“Muitos portugueses, e não só, têm-me escrito mensagens a pedir para eu continuar. Depois de uma época tão difícil como esta, já me passou pela cabeça atirar a toalha ao chão. Senti-me muito cansado, às vezes sem cumprir objetivos, mas este empurrão ajuda bastante. Sinceramente, não senti peso nenhum. Foi o que sempre disse: havia uma probabilidade de conseguir uma medalha, mas também havia de não conseguir nenhuma. Saiu esta última probabilidade que não queríamos. Senti que dei o meu máximo mas não dei o meu melhor. Quando assim é, ficamos tristes. Queria trazer uma medalha para Portugal. Saí de lá sem qualquer medalha mas com a moral muito em alta pelo apoio de todos os portugueses.”
Mais de 48 horas depois da sexta posição na final A do K1 1.000 metros, a mochila de Fernando Pimenta no regresso a Portugal trazia mais do que a desilusão de não ter chegado à terceira medalha em Jogos depois da prata no K2 1.000 com Emanuel Silva em Londres-2012 e do bronze em K1 1.000 em Tóquio-2020. Essa estava lá, embrulhada na tristeza pela morte de José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, mas a forma como o canoísta nacional foi apoiado ainda em Paris por amigos, familiares, antigos e atuais adversários e amantes da modalidade e posteriormente recebido no aeroporto do Porto e na Câmara Municipal de Ponte de Lima funcionou como um bálsamo para não desistir. E seguia-se um Mundial.
Apesar de ser um Campeonato do Mundo de distâncias não olímpicas com alguns dos principais atletas a preferirem abdicar da competição (o que não aconteceu por exemplo com o checo Josef Dostal, que ganhou a medalha de ouro no K1 1.000 dos Jogos), era mais uma grande prova internacional. Para Fernando Pimenta, chegava e sobrava. Ao longo de toda a carreira, o limiano ganhara um total de 145 medalhas entre Jogos, Mundiais, Europeus e Taças do Mundo mas nem por isso queria desacelerar esse ritmo aos 35 anos, neste caso no final de um ciclo olímpico mais curto de três anos que terminou sem o tão desejado ouro.
Este domingo, em mais um teste para quem não se cansa de ser testado, Pimenta enfrentava três finais em cinco horas e meia. No primeiro, no K1 500, o português passou mais uma vez em primeiro nos 250 metros mas foi superado por Dostal, ficando com a prata e igualando o melhor resultado nacional na distância que pertencia a João Ribeiro em 2021 (melhorando também os bronzes de 2022 e 2023). No segundo, no K4 500 com Teresa Portela, Messias Baptista e Francisco Laia, terminou com o bronze atrás da equipa neutra da Bielorrússia e da Hungria naquela que foi a estreia da prova em Mundiais. Agora, seguia-se o K1 5.000, distância em que o canoísta de Ponte de Lima já tinha cinco medalhas (dois ouros, duas pratas, um bronze).
Até meio da prova, Pimenta e Mads Pedersen, o grande rival do português na competição, andaram juntos. No entanto, o dinamarquês, mais fresco, foi melhor a partir daí e revalidou o ouro, com o limiano a terminar como vice-campeão tal como tinha acontecido em Duisburgo no ano passado. Ao todo, são 148 medalhas em provas internacionais, naquele que foi o final com a chave de prata de um dos melhores dias de sempre da canoagem em que Portugal conquistou cinco medalhas nos Mundiais entre o ouro de Messias Baptista no K1 200, as pratas de Pimenta no K1 500 e no K1 5.000 e de Teresa Portela e Francisca Laia no K2 200 e do bronze de Teresa Portela, Fernando Pimenta, Messias Baptista e Francisca Laia no K4 500 misto.
4 medalhas para Portugal esta manhã no Campeonato do Mundo de Canoagem de distâncias não olímpicas
????Messias Baptista – K1 200m
????Fernando Pimenta – K1 500m
????Teresa Portela e Francisca Laia – K2 200m
????Teresa Portela, Fernando Pimenta, Messias Baptista e Francisca Laia – K4 500m pic.twitter.com/qYaX7F4XMS— Comité Olímpico de Portugal (COP) (@COPPORTUGAL) August 25, 2024
Numa prova que teve várias embarcações ultrapassadas, Mads Pedersen selou a reconquista do título com 22.39,488, com Pimenta a terminar com 22.55,097 e o sueco Joakim Lindberg a ficar com o bronze com a marca de 22.59,119, à frente do húngaro Csaba Istvan Erdossy (23.32,419) e do alemão Nico Paufler (23.45,016). O espanhol Adrian Martín fechou a final no sexto posto com o registo de 23.48,710. O que se segue? Em condições normais, para grande parte dos atletas, férias. No caso de Pimenta, nem por isso: após uma paragem para recuperar forças, vai regressar aos treinos para preparar os Mundiais de maratona…