Foi o Mundial das surpresas, com Espanha e Portugal a caírem logo nos oitavos de final. Foi o Mundial da polémica, com França a perder um jogo em circunstâncias duvidosas para ficar do lado teoricamente mais acessível do quatro. E foi o Mundial da América do Sul, com Argentina e Brasil a cruzarem-se na primeira final de sempre entre as duas seleções.

Do lado da Argentina, o feito era assinalável. Os argentinos ultrapassaram Croácia, Cazaquistão e França nas rondas a eliminar e carimbaram a terceira presença consecutiva no Mundial de futsal, sendo que venceram a de 2016 contra a Rússia e perderam a de 2021 para Portugal. A deste domingo, por motivos óbvios, era especial — e nem os próprios jogadores escondiam o caráter particular do duelo. 

“Vergonha”, “tristeza” e uma questão de honra (ou falta dela): o jogo suspeito que abriu uma polémica no Mundial de futsal

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Acho que é o Clássico mundial do futsal, do futebol. Brasil e Argentina é o jogo que toda a gente quer jogar, que toda a gente quer ver. E para nós é um orgulho estar lá. Sabemos que o Brasil está muito forte neste Mundial, mas vamos tentar ganhar o jogo. É sem dúvida o maior jogo da história do futsal. Acho que é o sonho de qualquer pessoa que nasceu na Argentina ou no Brasil. Sonhamos com jogar um Mundial, jogar uma final e jogar uma final Argentina-Brasil”, disse Alan Brandi, experiente ala que já representou o Benfica.

Do lado do Brasil, o feito era otimista. Os brasileiros eliminaram Costa Rica, Marrocos e Ucrânia e voltaram à final do Mundial de futsal 12 anos depois, já que a última vez que tinham lutado diretamente pela conquista do troféu tinha sido em 2012. Cinco vezes campeão do mundo no espaço de pouco mais de duas décadas, mantendo o estatuto de recordista absoluto, o Brasil via no duelo sul-americano uma oportunidade para alcançar o hexa da forma mais épica possível.

“Acho que os deuses do futsal colocaram este jogo na final. Um Clássico destes, Brasil e Argentina na final de um Mundial… Não há jogo maior do que este. Vamos com tudo, porque o Brasil tem grandes chances de sair campeão”, disse Pito, pivô do Barcelona que foi eleito o melhor jogador do mundo em 2023 e que voltava às opções na final depois de ter falhado os três jogos anteriores devido a uma lesão sofrida contra a Costa Rica.

Ora assim, na Humo Arena do Uzbequistão que recebeu todo o Campeonato do Mundo, Matías Lucuix lançava Nicolás Sarmiento, Kevin Arrieta, Alan Brandi, Ángel Claudino e Pablo Taborda no onze inicial da Argentina, enquanto que Marquinhos Xavier tinha Willian, Dyego, Marcel, Marlon e Rafa Santos nas opções iniciais do Brasil. Na mente de ambos, provavelmente, também estava o último duelo do passado mês de fevereiro, no playoff da Copa América, onde os brasileiros venceram os argentinos.

Já depois de a Ucrânia vencer França ao início da tarde (7-1), garantindo o terceiro lugar do Campeonato do Mundo, o Brasil abriu o marcador ainda nos primeiros minutos da final e por intermédio de Ferrão, que apareceu muito bem ao segundo poste a desviar um livre cobrado na esquerda (6′). Pouco depois, já na segunda metade da primeira parte, os brasileiros aumentaram a vantagem através de Rafa Santos (13′) e foram mesmo para o intervalo a ganhar por dois golos de diferença.

A final voltou para a segunda parte com a mesma lógica da primeira — bastante equilibrada, sem que uma equipa conseguisse superiorizar-se por completo ao adversário e a certeza de que Willian, na baliza do Brasil, ia assumindo o papel de herói do jogo com as consecutivas defesas que realizava às tentativas da Argentina. A equipa de Matías Lucuix lançou o expectável cinco para quatro nos últimos minutos, com Matías Rosa ainda a reduzir a desvantagem a dois minutos do fim (39′), mas os brasileiros conseguiram resguardar a liderança com muito sofrimento até ao apito final.

O Brasil venceu a Argentina na final do Uzbequistão, conquistando o Campeonato do Mundo de futsal pela primeira vez desde 2012 e pela sexta ocasião, alargando ainda mais um recorde que já lhe pertencia. Se os deuses quiseram esta final, como dizia Pito, o Olimpo nunca deixou de estar do lado dos brasileiros.