José Manuel Araújo sentiu que este era o momento de presidir ao Comité Olímpico de Portugal (COP), apontando como grande desafio o aumento de recursos, nomeadamente através do reforço do investimento privado no organismo.

Secretário-geral do COP desde março de 2013, nos três mandatos da presidência de José Manuel Constantino, José Manuel Araújo começa por revelar, em entrevista à agência Lusa, que foram “diversas as razões” que o fizeram avançar com uma candidatura às eleições de março.

“Talvez a maior de todas tenha sido todo o tempo que tenho dedicado ao dirigismo desportivo, já desde os tempos da Federação de Ginástica, e depois do envolvimento que tive nestes últimos três ciclos olímpicos. São, naturalmente, um motivo de sentir que há um momento agora para eu presidir ao Comité Olímpico”, pontuou.

No dirigismo desportivo nacional, presidiu à Mesa da Assembleia Geral da Federação de Ginástica de Portugal, entre 2004 e 2012, tendo ainda integrado o Conselho Nacional do Desporto (2011 a 2013) e o Conselho de Arbitragem Desportiva do Tribunal Arbitral do Desporto (2015 a 2023).

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Foi depois de Tóquio2020 que a ideia de candidatar-se à presidência do COP começou a ‘amadurecer’, mas “uma decisão mais profunda e direta aconteceu há cerca de um ano”, com José Manuel Araújo a não ver como “um contra” que a sua candidatura seja encarada como de continuidade.

“Toda a gente elogia o trabalho do COP nestes ciclos e eu faço parte dessa equipa que conseguiu esse conjunto de excelentes resultados. Portanto, essa participação na equipa penso que me dá este crédito de achar que posso continuar algum trabalho, mas tenho motivação para fazer mais, para pegar na experiência que tenho e acrescentar mais alguma coisa, pegar em áreas que acho que estão menos desenvolvidas e que devem ser vistas com maior atenção”, destacou.

Entre estas, destaca como prioritárias “o apoio à área técnica”, em resposta a uma necessidade identificada pelas federações, que se repercutiria também nas Esperanças Olímpicas, um projeto que, na sua opinião, precisa de maior investimento.

“É preciso afetar uma parte da preparação olímpica às Esperanças Olímpicas. Nós sempre o fizemos, mas, na verdade, executámo-lo abaixo do que pretendemos. Esse é um dos focos, é poder ter nas Esperanças Olímpicas um sinal claro de que é preciso ajudar os jovens a manter-se no alto rendimento, a chegar depois aos Jogos Olímpicos”, identificou.

Outra das prioridades da sua candidatura é o reforço da colaboração com as federações desportivas, insistindo que é preciso que os presidentes desses organismos “se juntem mais”, nomeadamente em cimeiras que “abordem determinadas áreas temáticas” e das quais possam sair “boas práticas”, mas também “uma voz clara”.

No mesmo sentido, quer ter os diretores técnicos das federações a conversar uns com os outros e a encontrar pontos de conhecimento que “os façam crescer mais em termos de desenvolvimento desportivo”.

No entanto, o seu maior desafio será mesmo melhorar as condições financeiras para atletas, treinadores e federações, o que pode ser alcançado através da potencialização da marca Comité Olímpico de Portugal.

“O financiamento privado pode e deve ser aumentado. Acho que o COP tem uma marca forte, uma marca reconhecida. É uma marca que não entra em competição com as restantes modalidades, mas é uma marca que pode atrair mais investimento privado e, ao atrair, o nosso objetivo é um só: nós queremos acabar o ano com zero de saldo”, revelou.

Araújo trabalhará para que as empresas percebam o importante que é estarem associados ao COP, mas pretende também que, ao nível das políticas públicas, haja um reconhecimento de que o apoio ao desporto pode ser “beneficiado fiscalmente pelo Estado”.

“Se conseguirmos juntar as duas coisas, acho que temos as condições certas para crescer, para aumentar as receitas do COP e afetá-las integralmente, naturalmente, às federações, aos atletas, aos treinadores”, resumiu.

Se for eleito presidente, o lisboeta de 60 anos quer que o organismo assuma um papel ativo no desenho de modelo de desporto em Portugal, assente nos clubes e “solidário”, em que as receitas principais sejam afetadas depois à formação.

“O objetivo é que os clubes tenham condições para ter também os seus dirigentes e os dirigentes tenham também um sinal do Estado no reconhecimento do seu estatuto de dirigente voluntário e associativo”, completou.

O Estado deve também perceber que tem de investir mais no desporto, na opinião de Araújo. “Esse investimento há de ser um salto qualitativo, que esperamos que num determinado momento um Governo assuma, mas vamos sempre vivendo com esta queixa permanente de que os investimentos ou o crescimento do apoio é relativamente curto”, concluiu.