo. Acho que ele mostrou-nos a todos que não só contra blocos subidos mas também contra blocos baixos consegue marcar golos e ter bastante impacto. Não diria que esperava ter este impacto mas esperava que ele mudasse um bocadinho a forma de jogar da nossa equipa”, destacara Amorim. “Foi uma contratação marcante para o Campeonato e para o Sporting em particular. É um dos melhores jogadores da nossa Liga”, assumia também Vasco Seabra.

Mais uma vez, o avançado foi como aquela definição que Sérgio Conceição tem para o Sporting de Rúben Amorim: é fácil perceber como joga, é difícil contrariar como joga. Sempre que o sueco tocava na bola havia uma tendência quase inconsciente para colocar no mínimo dois adversários por perto, sendo que essa atração que conseguia criar abria espaços para outros elementos como Marcus Edwards brilharem. Foi essa a opção que o Estoril assumiu, foi assim que a vitória ficou escrita. Olhando para a ficha de jogo, o extremo inglês salta à vista com um bis na primeira parte que deixou o triunfo encaminhado mas foi mais uma vez o número 9 a fazer toda a diferença entre duas assistências com os pés para Edwards, uma com as mãos no lançamento que originou o 3-0 e até pela simples movimentação a levar consigo dois adversários como no lance que deu o golo a Pedro Gonçalves. Até mesmo sem marcar, foi o melhor. Quando contratou Gyökeres, o Sporting não ficou apenas com um grande jogador mas sim com uma marca que em alguns jogos basta “estar”.

Ficha de jogo

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Sporting-Estoril, 5-1

16.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Cláudio Pereira (AF Aveiro)

Sporting: Adán; Eduardo Quaresma (Luís Neto, 71′), Gonçalo Inácio, Matheus Reis; Geny Catamo, Daniel Bragança (Francisco Trincão, 52′), Hjulmand (Dário Essugo, 71′), Nuno Santos (Ricardo Esgaio, 71′); Marcus Edwards (Paulinho, 81′), Pedro Gonçalves e Gyökeres

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Chico Lamba, Rafael Pontelo e Afonso Moreira

Treinador: Rúben Amorim

Estoril: Marcelo Carné; Raúl Parra (Mangala, 62′), Bernardo Vital, Pedro Álvaro; Rodrigo Gomes, Holsgrove, Koba Koindredi (Michel, 80′), Tiago Araújo (Heriberto, 72′); Rafik Guitane (Wagner Pina, 72′), João Marques e Alejandro Marqués (Cassiano, 62′)

Suplentes não utilizados: Dani Figueira, Volnei, Mor Ndiaye e João Carlos

Treinador: Vasco Seabra

Golos: Marcus Edwards (20′ e 45+1′), Pedro Álvaro (51′, p.b.), Pedro Gonçalves (69′), Francisco Trincão (78′) e Cassiano (82′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Pedro Álvaro (39′), Adán (83′), Heriberto (83′) e Mangala (89′)

O jogo começou com dois passes falhados e outros tantos mais arriscados do Sporting em zonas que seriam perigosas mas sem que isso afetasse o estado anímico da equipa, empenhada em agarrar cedo no controlo da partida no meio-campo adversário e chegar à vantagem que por muito pouco não chegou logo no segundo minuto, com Marcus Edwards a cruzar bem da direita para o desvio de cabeça de Gonçalo Inácio que passou perto do poste. Mais do que aquilo que fazia ou tentava fazer em posse, era sem bola que o Sporting tinha o seu maior desafio frente a um Estoril com paciência para circular a partir de trás até encontrar os espaços no meio-campo contrário. No entanto, quando conseguia “apertar” mais, a formação verde e branca criava situações de perigo como voltou a acontecer ainda no quarto de hora inicial com Nuno Santos a ver um tiro prensado num defesa contrário e Marcelo Carné a conseguir depois tirar o golo a Pedro Gonçalves (11′).

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Foi preciso esperar mais de um quarto de hora para o Estoril visar a baliza do Sporting, numa falta em zona perigosa de Daniel Bragança sobre João Marques que Holsgrove bateu para defesa de Adán (20′). O perigo tinha passado para os leões, os canarinhos quiseram aproveitar esse acréscimo emocional da tentativa mas o passo foi em falso: numa tentativa de estender a linha defensiva a zonas mais altas, os visitantes avançaram em demasia, deram a profundidade para Gyökeres receber um grande passe de Hjulmand descaído sobre a esquerda e o sueco bateu Rodrigo Gomes em força para assistir Marcus Edwards (21′). Estava inaugurado o marcador numa vantagem que pouco depois podia ter sido ampliada por Geny Catamo, na sequência de uma bola recuperada por Edwards no meio-campo contrário que permitiu uma combinação rápida entre Daniel Bragança e Nuno Santos até ao cruzamento para o remate ao lado do moçambicano (26′).

Havia dois pontos em comum entre Sporting e Estoril que ao mesmo tempo faziam a diferença entre ambas as equipas: 1) quando conseguiam saltar as primeiras linhas de pressão e o passe saltava essa barreira, havia tempo e espaço para criarem desequilíbrios; 2) quando perdiam a bola à saída do primeiro terço, corriam o risco de sofrer. Foi assim que Alejandro Marqués viu um golo anulado depois de Rafik Guitane ter demorado demasiado tempo a fazer o passe para a entrada de Rodrigo Gomes, que estava em posição adiantada (32′). Foi assim que Marcus Edwards voltou a ficar perto do golo, num remate de pé direito à entrada da área que passou muito perto do poste (34′). Foi assim que Nuno Santos, lançado na profundidade, quis fazer mais um golo vistoso de chapéu mas Marcelo Carné conseguiu defender (35′). Os leões apertavam a malha, somavam oportunidades (Nuno Santos e Gonçalo Inácio também ameaçaram o golo nos minutos seguintes) e ainda foram a tempo de fazerem o 2-0 na primeira parte, com mais uma grande jogada de Gyökeres lançado por Geny Catamo antes de bater Bernardo Vital e assistir Marcus Edwards para o bis (45+2′).

Vasco Seabra optou por não fazer qualquer alteração na equipa ao intervalo, acreditando que as correções a nível de posicionamentos e a capacidade para os jogadores mais virtuosos terem outro tipo de protagonismo poderia equilibrar as forças mas a entrada no segundo tempo dificilmente poderia ser pior e acabou de vez por “matar” as ambições canarinhas. “Culpado”? O do costume, Viktor Gyökeres: ao perceber que poderia ter vantagem numérica em caso de lançamento lateral mais rápido, acelerou essa reposição após “assistência” de um apanha bolas que estava também atento à partida e colocou rápido em Nuno Santos, que avançou sem oposição, rematou de pé esquerdo, viu a bola desviar ainda em Pedro Álvaro e fez o 3-0 que seria depois atribuído ao defesa dos canarinhos (51′). Francisco Trincão entrou logo de seguida para o lugar de Daniel Bragança e esse era mais um sinal de que a história principal do encontro já se encontrava escrita.

Os minutos seguintes trouxeram um desfile de oportunidades nas duas balizas, com Tiago Araújo, depois de um grande passe de João Marques, a atirar ao lado sozinho na área na ocasião mais flagrante dos visitantes antes de Gyökeres arriscar também ele o golo para defesa de Marcelo Carné (61′). Ainda assim, e perante o que se poderia projetar, o Sporting nunca deixou de ter o foco na baliza a aproveitar todas as transições e com o avançado sueco sempre como centro de todas as operações até à goleada: Pedro Gonçalves aumentou para 4-0 numa jogada em que roubou a bola a Koba Koindredi e aproveitou o facto de os dois defesas seguirem Gyökeres para rematar sem oposição (69′), Francisco Trincão fez o 5-0 em mais um lance iniciado pelo sueco com um grande trabalho individual antes do remate cruzado (78′). Cassiano, numa recarga após canto, ainda reduziu para o 5-1 final mas a goleada só não teve outro volume devido aos postes, entre uma tentativa de Marcus Edwards (75′) e outra de Pedro Gonçalves nos descontos (90+1′).

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