O especialista em migrações, Pedro Góis, apelou este sábado ao futuro executivo que acelere a regularização dos imigrantes sem facilitismos e dê outro peso ao tema da orgânica do governo, liderado pela Aliança Democrática (AD).
Em causa estão os sucessivos atrasos nos processos de regularização dos processos pendentes, acelerados pelo fim do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e a sua transformação na nova Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).
A transição entre as duas organizações deve ser acelerada porque ainda permanecem “muitos obstáculos para que possamos entrar numa velocidade de cruzeiro para gerir as entradas”, afirmou o docente da Universidade de Coimbra.
“Temos tido uma pressão migratória muito grande e de algumas origens que não estávamos à espera”, disse, numa referência aos imigrantes vindos do Indostão.
“Uma das prioridades do novo governo será resolver muito rapidamente esta questão sem facilitismos” e “dar autorizações de residência sem a devida fiscalização”, considerou, admitindo que o tema tem um impacto grande na opinião pública.
“É facilmente percetível que isto [a chegada de imigrantes em grande número] gera problemas de coesão social e temos que olhar para a questão com responsabilidade”, para, por um lado, “responder às expectativas de quem chegou a Portugal, mas, por outro lado, responder também às expectativas dos portugueses e dos imigrantes que já cá estão”, para “não verem contaminada a sua integração no mercado de trabalho e na sociedade portuguesa, devido a esta chegada abrupta de muitas centenas de milhares de pessoas”.
Depois, salientou, é necessário avaliar se é possível “continuar com as portas tão abertas como temos tido até agora ou se o mercado de trabalho está a apresentar indícios de saturação, sendo que noutras áreas como a habitação e como a educação, aparentemente já estamos com dificuldades que não vamos conseguir resolver rapidamente”.
A questão da “imigração é demasiado séria para estar desaparecida” na orgânica do governo, pelo que “tenho alguma curiosidade para perceber como é que o futuro Governo vai colocar o tema” no seu sistema de funcionamento.
A AIMA foi criada no final de outubro num momento em que existiam 300 mil processos pendentes, a maioria deles respeitantes a manifestações de interesses por parte imigrantes que já estão a trabalhar. A esse número somam-se centenas de milhares de processos de revalidações e outros casos.