O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, admitiu esta terça-feira que as faixas BUS se transformaram em parques de estacionamento, pedindo multas mais pesadas para quem estaciona mal do que para quem se esquece de validar no metro.
“Nós abrimos faixas BUS e o que é que acontece? Passado meia hora de abrirmos uma faixa BUS, ela transformou-se num parque de estacionamento”, reconheceu esta terça-feira Rui Moreira num debate sobre mobilidade com o seu homólogo de Lisboa, Carlos Moedas, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, organizado pela Rádio Renascença.
O autarca do Porto disse que hoje em dia “vale a pena” estacionar mal, “porque a multa é pequena”.
“Qualquer pessoa percebe que um desgraçado que anda no metro e que se esqueceu de validar paga 120 euros [de multa], e o tipo que para o Porsche em cima do passeio paga 30? Peço desculpa se isto parece demagógico, mas não é”, vincou.
O autarca do Porto referiu que já fez um pedido à ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, para passar estas competências para os municípios, já que estes regulam o trânsito.
“O carro, durante muito tempo, dominou as cidades. Apropriou-se do espaço público. No Porto, os elétricos acabaram por causa dos carros. Os tróleis acabaram por causa dos carros. Por causa do estacionamento indevido, porque os elétricos não conseguiam circular”, acrescentou.
Atualmente, a circulação de autocarros da STCP (Sociedade Transportes Colectivos do Porto) também é condicionada pelo trânsito, lembrando Rui Moreira que em 2023 atingiu o valor (15,4 quilómetros por hora) mais baixo desde 2005, e “em Lisboa está a acontecer precisamente a mesma coisa”, tendo a Carris perdido mais de 1,2 milhões de quilómetros de serviço, conforme noticiou o jornal Público em junho.
“Isto é provocado porquê? Pelos constrangimentos colocados pelo transporte individual e não só, também pelo aumento exponencial, disparatado, da logística urbana”, considerou Rui Moreira.
Segundo o presidente da autarquia portuense, “a logística urbana é um enorme problema”, já que “anda permanentemente a parar, normalmente, nos corredores BUS”.
“Tudo isto vai ter que ser regulado. Aí sim, deviam dar às cidades instrumentos”, defendeu.
Segundo o presidente da Câmara do Porto, os operadores de logística urbana “devem compreender que o entupimento que se cria na cidade está a obrigar a criar plataformas logísticas em que as pessoas vão ter de ir buscar ao seu cacifo o livro que encomendaram na Amazon”.
“Não pode chegar uma carrinha à sua porta, parar em cima do passeio, tocar à porta, ficar à espera meia hora, para alguém abrir a porta para entregar um pacote da Amazon que tem um metro e dentro tem um livro com 30 centímetros”, considerou.
Para Rui Moreira, “as cidades não aguentam essa pressão, e, ou são capazes de se regenerarem por si, ou depois começa a haver revolta, as próprias pessoas começam-se a revoltar contra isso”.
Já em Lisboa, Carlos Moedas observou que em 2018 havia 300 mil carros a entrar diariamente na capital, e atualmente são “mais ou menos 400 mil”.
“O primeiro ponto que temos de olhar na cidade de Lisboa é como é que evitamos que estes carros entrem em Lisboa”, sendo uma das medidas “mais importantes”, no seu entendimento, a “construção de muitos parques de estacionamento Navegante, ou seja, quem tem o seu passe mensal de transportes, pode deixar o seu carro” sem custo adicional.
A ideia é “deixar os carros à entrada [da cidade] e apanhar transporte, que é o que se faz na maior parte das cidades europeias”.
Em Lisboa, 50% das emissões de dióxido de carbono da cidade devem-se aos transportes, e a autarquia quer reduzir para 34% até 2030, e isso só pode ser feito com transferência modal [passagem do automóvel para o transporte público] de 30% das pessoas.
O autarca de Lisboa defendeu ainda que deveria ser o titular do seu cargo a liderar a sua área metropolitana, já que “representa 80% da economia da região”, mas na homóloga do Porto, Rui Moreira considerou que o Porto não tem a mesma centralidade metropolitana.