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"Mare of Easttown". Não podemos (nem queremos) fugir desta cidade nem de Kate Winslet

Este artigo tem mais de 3 anos

A atriz inglesa regressa à televisão como mãe, avó, polícia e mulher implacável. “Mare Of Easttown” é um policial, é um drama, é um retrato de uma América particular e é televisão de luxo.

Kate Winslet, como "Mare", a personagem que dá o título à série da HBO, é soberba, mas não o é sozinha, numa produção que vive da genialidade do seu conjunto
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Kate Winslet, como "Mare", a personagem que dá o título à série da HBO, é soberba, mas não o é sozinha, numa produção que vive da genialidade do seu conjunto

Kate Winslet, como "Mare", a personagem que dá o título à série da HBO, é soberba, mas não o é sozinha, numa produção que vive da genialidade do seu conjunto

Há dez anos, Kate Winslet juntava-se a Todd Haynes (e a Evan Rachel Wood, Guy Pearce, Melissa Leo e Hope Davis) para adaptar o romance de James M. Cain, Mildred Pierce, e transformá-lo numa minissérie de cinco episódios, tantos quantos os Emmys que a produção ganhou nesse ano (um dos quais para Kate Winslet, que também viria a ganhar o Globo de Ouro pelo papel que desempenhou). A minissérie da HBO é ainda hoje uma das melhores do seu catálogo. Passada uma década, Kate Winslet regressa para uma produção HBO, novamente uma minissérie – sete episódios –, e uma criação que tem o nome da protagonista no título. Não é uma série de época, passa-se no presente. Não é um drama, é um policial que tem nas vísceras a vida das cidades pequenas americanas. Mare, a protagonista, vive numa delas. E Mare detesta esta realidade. Vai poder começar a perceber tudo isto a partir desta segunda-feira, 19 de abril, na HBO Portugal.

Vale a pena dizê-lo já: “Mare of Easttown” é um feito de televisão. Não vale a pena fincar a coisa no “é uma das melhores deste ano”. Isto veio para ficar. Kate Winslet é soberba, mas não o é sozinha, há um imenso elenco que aguenta as vísceras daquelas cidades que, mais do que carregarem verdades e mentiras, carregam a inocência, prazer e repulsa de se viver numa comunidade como aquela. Há vantagens e desvantagens – por assim dizer –, bem apontados ao longo da série, de modo direto e eficaz, para que o espectador saiba que a cidade também desempenha um papel importante na ação.

Escrita por Brad Ingelsby e realizada por Craig Zobel (que se juntou já tarde na produção, depois do realizador original, Gavin O’Connor, ter abandonado o barco no início do ano passado), “Mare Of Easttown” é primeiro um policial – as actividades do dia-a-dia tomam conta do primeiro episódio até um homicídio acordar a cidade para os seus fantasmas) — e depois é a história de uma mulher, Mare. Talvez seja o contrário, mas Winslet é tão boa a complicar as contas que confunde o espectador.

[o trailer de “Mare of Easttown”:]

“Mare Of Easttown” tem várias virtudes, a principal passa pela forma como resguarda a verdadeira história da sua protagonista perante o espectador. Vamos conhecendo detalhes da vida de Mare, que surgem como apontamentos (mas que são coisas imensas), e vamos ganhando compaixão pela personagem. Mãe e avó. Divorciada (e o ex-marido vive mesmo em frente à sua casa e, quando a série recomeça, anuncia que se vai casar). Tem uma filha e um neto, o neto tem quatro anos e o pai é o primeiro filho de Mare, que se suicidou dois anos antes dos eventos da série. A mãe da criança é uma toxicodependente em recuperação e quer a custódia da criança. Além de viver com a filha e o neto, Mare partilha também casa com a mãe, interpretada por Jean Smart (sabe tão bem vê-la ao lado de Winslet). Isto são as coisas em casa. E é provável que esteja a faltar algum detalhe.

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Mare é polícia. Seguiu as pisadas do pai, a sua grande referência. Vive a insatisfação de ter ficado naquela América. Não quer aquilo para a filha. Nunca se diz diretamente o que a fez ficar. Mas também não é essencial. O primeiro episódio é um tratado a sobre a insatisfação de Mare. Arranca com um telefonema que a tira da cama para ir tratar de um caso banal, logo a seguir é relembrada que nesse dia é o aniversário do maior feito da sua vida – e, por isso, é capa do jornal local: quando marcou o ponto que deu o campeonato estatal à equipa feminina de basquetebol da sua escola. É uma heroína local, até tem uma alcunha – Lady Hawk –, mas também é a polícia que não conseguiu encontrar a filha de uma amiga – e companheira dessa equipa de basquetebol –, desaparecida há cerca de um ano.

Ao longo do primeiro episódio, Mare arrasta-se para fazer o que quer que seja. Winslet veste a personagem com o peso de uma vida. Mare não está cansada nem farta. Está desiludida com a vida, foi enganada. E sabe que para a frente há algo de melhor (será que há?). Este desalento que se vê na sua existência cria uma empatia imensa. Torna-se um elemento importante para fruir a série e seguir a saga de Mare a seu lado. O espectador coloca a razão de lado, ficará ao lado de Mare, será a própria Mare. E é aqui que percebemos que estamos perante grande televisão.

"Mare of Easttown", com Kate Winslet, Guy Pierce e Angourie Rice, é um policial que termina cada episódio com algo em suspenso, para tirar o tapete ao espectador

Sabemos que Mare não é flor que se cheire – e quando a empatia abafa essa evidência, surge uma personagem a dar o alerta. É uma mulher cheia de erros, que faz coisas lamentáveis e que, até certo ponto, não se percebe o quão manipuladora e má pode ter sido no passado. É humana e age pelo bem, mas por vezes o seu bem sobrepõe-se ao dos outros. E os outros não a perdoam, algumas personagens são implacáveis quando tocam em Mare e no seu passado. Há informações que vão caindo que fazem o espectador desconfiar. Mas depois, a dupla Winslet/Mare volta ao ecrã e há uma mulher que só quer seguir em frente, sem saber como.

Esta pequena América não é deprimente, perdida ou desolada. É pequena, fechada, limitada. É aquela América dos primeiros filmes de David Gordon Green (com quem Craig Zobel trabalhou), onde é permitido filmar coisas lindíssimas nas casas mais feias. Em “Mare Of Easttown” o “lindíssimo” é relativo, talvez inexistente. O caso de homicídio que toma conta da história no final do primeiro episódio envolve uma rapariga adolescente, um acontecimento que põe a descoberto os segredos que habitam a vida de muitas pessoas naquela comunidade e que expõem sem misericórdia o melhor e o pior das personagens. Essa América, onde só se vive, onde só se respira, sem um fim à vista (uma América que serve de exemplo para um mundo inteiro, pois quem apenas vive e respira são as personagens), é a América que quer existir em “Mare Of Easttown”.

É também o palco de uma minissérie notável. Um policial que termina cada episódio com algo em suspenso, para tirar o tapete ao espectador. Parece uma artimanha de jogo sujo num drama que se joga tão limpo, mas a noção de thriller serve para motivar o prazer de voltar: porque há algo de extremamente contido naquela vida – a da cidade e a de Mare – que tira a energia e nos deixa de rastos. Bem-vinda de volta, Kate.

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