O crânio humano mais antigo descoberto em Portugal, com 400.000 anos e encontrado na gruta da Aroeira, está pela primeira vez em exposição, sendo a peça central do novo museu de Torres Novas, concelho onde foi descoberto em 2014.
“Para nós era imperativo poder fazê-lo aqui. Nós conseguimos que ele ficasse exposto pela primeira vez em Torres Novas e criámos as condições necessárias para que isso pudesse acontecer, porque ele foi encontrado em Torres Novas e, para nós, enquanto concelho, é de uma relevância extrema”, disse à agência Lusa Elvira Sequeira, vereadora da Cultura na Câmara Municipal de Torres Novas.
A autarca sublinhou que o concelho tem “vestígios absolutamente extraordinários que importa salientar e mostrar ao mundo”.
O mais antigo fóssil humano até hoje encontrado em Portugal, o “Crânio da Aroeira”, teve o arqueólogo João Zilhão como responsável pelas escavações, no complexo arqueológico do sistema cársico da nascente do Almonda.
Este crânio humano de 400 mil anos é “um dos poucos dessa época encontrados no mundo” e “o mais antigo fóssil humano encontrado até hoje em Portugal”, segundo a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).
Nunca se tinha encontrado um fóssil humano da altura média do Pleistoceno, que cobre o período desde há 2,5 milhões de anos até há 11,5 mil anos, num local tão ocidental da Europa, sendo este “o mais antigo fóssil encontrado em território português e um dos mais antigos da Europa”, disse, então, João Zilhão à Lusa.
O achado arqueológico foi alvo de “trabalhos de estudo e restauro” na Universidade Complutense de Madrid, por uma equipa liderada por Juan Luis Arsuaga, tendo sido entregue ao Museu Nacional de Arqueologia em 2018, onde esteve até hoje.
Filipa Rodrigues, responsável pelo núcleo museológico torrejano e que integrava a equipa de arqueólogos à data da descoberta, destacou à Lusa a importância do “achado”, frisando que, “por si só, a identificação de crânios ou de fósseis humanos com esta antiguidade é um acontecimento raro” a nível mundial.
“Este crânio é revestido de uma enorme importância, quer do ponto de vista do estudo da evolução humana, pelas características morfológicas que apresenta, mas sobretudo pelo sítio arqueológico onde foi identificado e por todo o contexto que permite fazer um estudo multidisciplinar das características desta época, designadamente dos utensílios que eram usados pelos humanos que ocuparam aquele local e da fauna que caçaram”, acrescentou.
Trata-se de um antepassado “a meio caminho entre o ‘homo erectus’, que apareceu em África há entre 1,5 e dois milhões de anos e os mais recentes, a que chamamos Neandertais na Europa e modernos em África”, tendo sido encontrado nesta gruta, onde os arqueólogos trabalham há mais de 30 anos.
O local da descoberta “tem potencial, pelas condições geológicas, para ter vestígios de todas as épocas do último meio milhão de anos”, sendo que, na gruta da Aroeira, foram encontrados também restos de animais e ferramentas de pedra, como machados.
O fóssil, recuperado em 2014, foi retirado do local incrustado num bloco único de sedimentos e levado para um centro de investigação em Espanha, onde os especialistas o conseguiram separar ao cabo de dois anos de trabalho.
O núcleo museológico “Cerca da Vila”, inaugurado este mês, estrutura-se em três espaços distintos a partir do mote “Um rio, um território, uma história humana”, com uma mostra expositiva de achados arqueológicos desde a Pré-História (400.000 anos) até ao final da Idade Média (século XV), sendo o “Crânio da Aroeira” o ponto de partida para a divulgação da história da evolução humana.