Málaga marca o fim de uma era no ténis. A realização da fase final da Taça Davis está incontornavelmente marcada pela despedida de Rafael Nadal dos courts de ténis, levando ao sul de Espanha um fenómeno sem precedentes na última competição da temporada. Contudo, a despedida oficial do astro espanhol não é a única que acontecerá ao longo desta semana. A cumprir a última temporada como árbitro, Carlos Bernardes também se vai retirar após a Taça Davis.
E o que têm em comum Rafael e Carlos? A primeira resposta é evidente, já que falamos de duas figuras do ténis das últimas décadas e de dois nomes que vão colocar um ponto final no seu percurso na mesma competição. Ainda assim, a ligação não se fica por aí e, ao contrário do que possa parecer, não é lá muito famosa. O árbitro brasileiro é conhecido pelos adeptos espanhóis — e a imprensa — como o grande inimigo do tenista espanhol e, nos jogos em que se cruzaram, foram vários os episódios de confrontos verbais entre ambos.
Um desses principais momentos remonta a 2010 e à ATP Finals. Carlos Bernardes foi o árbitro de cadeira de um jogo entre Rafa Nadal e o checo Tomás Berdych e, numa altura em que o primeiro set estava a chegar ao fim, Nadal reclamou que o rival tinha colocado a bola fora, mas devolveu-a para o outro lado da rede, antes de desistir da jogada. A tecnologia do “olho de falcão” viria a confirmar que a bola tinha mesmo tocado na linha e o árbitro considerou que o ponto pertencia ao checo. Perante isso, Nadal demonstrou toda a sua indignação e começou uma troca de palavras acesa com o brasileiro. “Não quero jogar assim. Estás a dizer-me uma barbaridade, Carlos”, repetiu o maiorquino, que viria a vencer por 2-0, diversas vezes.
[A discussão entre Nadal e Bernardes em 2010]
Porém, a tensão entre ambos não ficou por aí e continuou nos anos seguintes. No Rio Open de 2015, Nadal enfrentou Pablo Cuevas e voltou a mostrar-se insatisfeito com uma decisão de Carlos Bernardes. “Queria trocar de calções e pedi tempo para ir ao balneário, mas ele [o árbitro] disse-me que só tinha 15 segundos. Pedi então para trocar em campo e ele disse que podia, mas que ia receber uma advertência por perda de tempo. Na Austrália vi como eles partiram as raquetes e não aconteceu nada. Parece que é melhor partir uma raquete do que demorar alguns segundos”, revelou Rafa na altura.
No mesmo torneio e no jogo seguinte, frente a Fabio Fognini, nas meias-finais, Bernardes voltou a ser protagonista ao atribuir duas advertências a Nadal por este não cumprir o tempo de serviço. “Vou pedir que nunca mais me arbitres porque não consigo lidar contigo. Não tenho nenhum problema contigo, mas não aguento mais. És quem me mete mais pressão em todo o circuito, sem dúvida… Não tens razão”, comentou o espanhol. Com o tempo, com o avançar das carreiras e com o aparecimento da tecnologia no ténis, as polémicas entre ambos diminuíram.
[O vídeo da discussão em 2015, no Rio de Janeiro]
Certo é que, apesar de todos esses momentos, Carlos Bernardes é um dos principais árbitros do circuito e esteve envolvido em mais de oito mil encontros no ATP, do qual se despediu no fim de semana, nas ATP Finals. Esteve presente nas finais do US Open entre 2006 e 2008 e em Wimbledon em 2011. Em 2o21 sofreu um enfarte durante o Open da Austrália e o seu futuro vai passar por apoiar quem está no início da carreira de árbitro. “O ténis hoje é diferente com as decisões tecnológicas. Não falamos tanto com os jogadores. Não há a necessidade de anular ou explicar as decisões. Gostei da pressão de tomar a decisão certa. Agora, mesmo que ache que a bola está fora, fico sentado e deixo a tecnologia decidir”, explicou.
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— José Morgado (@josemorgado) November 17, 2024