Durante muitos anos, mais concretamente uma década, a Bundesliga não passou de um campeonato onde eram 11 contra 11 e no final ganhava o Bayern. Não era por isso que passava a ser uma competição menos atrativa, pelo contrário, mas a previsibilidade do vencedor era demasiado evidente perante várias outras formações que tentavam ser as melhores extra Bayern para assegurarem lugar nos grupos da Champions. Na última temporada, fruto de um trabalho fantástico do técnico Xabi Alonso, tudo ruiu. Por um lado, o Bayer Leverkusen tornou-se um máquina de fazer pontos e sagrou-se pela primeira vez campeão sem consentir derrotas. Por outro, os bávaros, tantas vezes vistos como exemplo a todos os níveis, entraram numa espiral de equívocos que só trouxe maus resultados. Agora surgia o duelo entre a tradição e a nova era.
O Bayern acabou por ter uma aposta “fora da caixa” para recuperar a hegemonia do futebol alemão, vendo no inexperiente Vincent Kompany a figura certa para estabilizar o clube depois de toda a convulsão interna dos últimos anos. O antigo capitão do Manchester City e da Bélgica, que como treinador passou pelo Anderlecht e pelo Burnley (com a subida à Premier League e posterior descida ao Championship), chegou envolto num mar de dúvidas mas foi mostrando trabalho nos encontros iniciais, não só pelas seis vitórias consecutivas mas também, ou sobretudo, pelas goleadas frente a Kiel (6-1), Dínamo Zagreb (9-2) e Werder Bremen (6-0) com um volume ofensivo que faz dos bávaros uma das equipas com mais golos neste arranque de época.
Já o Bayer Leverkusen, que conseguiu segurar Xabi Alonso tendo a ambição de consolidar os farmacêuticos no topo do futebol nacional, até consentiu uma derrota caseira frente ao RB Leipzig (3-2) como não acontecia desde a época de 2022/23 mas nem isso mexeu com a equipa, que recuperou os níveis da temporada passada para variar entre exibições versão “rolo compressor” como aconteceu em Roterdão com o Feyenoord para a Champions (4-0) e triunfos na compensação como na última ronda da Bundesliga com o Wolfsburgo (4-3). Mais uma razão para todas as atenções se centrarem este sábado numa Allianz Arena de novo esgotada.
Com Raphael Guerreiro titular como um falso lateral direito que com bola avança para o meio-campo mais por dentro tendo Olise a dar largura e Kimmich a recuar para uma linha de três no início de construção e João Palhinha de novo no banco, o Bayern entrou a assumir por completo o encontro, remetendo o Bayer ao seu meio-campo, a ter 70% de posse e a fazer alguns remates perigosos por Guerreiro e Olise. No entanto, e como aconteceu em tantos encontros na última temporada, a formação de Xabi Alonso voltou a mostrar a mudança de chip de um clube outrora conhecido como Neverkusen: canto na esquerda do ataque batido por Grimaldo, assistência de Xhaka e remate de Heindrichs sem hipóteses para Manuel Neuer que fez o 1-0 na primeira vez que os visitantes se aproximaram da baliza contrária (31′). Uns jogavam, outros marcavam até aparecer Pavlovic, médio que empatou antes do intervalo com um golo fabuloso de fora da área (38′).
A primeira parte confirmou o que se esperava, o segundo tempo começou da melhor forma e só com muita dose de azar pelo meio o Bayern não conseguiu a reviravolta, com Gnabry a rematar de primeira ao poste após cruzamento de Kane e a desviar na recarga para a trave (48′). Quando Wirtz tocava na bola, o futebol dos visitantes melhorava a olhos vistos mas com um problema – tocava pouco. Assim, com zonas de pressão asfixiantes que não deixavam o Bayer sair, o Bayern dominava e criava oportunidades, com Olise a ver Hradecky a tirar o 2-1 com uma “mancha” (57′), Kimmich e Alphonso Davies a rematarem a rasar o poste e os minutos a passarem até a um empate lisonjeiro para os visitantes e demasiado curto para os visitados.