A beleza de Sintra também se faz de contrastes. Entre a luz e a sombra, a cor e a névoa e o fausto e a simplicidade. E é aqui que entra o Convento dos Capuchos, uma construção do século XVI que, ao contrário dos monumentos vizinhos, se destaca pelo seu despojamento, minimalismo e pela forma como brota da natureza, porém quase oculto pela densa vegetação que o rodeia.
O Convento dos Capuchos, também conhecido por Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra e, menos habitualmente, por Convento da Cortiça, foi mandado erigir em 1560 por D. Álvaro de Castro, conselheiro do rei D. Sebastião, para cumprir um desejo antigo de seu pai, D. João de Castro, que fora vice-rei da Índia.
A sua alcunha menos conhecida deve-se a uma opção singular na sua construção: a utilização de uma grande quantidade de cortiça virgem, com aspeto similar a pedra rústica, tanto nos revestimentos como na (parca) decoração – algo que viria a inspirar a construção do Chalet da Condessa d’Edla, junto ao Palácio da Pena.
Os primeiros habitantes do Convento foram oito frades franciscanos capuchos – daí a designação “dos Capuchos” – vindos do Convento da Arrábida. Encontraram ali o cenário ideal para concretizar os ensinamentos de São Francisco de Assis na busca pelo aperfeiçoamento espiritual, nomeadamente o afastamento do mundo, o viver despojado de bens e em respeito absoluto pela natureza – os frades dedicaram-se, por exemplo, à manutenção do bosque que rodeia o Convento, um belíssimo exemplo de floresta primitiva em Sintra.
Um dos seus habitantes mais célebres foi Frei Honório, que, segundo reza uma lenda, na sequência de uma tentação do demónio, se terá recolhido durante 30 anos numa gruta próxima do convento, que ainda hoje conserva uma inscrição relativa a esse episódio.
O Convento manteve-se local de culto e peregrinação durante mais de 250 anos. Os frades eram bastante acarinhados pela população local, que os apelidava de “homens santos”. Tal como aconteceu com muitos outros espaços religiosos, a extinção das Ordens Religiosas em Portugal, decretada em 1834, levou ao seu abandono.
A propriedade mudou então de mãos por diversas vezes, tendo sido adquirida em 1873 por Sir Francis Cook, o Visconde de Monserrate, à época proprietário e mentor do exótico palácio homónimo. Apesar de apaixonado por Sintra e pela natureza, Cook nunca investiu na sua recuperação, que só aconteceu com a aquisição por parte do Estado Português, na primeira metade do século XX.
Mas o verdadeiro renascimento deste edifício histórico só aconteceria pela mão da Parques de Sintra, já em 2013. Envolveu uma equipa composta por profissionais de diversas áreas – arqueólogos, arquitetos, arquitetos paisagistas, conservadores, restauradores, engenheiros, historiadores de arte, entre outros – que se focaram não só no restauro de todo o edificado, como na recuperação do enquadramento paisagístico, com vista a potenciar a experiência dos visitantes. O sucesso deste projeto fê-lo ser distinguido com o Prémio da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra 2022.
Para ficar a saber mais histórias sobre o Convento dos Capuchos, oiça aqui o episódio dedicado no podcast Sintra em Cinco Séculos, com os convidados Maria João Sousa (Arqueóloga, Coordenadora Técnica da Parques de Sintra responsável pelo Convento dos Capuchos), Carolina Carvalho (Técnica de Conservação e Restauro da Parques de Sintra) e Elsa Isidro (Arquiteta Paisagista da Parques de Sintra).