Cristiano Amon, o CEO e presidente da Qualcomm, esteve na Web Summit para falar sobre uma área onde a empresa quer crescer: a inteligência artificial (IA) generativa. Um campo que, segundo o executivo, tem potencial para transformar a forma como interagimos com a tecnologia ao ponto de deixarmos de pensar em aplicações.
“Acho que passámos de um ciclo em que estava tudo conectado, tínhamos a ligação móvel e o wi-fi. Mas agora vamos para a próxima geração de computação”, começou por dizer à plateia. A entrada em palco foi feita em português, com um “muito obrigado” dirigido aos compatriotas brasileiros — a avaliar pelos aplausos, uma maioria na plateia do Meo Arena.
A Qualcomm já não é só a empresa que produz os processadores Snapdragon para smartphones Android. Após a diversificação de negócio, também já está no segmento dos computadores e até na indústria automóvel. No PC, produzem alguns dos componentes dos PC Copilot, equipamentos com sistema operativo Windows, que estão a ser desenvolvidos por uma série de fabricantes e que incluem funcionalidades de IA.
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O executivo brasileiro, que está na empresa há quase 21 anos, considerou que o desenvolvimento rápido da indústria de IA irá permitir uma nova estratégia de computação que, acredita, ainda só “está no início”. Na visão do executivo, se hoje pensamos num smartphone e na lógica de aplicações, com a IA generativa esses dois conceitos vão ser substituídos.
“A IA generativa é a nova interface do utilizador, porque agora os humanos podem falar para um computador usando linguagem natural”, declarou. Ou seja, os computadores estão a falar a mesma língua que nós. “É uma construção diferente e ainda estamos a pensar nisso.”
Deu alguns exemplos práticos. “Na IA como interface, não precisam de abrir uma aplicação do banco, basta perguntar: ‘quais foram as minhas três últimas transações’. Quero ir às compras e usar um cartão. Basta perguntar à IA se tem saldo. Ainda é mais interessante quando pensarem que a IA é multimodal”, afirmou, referindo-se à capacidade de reconhecer imagem ou som. “Por exemplo, poder apontar o telefone a uma conta num papel e dizer ‘paga isto'”.
O executivo considera que é um salto em relação à atual maneira de interagir com a tecnologia, uma evolução comparável à transição dos telemóveis com funcionalidades limitadas (feature phones) para os smartphones.
Já fora do palco da Web Summit, em conferência de imprensa, detalhou que “se tivesse de apostar, dentro de dois anos” já será possível ver uma diferença no mercado neste tipo de interações.
Cristiano Amon declarou ainda que considera que a IA vai ser “um grande reinício” para desafiar as empresas já instaladas e que há “oportunidades” do lado das startups. “Quem é líder hoje pode não o ser amanhã.”
CEO afasta preocupações com Trump e tensão geopolítica
O CEO da Qualcomm foi diplomático e sintético na resposta à questão sobre o que espera que mude com o regresso da administração Trump à Casa Branca. “A nossa empresa, que está muito focada em inovação disruptiva, tornou-se relevante para muitas indústrias e acho que nos temos saído bem globalmente, independentemente da administração norte-americana”, declarou. “O nosso foco é como podemos criar a melhor tecnologia possível e vamos continuar a fazer isso.”
O regresso de Trump ao poder também adensa as dúvidas sobre um agravamento da tensão entre a China e os EUA, quando os dois países querem liderar em tecnologia. Amon lembrou que a tensão geopolítica “não é nova” para a empresa, argumentando que a Qualcomm, uma multinacional norte-americanamm conseguiu crescer na China. “O que posso dizer é que, do ponto vista da Qualcomm, à medida que crescemos e diversificámos a empresa e passámos a ser relevante em mais indústrias além do mobile — nos PC, na área automóvel, computação espacial, industrial — o nosso negócio na China expandiu-se e estamos a trabalhar com mais empresas na China.”
“Uma empresa que tem uma tecnologia líder vai ter uma forte presença na China. Até à data, temos conseguido ter a sorte de expandir com muitos parceiros chineses e acho que não fomos impactados pelas atuais relações entre China e EUA”, vincou. “E repito o que digo muitas vezes: as empresas privadas, especialmente os negócios dos EUA e que têm relações comerciais com a China, servem de fator de estabilidade nas relações internacionais.”