O Millennium BCP aumentou em 9,7% os lucros dos primeiros nove meses do ano, para 714 milhões de euros. Deste total, 606 milhões dizem respeito à atividade em Portugal, cujos resultados aumentaram em 8,8%. O banco anunciou, também, que prevê aumentar significativamente os dividendos a pagar aos acionistas nos próximos anos, que podem superar os três mil milhões de euros.
A informação foi comunicada pelo banco em comunicado à CMVM e apresentada pelo presidente da comissão executiva, Miguel Maya, em conferência de imprensa esta quarta-feira na sede do banco no Tagus Park (Oeiras). A conferência de imprensa serviu, também, para apresentar as principais linhas do Plano Estratégico do banco para 2025-2028.
Esse plano estratégico prevê que o banco passe a distribuir “até 75%” dos lucros aos acionistas, 50% através de dividendos, muito mais do que os 30% que são o dividend payout atualmente em vigor. A restante parte dessa remuneração acionista poderá ser feita, em vez de dividendos, através de programas de recompra de ações – que são outra forma de valorizar os títulos detidos pelos acionistas, reduzindo o número de ações existentes (contribuindo para aumentar o valor de cada uma).
O BCP vai, aliás, propor aos supervisores avançar em breve com um programa de recompra de ações equivalente a 25% do que vierem a ser os lucros de 2024.
O Millennium BCP, o segundo maior banco a operar em Portugal e o único que tem as ações cotadas na bolsa, estabelece como prioridade “assegurar rentabilidade acima do custo de capital ao longo do ciclo, remunerando adequadamente os acionistas, sem prescindir de um balanço robusto e resiliente”.
A expectativa do banco é ter entre quatro e 4,5 mil milhões de euros em lucros acumulados entre 2025 e 2028 e “até 75%” desse resultado líquido será entregue aos acionistas através da distribuição de dividendos – ou seja, potencialmente mais de três mil milhões de euros a entregar aos acionistas até 2028. Essa distribuição está sujeita “à aprovação do supervisor e concretização dos objetivos de capital e de negócio em Portugal e na área internacional assim como atingir objetivo de CET1 [rácio de capital] definido”, acautela o banco.
Questionado sobre se o aumento do dividendo visa “defender” o banco de eventuais ofertas de aquisição vindas de outros bancos, Miguel Maya disse que a prioridade é ter “acionistas satisfeitos”. “O banco precisa de acionistas. E o nosso papel não é estar preocupado com o acionista A, B ou C mas com todos os acionistas. E a melhor proteção do banco é ter acionistas satisfeitos com o banco“, disse o gestor.
Os principais acionistas do BCP são a angolana Sonangol e os chineses da Fosun. A chinesa Fosun tem vindo a reduzir a participação no BCP e a Sonangol tem em curso um plano de vendas de participações não estratégicas, o que pode significar uma redução da posição no banco.
Margem financeira pára de subir mas ainda suporta resultados
Apesar da descida das taxas de juro nos últimos meses, a margem financeira manteve-se praticamente estável nos primeiros nove meses do ano em 2.111 milhões de euros.
Esta é, em termos simples, a diferença entre aquilo que o banco cobra nos créditos que concede e os seus custos de financiamento (depósitos dos clientes, grosso modo). A estabilização da margem financeira estará relacionada com o facto de a descida dos juros se refletir de forma lenta no cálculos das prestações pagas pelos clientes, que são revistas apenas nos prazos definidos (regra geral, três, seis ou 12 meses).
A cobrança de comissões aumentou 4% para 602 milhões de euros e os custos operacionais saltaram quase 11% para 947 milhões de euros, com Miguel Maya a salientar que é, em parte, um reflexo do aumento da inflação que se viveu recentemente.
Na desagregação por trimestres, o banco baixou os lucros para 229 milhões no trimestre, em relação aos 251 milhões do segundo e 234 milhões do primeiro trimestre. No terceiro trimestre de 2023, o BCP tinha tido lucros de 228 milhões de euros.
Garantia pública “muito importante” para um segmento de jovens
Miguel Maya, questionado sobre a garantia pública no crédito à habitação aos jovens, reiterou que considera “a medida globalmente positiva” mas “não é algo que resolva o problema de todos os jovens nem o problema da habitação em Portugal”.
Porém, “contribui para que um conjunto de jovens que estão a entrar no mercado de trabalho e não têm suporte familiar para ajudar a pagar uma entrada para uma casa, possam não ter de constituir uma poupança ao mesmo tempo que pagam rendas”, salienta o gestor.
“Para esse segmento, é muito importante” poder contar com a garantia pública que permite financiar até 100% a compra de casa, desde que salvaguardados os limites como os da taxa de esforço máxima.
Questionado pelo Observador sobre se esses créditos vão ter spreads mais elevados, cobrados aos clientes, Miguel Maya salientou que “o spread é definido em função do risco do cliente. Temos um spread anunciado e depois cada cliente é um caso”. Porém, “obviamente que o valor do ativo subjacente pondera, obviamente que pondera” na análise da margem de risco que o banco propõe ao cliente.
A grande vantagem da garantia pública é permitir o acesso a pessoas que estavam excluídas do mercado”, afirmou Miguel Maya.
O presidente do BCP acrescentou que o impacto da descida do IRC, prevista na proposta de Orçamento do Estado para 2025, é “absolutamente irrelevante” para o banco, mas considerou que um aliviar da carga fiscal em Portugal será benéfico, acautelando que isso aconteça com contas públicas equilibradas.
“Vemos com satisfação que a carga fiscal em Portugal, nomeadamente sobre o setor empresarial, possa descer […] tudo o que contribua para a economia portuguesa é bom para o BCP”, disse Miguel Maya. Isso é importante, acrescentou, “na medida em que as contas públicas permaneçam equilibradas”, já que esse é “o valor mais importante”.