Vila Nova de Famalicão tem pouco mais de cem mil habitantes. Mas é o concelho que mais exporta no norte do país e o terceiro a nível nacional, só superado por Lisboa e Palmela. Particularmente dinâmica em áreas como a indústria automóvel, têxtil, metalomecânica e agroalimentar, a região registou, ao longo de 2023, um novo recorde de exportações, sobretudo para Espanha, França, Alemanha, Itália, EUA e China.

Para debater a razão deste sucesso e a necessidade de não “adormecer” à sombra dele, a Câmara Municipal de Famalicão promoveu a Semana da Inovação e Ciência, que ontem terminou e a que a Rádio Observador se associou, com um dia de emissão em direto a partir de um estúdio montado na Praceta Cupertino de Miranda.  Um lugar simbólico, atendendo ao tema em discussão, uma vez que tomou o nome de um dos mais importantes empresários portugueses do século XX, nascido nesta cidade em 1892.

A emissão começou de manhã, com o Contra-Corrente, com as participações de Braz Costa, diretor-geral do CITEVE, Raquel Vieira de Castro, CEO da Vieira e Pedro Carreira, administrador da Continental Mabor. E porque o tema era a capacidade de inovar, José Manuel Fernandes salientou que Portugal tem registado progressos, mas a um ritmo menor do que os outros países europeus: “Se evoluímos em matéria de capacitação de recursos humanos, com um aumento significativo do número de doutorados, por exemplo, persistimos noutras fragilidades, algumas culturais.” Entre os fatores que o publisher do Observador apontou contam-se as dificuldades com o capital de risco e a falta de uma regulação que agilize a entrada de novas ideias no mercado.

E o que tem Vila Nova de Famalicão a dizer sobre isto? Pedro Carreira, da Continental Mabor, considera que a aposta na inovação tecnologica é determinante para o seu setor, de tal maneira que a unidade que dirige já a exporta para todo o grupo, a nível internacional. No entanto, vai dizendo que, embora haja uma grande melhoria ao nível dos recursos humanos, Portugal tem descurado o chamado ensino profissional, capaz de capacitar técnicos de nível médio.

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António Braz Costa, diretor-geral do CITEVE (laboratório que trabalha soluções tecnológicas para a industria têxtil), defendeu a importância de as empresas serem auto-sustentáveis, até porque “nem sempre a administração central do Estado percebe os problemas que esta lentidão implica para os empresários”. E deu o exemplo da estrutura que dirige: “O CITEVE só existe porque vende serviços a empresas. Se estivéssemos à espera de fundos canalizados através do Estado, já tínhamos fechado portas.”

Apesar do sucesso de oito décadas da Vieira (em cujo portfolio estão as famosas bolachas Maria), a CEO, Raquel Vieira de Castro (ainda da família do fundador, já que esta continua a ser uma empresa familiar) declarou que “a economia portuguesa tem um problema de escala, o que pode ser crítico”. Ainda assim, a Vieira aposta na “ligação com a comunidade e com a região” e, segundo revelou, “já resistiu a várias propostas de deslocalização”.

Outro bom exemplo, com sede na pequena freguesia de Lousado,  concelho de Vila Nova de Famalicão, é a Leica Portugal, que está em Portugal há 51 anos. Pedro Oliveira, CEO da empresa, apontou “um ritmo de crescimento de 25% ao ano e um investimento anual na investigação na ordem dos 7,5%”.  Da capacidade de inovar, diz, “depende a manutenção da fábrica portuguesa” da conhecida marca de câmaras fotográficas e instrumentos óticos. Determinantes para este sucesso são, em seu entender, dois parceiros locais: “O município, que tem uma boa estratégia para as empresas” e as universidades (Minho e Porto estão perto), “que mudaram de mindset nas últimas décadas e fazem da inovação tecnológica uma área prioritária”.

Pelo estúdio da Rádio Observador passaram ainda Mário Passos, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, eurodeputado recentemente eleito e antigo autarca, e Ricardo Simões, diretor de inovação da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte.

Ao longo do dia estiveram também presentes no local Cristina Marvão, fundadora do projeto O Eixo do Jazz, que divulga este género musical na região (e na vizinha Galiza, em colaboração com associações locais) e Vítor Paneira, antiga glória do futebol do Benfica e da Seleção Nacional.