A 22.ª edição do Cultura Portugal, que decorre habitualmente de setembro a dezembro pelo território espanhol e em Andorra, cruza-se este ano com a iniciativa “Portugal-Espanha: 50 anos de democracia”, uma programação conjunta e cruzada acordada pelos dois países para, até setembro de 2025, celebrar e assinalar o poder e o papel da cultura nos dois processos de democratização, que decorreram em simultâneo.
A edição deste ano do Cultura Portugal arrancou esta quinta-feira em Madrid com a exposição do quadro “Autorretrato num grupo”, de José de Almada Negreiros, no Centro de Arte Rainha Sofia, numa sala em que estão obras de artistas como Salvador Dalí e contígua àquela em que está em permanência “Guernica”, de Pablo Picasso.
“Os museus são poderosas instâncias de combate à desumanidade, à guerra e ao absurdo da violência” e o Rainha Sofía foi “o lugar perfeito para o ato inaugural de uma programação que celebra a revolução portuguesa, os 50 anos de Abril”, disse esta quinta-feira a ministra da Cultura de Portugal, Dalila Rodrigues, no arranque oficial do Cultura Portugal 2024, em Madrid.
Dalila Rodrigues sublinhou que o Rainha Sofía, onde o quadro de Almada Negreiros vai ficar exposto até 06 de janeiro, é um museu com um “papel fundamental à escala ibérica” e que, fundado após o fim da ditadura em Espanha, “resgatou do esquecimento uma vanguarda espanhola atrozmente interrompida pela guerra civil” espanhola (1936-1939).
Almada Negreiros (1893-1970) viveu em Madrid entre 1927 e o início da década de 1930, e foi “um representante das relações artísticas e culturais com Espanha até ao golpe militar de 1936”, destacou a ministra portuguesa.
“Deixou obra em vários lugares da capital, além de colaborações na imprensa e projetos cenográficos”, afirmou, por seu turno, o ministro da Cultura de Espanha, Ernest Urtasun, que esteve também no museu Rainha Sofía.
“A guerra e o abandono apagaram a sua marca em Madrid e impuseram o silêncio. Este novo regresso enche-se de significado porque apela uma memória partilhada entre Espanha e Portugal, porque reforça um vínculo de amizade e porque nos fala dessa criatividade que se sobrepõe sempre às guerras, às ditaduras e à censura”, acrescentou o ministro.
Sobre o Cultura Portugal, organizado anualmente pela embaixada de Portugal em Madrid e que alcança este ano a 22.ª edição, Ernest Urtasun defendeu “que se transformou com os anos num espaço de confluência” para as artes e o pensamento.
“Precisamos de mais espaços como este, precisamos deste tipo de intercâmbio e de diálogo que nos propõe Portugal, para continuar a aprofundar neste elo infalível que a cultura significa para os nossos países”, defendeu o ministro.
Dalila Rodrigues garantiu que os dois governos partilham o desejo de aprofundar as relações ao nível cultural através “não apenas da troca ou do intercâmbio, mas também de projetos conjuntos entre Portugal e Espanha que em breve ganharão corpo”, remetendo novidades para a cimeira ibérica prevista para este mês.
“Nenhuma outra área da atividade humana permite estabelecer relações bilaterais com igual intensidade, com igual interesse, com igual eficácia, com igual beleza”, defendeu a ministra.
As cerca de 70 iniciativas do Cultura Portugal 2024 envolvem mais de 200 artistas e pensadores de diversas áreas.
Além de concertos, exposições, ‘perfomances’ ou debates, Portugal será o país convidado de vários eventos em Espanha nos próximos meses, entre eles, o Festival de Cinema de Sevilha, com uma retrospetiva dedicada ao 25 de Abril; o Festival Eñe de Madrid (literário) e o Ciclo Tramas Europeas, da Biblioteca Nacional de Espanha.
O programa completo do Cultura Portugal 2024 pode ser consultado em https://culturaportugal-espana.es/ .