O Governo cabo-verdiano apresentou, esta segunda-feira, o programa de comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e da libertação dos presos políticos do Tarrafal, como forma de dizer “não” a qualquer limitação de liberdades no mundo.

“Fazemo-lo também com esta ideia: Tarrafal nunca mais. A frase que ecoou pelo período revolucionário do 25 de Abril“, em contraste com o que disseram, “tristemente, alguns candidatos nas legislativas (deste mês) em Portugal”, disse Abraão Vicente, ministro da Cultura de Cabo Verde.

“O Tarrafal não pode ser nomeado em nenhuma nova tentativa de trazer o fascismo, o totalitarismo, quer para Portugal, quer para outro território. E cabe-nos a nós, com estas celebrações, encerrar definitivamente qualquer devaneio público, de qualquer político”, acrescentou.

“[Hoje, o Tarrafal é] um espaço de memória, um espaço museológico, um espaço de reflexão e de diálogos, nunca mais um espaço onde a nossa dignidade humana seja posta em causa”, declarou.

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Bruno Fialho, presidente do Alternativa Democrática Nacional (ADN), partido português sem representação parlamentar, defendeu, numa entrevista durante a campanha para as eleições legislativas em Portugal, que alguns crimes e figuras deviam ser punidos com penas no Tarrafal.

Abraão Vicente falava num conferência de imprensa, na Praia, ladeado pelos embaixadores de Portugal e da Guiné-Bissau, co-organizadores das comemorações, juntamente com Angola, países de origem dos presos políticos.

Paulo Lourenço, diplomata português, adiantou que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já aceitou o convite de José Maria Neves, chefe de Estado cabo-verdiano, para estar presente na cerimónia de 1 de maio, para a qual também foi convidado o Presidente angolano, João Lourenço.

Ibrahima Sanó, embaixador da Guné-Bissau, disse esta segunda-feira que o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, também já aceitou o convite que lhe foi endereçado.

O cinquentenário será a última data marcante em que será possível contar com o testemunho de viva voz de alguns dos presos, devido à idade avançada, destacou Ana Samira Baessa, presidente do Instituto do Património Cultural (IPC), ao apresentar o programa.

Os testemunhos farão parte de um simpósio internacional marcado para 9 de maio, sendo que Cabo Verde já fez 12 convites e a Guiné-Bissau procura levar ao arquipélago alguns dos sete antigos presos ainda vivos.

O programa inclui várias atividades: logo no dia 25 de abril haverá uma conversa aberta com investigadores de Portugal e de Cabo Verde e no 1 de maio, dia da libertação do Tarrafal, vai ser aberta uma exposição sobre a memória dos presos.

Visitas guiadas, um concurso para escolas, publicação de um livro e espetáculos — incluindo um festival de encerramento — serão partes de um programa que pretende ser um convite para a reflexão, que contribua para a liberdade, referiu Ana Samira Baessa.

O antigo Campo de Concentração do Tarrafal, hoje um município da ilha de Santiago, foi construído no ano de 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956.

Reabriu em 1962, com o nome de “Campo de Trabalho de Chão Bom”, destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Ao todo, foram presas no “campo da morte lenta” mais de 500 pessoas: 340 antifascistas e 230 anticolonialistas.

Numa lápide evocativa erguida no interior do campo, estão inscritos os nomes de 36 pessoas que morreram no campo: 32 portugueses, dois guineenses e dois angolanos.

Após a sua desativação, o complexo funcionou como centro de instrução militar, desde 2000 alberga o Museu da Resistência e em 2004 foi classificado Património Cultural Nacional e integra a lista indicativa de Cabo Verde a património da UNESCO.