Era a primeira conferência de Rúben Amorim como novo campeão nacional, naquele que foi o segundo título na prova e o quinto troféu desde que chegou ao Sporting, mas foi mais do que uma conferência. Aliás, numa resposta foi igual a tantas outras no passado: “Tenho contrato com o clube, estou focado com o clube”. No entanto, o contexto mudou. Em alguns momentos as palavras podem ser as mesmas mas a forma como são ditas e aquilo que representam não tem nada a ver com cenários que se passavam há não muito tempo. Mais: não só o treinador confirmou-sem-confirmar que vai continuar nos leões, assumindo mais uma vez que cometeu um erro que não voltará a repetir (ou seja, no dia em que sair, tudo será diferente), como teve expressões que mostram conhecer bem a história do clube para acalentar o objetivo de bater recordes.

“Nada mudou. Como vos tinha fito, tenho contrato com o Sporting e não há novidade. Sobre a questão, não disse que íamos ser bicampeões, disse que íamos ver se éramos… Todos os clubes querem ser bicampeões, nós temos esse objetivo. Em relação a esse discurso e ao microfone, também sou um homem que não costuma beber, já tinha bebido duas cervejas, depois a euforia, o momento… Tudo levou àquilo. Mas que não haja dúvidas que queremos ser bicampeões. Se alguma vez pensei nisto? Nunca pensei estar no Marquês a ter um discurso como treinador do Sporting, foi uma surpresa boa da vida. Já disse várias vezes que esta é a casa onde fui mais realizado profissionalmente e é para continuar. Obviamente que fazemos contas aos títulos. O importante é ajudar o Sporting a ser melhor, ser feliz a treinar e, talvez, ser a equipa técnica com mais títulos no Sporting”, apontou Rúben Amorim, em duas respostas iniciais na conferência de imprensa.

Levando à letra esse compromisso, muito provavelmente o técnico teria de renovar o contrato mais uma vez, tendo em conta que Josef Szabo, um dos nomes incontornáveis da história verde e branca nas décadas de 30 e 40, ganhou um total de 13 títulos entre Campeonatos Nacionais, Campeonatos de Lisboa, Taça de Portugal e até a Taça Império. Muito provavelmente, Rúben Amorim olhava apenas para troféus nacionais, sendo que pode até tornar-se o treinador do Sporting com mais conquistas nesse particular se ganhar a final da Taça de Portugal frente ao FC Porto, a 26 de maio. Com uma nuance: quer mais. E não só quer mais como vê todo o crescimento do clube para começar a ficar mais próximo de ganhar todas as provas que disputa. Para já, sobra outra garantia: os últimos dois encontros do Campeonato têm vários objetivos para atingir.

“Sabemos que o Estoril primeiro joga bem, depois jogar fora de casa não é o mesmo do que em casa. Vamos fazer algumas alterações. Esta equipa que vai jogar é para vencer o jogo mas não será a mesma do que contra o Desp. Chaves. O próximo jogo é sempre o mais importante. Há uma gestão que será feita para na semana da Taça de Portugal toda a gente estar no máximo mas vão ver pelo onze que queremos vencer porque temos objetivos importantes: passar a melhor marca do Sporting [a nível de pontos], chegar a mais uma vitória que nunca aconteceu [28], continuar a não sofrer golos… Fomos campeões mas toda a equipa técnica e jogadores sentem o peso de pensar já no próximo ano. Todas as boas sensações de sermos campeões já passaram. Agora é a Taça de Portugal e preparar já a próxima época”, apontou o técnico que, caso conseguisse o bicampeonato, seria o primeiro a alcançar o feito pelo Sporting sete décadas depois.

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“Debast e Ioannidis? Como sempre vos disse, a próxima época já está a ser tratada há algum tempo. Temos os nossos alvos mas nesse aspeto não controlamos tudo, claro que também vão querer os nossos jogadores. Queremos despachar as coisas porque não temos o dinheiro de outros clubes, temos de atacar mais rápido. Queria fechar já o plantel para poder ter férias. Interesse no Gyökeres? Sabemos que será um defeso complicado para os adeptos, vamos fazer o máximo para o manter mas já passámos por essas situações. O Viktor é um grande jogador, contamos com ele mas vamos ter de esperar. Interesse de clubes ingleses em mim? São rumores. Também a qualidade da equipa e dos jogadores ajuda. Certamente não apanharei mais nenhum avião para Inglaterra… Sou treinador do Sporting e não me foco nos rumores”, salientou.

“Atalanta na final da Liga Europa? A mim custa-me ver. Não vejo, não quero ver, nem quero saber, porque acho que nós podíamos ter feito melhor. Percebemos onde falhámos, tivemos alguns azares também, tivemos de fazer alguma gestão para o Campeonato e acho que o objetivo nosso enquanto clube passa muito por aí: cada vez menos fazer uma gestão entre Campeonato e competições europeias. No próximo ano, na Liga dos Campeões não poderemos fazer essa gestão dessa maneira e, portanto, vamos ter de crescer todos. Os jogadores têm de crescer e nós temos de melhorar a equipa cada vez mais. Não vejo de forma nenhuma. Obviamente que eu sabia que a Atalanta era uma equipa forte, provou isso contra o Liverpool. Vão jogar duas grandes equipas, certamente eu não irei ver a final”, atirou, em mais um “elevar da fasquia”.

“Não controlamos o que acontece no futuro, mas estou muito focado no Sporting no trabalho. Os erros que cometi no passado não irei cometer no futuro. Nem vocês sabem se vão continuar nos vossos postos de trabalho, se podem ter uma proposta melhor… O meu foco é no Sporting e estamos a preparar a próxima época. Chegar aos 100 golos? Queremos marcar o máximo de golos, sabemos que é muito difícil contra equipas que estão a lutar pela vida. Queremos fazer mais e melhor mas o número de vitórias e pontos acho importante num clube como o Sporting, tal como preparar o próximo troféu e a próxima época”, rematou.

Antes, Rúben Amorim tinha falado sobre a festa que entretanto está esquecida e revelou não só o guarda-redes titular no Estoril como mais um jovem da formação que terá a oportunidade de ser chamado e que não será Geovany Quenda: “Acreditamos muito que o Quenda eventualmente será campeão no Sporting. Temos mais atenção aos miúdos que nos ajudaram muito nos treinos, se calhar não tiveram a visibilidade de outros e que, se calhar, também não estarão cá. O [Miguel] Menino vai ser convocado, o Quenda não. Ele terá tempo para isso. Guarda-redes? O Antonio ainda está lesionado e não pode jogar, o Franco foi operado e está fora o resto da época. Por enquanto, o Diogo Pinto vai ser o titular mas confiamos em todos. Temos o objetivo de ajudar um rapaz que fez o crescimento todo aqui, vai-se estrear pela equipa principal. O contexto vai ajudar porque já fomos campeões, mas todos vão ajudá-lo e sabemos que ele está pronto para ajudar”.

“Em relação ao dia da festa, acho que foi muito claro para toda a gente que foi uma grande festa. Toda a gente estava à espera do título, eu mais do que os jogadores e do que o staff porque fui o único que já fui vestido para ir para o autocarro, a minha crença era maior do que a do resto da malta. Passado dois dias já não sabe a nada, agora temos coisas para fazer e objetivos para atingir. Temos a final da Taça de Portugal e temos de seguir o nosso caminho, esquecendo um bocadinho a festa. Amanhã [Sábado] vamos tentar vencer sem sofrer golos. Acho que o recorde do clube são 27 vitórias [no Campeonato], podemos fazer 28 e bater a melhor pontuação. Se queremos vencer o próximo título, precisamos que toda a gente tenha ritmo e esteja preparada. Há muita coisa para ganhar. Foi um dia especial mas já passou”, referiu no início da conferência.