Portugal acolhe pela primeira vez a reunião internacional de especialistas em tratamentos de tumores renais pediátricos, um cancro que afeta cerca de 20 crianças e adolescentes portugueses por ano, com uma taxa de cura superior a 80%.
A reunião internacional do grupo SIOP-RTSG (Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica – Renal Tumor Study Group), que decorre na segunda e na terça-feira no Porto, “marca um momento histórico para Portugal, oferecendo uma plataforma única para o intercâmbio de conhecimento entre especialistas de renome mundial”, segundo os organizadores do encontro, que reúne representantes de 25 países europeus e oito outros de países como Estados Unidos, Japão e Brasil.
Em declarações à agência Lusa, Nuno Reis Farinha, presidente da Sociedade de Hematologia e Oncologia Pediátrica (SHOP), que organizou a conferência em parceria com a Acreditar – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro e o IPATIMUP – Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, realçou a importância deste evento para reforçar a colaboração e a integração de Portugal nos protocolos de investigação internacionais.
“Nós contamos com o RTSG, que colabora com Portugal quando necessário, nos casos mais complexos em particular, garantindo que as nossas crianças tenham acesso aos melhores tratamentos disponíveis”, afirmou.
O oncologista pediátrico da Unidade Local de Saúde São João, no Porto, começou por explicar que o cancro pediátrico é muito raro, com cerca de 400 novos casos por ano, em contraste com os mais de 60 mil novos diagnósticos anuais em adultos.
Além de raridade há uma grande diversidade de diagnóstico, leucemias, tumores do sistema nervoso central e outros tumores sólidos, “sendo muito difícil para um médico num centro isolado adquirir experiência suficiente para tratar todos os casos”.
Contou que foi, por esta razão, que começou nos Estados Unidos nos anos 50 a formação de grupos que se associaram para partilhar experiências e avançar na investigação e no tratamento do cancro pediátrico, inicialmente nas leucemias, e só assim se conseguiu chegar à cura.
“Desde cedo, ficou evidente que tratar os doentes de acordo com protocolos estabelecidos por grupos internacionais melhora significativamente o prognóstico”, conclui.
Segundo o oncologista, os tumores renais em pediatria são muito raros e diferentes dos do adulto”, adiantando que o mais frequente é o tumor de Wilms ou nefroblastoma, representando 90% dos tumores do rim em crianças.
“Nós curamos mais de 80% dos tumores renais e nalguns casos mais de 90%, mas com tratamentos que podem curar com sequelas. Todos os tumores de Wilms, são submetidos a quimioterapia, cirurgia e nalguns casos radioterapia e nós queremos que essas crianças tenham uma vida normal no futuro”, defendeu, frisando que “a investigação é fundamental não só para a curar, mas curar com qualidade”.
O tratamento do cancro é sempre multidisciplinar, envolvendo oncologistas pediátricos, cirurgiões, radioterapeutas, psicólogos patologistas, geneticistas, patologistas, associações de pais entre numerosos outros que deveriam estar envoltos na investigação e juntar experiências.
“Não podemos esquecer o impacto social significativo do cancro pediátrico. Em crianças com mais de um ano, o cancro é a principal causa de mortalidade, logo após os acidentes”, enfatizou.
No entanto, graças aos avanços no tratamento, consegue-se curar mais de 80% das crianças. Atualmente, aproximadamente um em cada 400 jovens adultos é sobrevivente de cancro pediátrico.
Assinalou ainda que uma criança que desenvolve um tumor renal na infância, que fique com sequelas, terá de conviver com essas consequências ao longo da vida, cuja esperança em muitos casos é igual à do resto da população geral.
Para a SHOP, este encontro representa “uma oportunidade ímpar para fortalecer a colaboração e a integração de Portugal nos protocolos de pesquisa internacionais” e realça a importância dos decisores políticos priorizarem “o apoio a estudos académicos” e incentivarem “a participação em protocolos cooperativos, garantindo que as crianças portuguesas possam ter melhores opções terapêuticas no futuro”.