Se perguntassem a Diogo Pinto o que pretendia para a época de 2023/24, provavelmente o guarda-redes não iria muito além de um “continuar a evoluir”. A presença em partidas da equipa B estaria sempre assegurada, a chamada às seleções jovens de Portugal também com a passagem ao escalão Sub-20 também, tudo o resto poderia chegar como um acréscimo. Chegou mesmo. E se até agora tinha sido apenas o miúdo de Felgueiras que chegou a Alcochete como residente após um ano em Paços de Ferreira e foi campeão de iniciados nos Sub-15, agora passa a ter no currículo o título de vencedor da Primeira Liga de seniores de 2023/24.

Paulinho, o mestre de cerimónias de uma festa que não acaba (a crónica do Estoril-Sporting)

Além de ter a particularidade de ser o primeiro jogador natural de Felgueiras a sagrar-se campeão, Diogo Pinto juntou-se também a um lote de respeito no Sporting como o oitavo guardião mais novo a estrear-se na baliza dos leões, segundo este século apenas superado por Rui Patrício que, devido às ausências de Ricardo e Tiago, fez a estreia na Madeira frente ao Marítimo e defendeu até uma grande penalidade. Na lista leonina estão também Carlos Ferreira, Caeiro, Carlos Gomes, Vítor Damas, João Dores e Rui Correia.

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“O [Diogo] Pinto vai ser o titular, o Francisco [Silva] vai estar no banco e o [Guilherme] Pires como terceiro guarda-redes. Confiamos em todos. Temos o objetivo de ajudar um rapaz que teve o crescimento todo aqui. Vai estrear-se pela equipa principal. É um peso grande, obviamente que o contexto vai ajudar, porque já fomos campeões. Todos sabem que ele está preparado para nos ajudar a manter jogos sem sofrer golos”, apontara Rúben Amorim em conferência de imprensa antes da deslocação ao Estoril, aproveitando a ausência por lesão de Franco Israel, operado ao joelho depois do triunfo dos leões com o Portimonense, e a fase de recuperação que Antonio Adán ainda atravessa apontando sobretudo para a final da Taça de Portugal. E a estreia acabou não só com a baliza “fechada” num jogo sem muito trabalho mas também com um prémio.

Aos 19 anos, Diogo Pinto, um jovem muito acarinhado na Academia pela humildade e vontade de trabalhar diária desde que chegou para disputar o Campeonato Distrital de iniciados (primeiro ano, Sub-14), teve dois episódios que “agarraram” um pouco mais todos os responsáveis do Sporting, de técnicos a funcionários, passando pelos diretores da formação. E um é daqueles que não mais o guarda-redes irá esquecer.

Logo à cabeça, por uma decisão difícil que teve de tomar mas onde acabou por imperar a razão. Quando tinha ainda 15 anos (ou seja, antes de assinar o primeiro contrato profissional) e começava a entrar nas primeiras convocatórias das seleções jovens, Diogo Pinto teve o condão de impressionar alguns olheiros internacionais pelas qualidades na baliza e pela estatura que já apresentava, tendo sido alvo de uma sondagem pelo Manchester City para poder reforçar as camadas jovens da equipa inglesa. Não aceitou, ficou em Alcochete e assinou a ligação como profissional aos 16 anos com possibilidade de prolongamento a longo prazo.

Mais tarde, em 2020, Diogo Pinto teve um episódio que ficará para sempre. Dentro de um comboio Alfa Pendular que seguia de Lisboa para Braga para visitar a família, o guarda-redes viu-se envolvido num aparatoso incidente em Soure num choque com uma máquina ferroviária que fez mesmo duas vítimas. “Vinha na primeira carruagem, a que estava colada à cabina do maquinista,e que descarrilou. Estava a dormir e acordei com um estrondo muito grande. Bati com a cabeça em algum lado e desmaiei por uns segundos. Só me lembro de voltar a ter consciência e de ver tudo partido, os bancos fora dos sítios e pessoas em muito mau estado”, contou na altura o jovem guarda-redes, que recebeu de imediato nesse dia o apoio não só do clube mas também do departamento de psicologia antes de regressar a Alcochete.

Diogo Pinto teve uma estreia sem muito trabalho (com uma bola no poste) e manteve a baliza em branco FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

“Ia na direção da marcha do comboio. Tive muita sorte em relação a outras pessoas. Tenho um olho bastante inchado e o corpo um pouco pisado mas bastava estar no banco ao lado… Acordei e vi um senhor com o queixo deformado e a língua rasgada. Depois vi também pessoas com as pernas partidas. Eu e um outro senhor partimos uma janela e uma senhora, que é enfermeira, prestou auxílio. Tentámos ajudar quem conseguimos mas algumas pessoas tinham ferimentos graves e tiveram de esperar pelos bombeiros. Há já dez anos que ando de comboio e nunca tinha vivido nada semelhante. Vou evitar usar esse meio de transporte, porque vai-me vir tudo à cabeça”, acrescentou ainda Diogo Pinto sobre esse acidente em Soure.

Este sábado no Estoril, que ficou marcado também pela estreia de Miguel Menino na equipa A dos verde e brancos, Diogo Pinto não só foi titular sem sofrer golos como teve direito a receber de Paulinho o prémio de MVP do jogo, falando na zona de entrevistas rápidas da SportTV sobre o encontro. “É um dia inesquecível para mim. Estou há sete anos no Sporting, ando há 12 anos no futebol. Trabalhei muito para este momento, é um sonho, parece que não estou a acreditar. Que venham muitos mais. Soube que ia jogar quando Franco Israel se lesionou. Preparei-me mentalmente, o mister ajudou-me e a equipa técnica também, o Ádan deu-me conselhos, o Franco também. Deixaram-me tranquilo e foi chegar aqui e fazer o meu trabalho”, referiu.

“É um grupo incrível, este ano trabalhei mais tempo com eles e só tenho de agradecer, porque são jogadores e pessoas fantásticas. Segredo do sucesso? Todos pensavam que o Sporting tinha um plantel inferior aos outros, demos a resposta que temos um plantel incrível. Podem falar o que quiserem, somos campeões nacionais. Ser um dia titular? É o meu objetivo desde que comecei a minha ligação aos 12 anos. Espero continuar aqui mais anos, porque é aqui que eu sou feliz”, acrescentou ainda Diogo Pinto.