Pela primeira vez, exceção feita ao pós-jogo de estreia com o Amarante, João Pereira ouvia um apito inicial depois de uma vitória. O Sporting colocou um ponto final nas semanas horribilis ao bater o Boavista, apesar de muitas dificuldades e de mais dois golos sofridos, e esta quarta-feira recebia o Santa Clara na Taça de Portugal — mas os dias de trabalho em cima de um triunfo permitiam ter mais confiança. 

Os leões recebiam um adversário com quem perderam há pouco mais de duas semanas, naquela que foi a primeira derrota de João Pereira e também a primeira derrota do Sporting no Campeonato, e sabiam que o jogo a eliminar colocava em causa um óbvio objetivo da temporada do clube. Tudo numa semana em que, para além da complexa vitória contra o Boavista, os leões viram o Benfica escorregar contra o AVS — ou seja, garantiram que dependem apenas de si próprios para chegar ao dérbi de Alvalade na liderança isolada.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Sporting-Santa Clara, 2-1 (após prolongamento)

Oitavos de final da Taça de Portugal

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Hélder Malheiro (AF Lisboa)

Sporting: Franco Israel, Eduardo Quaresma (Mauro Couto, 105′), Debast (Diomande, 83′), Matheus Reis (Jeremiah St. Juste, 72′), Geny Catamo (Conrad Harder, 72′), Hjulmand, João Simões, Geovany Quenda (Iván Fresneda, 90+6′), Maxi Araújo, Gyökeres, Francisco Trincão

Suplentes não utilizados: Kovacevic, Marcus Edwards, Ricardo Esgaio, Henrique Arreiol

Treinador: João Pereira

Santa Clara: Neneca, Diogo Calila (Matheus Pereira, 70′), Adriano Firmino (Daniel Borges, 62′), Pedro Ferreira (Bruno Almeida, 105′), João Costa (Gabriel Silva, 45′), Frederico Venâncio, Sidney Lima, Guilherme Ramos, Lucas Soares, Vinícius Lopes (Serginho, 62′), Gustavo Klismahn (Alisson Safira, 80′)

Suplentes não utilizados: Gabriel Batista, Luís Rocha, Habraão

Treinador: Vasco Matos

Golos: Conrad Harder (74′), Pedro Ferreira (90+8′), Gyökeres (113′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Ricardo Esgaio (63′ e 63′), a Matheus Pereira (73′), a Hjulmand (79′), a Maxi Araújo (79′), a Gustavo Klismahn (79′), a Guilherme Ramos (83′), a Sidney Lima (90′), a Conrad Harder (90+6′), a Serginho (90+6′), a Gabriel Silva (111′), a Trincão (116′), a Jeremiah St. Juste (119′ e 121′); cartão vermelho por acumulação a Ricardo Esgaio (63′), a Jeremiah St. Juste (121′)

“Desde a primeira derrota que tivemos uma grande vontade de querer dar uma resposta. Uma grande vontade de querer regressar às vitórias e um empenho constante. Se virmos todos os jogos entrámos sempre muito bem. Foi a resposta que os jogadores queriam dar. Sinceramente, acho que estamos no bom caminho e estáveis a nível emocional para dar continuidade aos bons resultados. A tranquilidade que sentimos hoje é a do primeiro dia, nada mudou. Estamos focados no trabalho que temos para fazer, seja agora ou no primeiro dia”, explicou o adjunto Tiago Teixeira, que substituiu João Pereira na conferência de imprensa, na antevisão.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Neste contexto, João Pereira não fazia qualquer alteração ao onze inicial que defrontou o Boavista e mantinha Geovany Quenda e Trincão no apoio a Gyökeres, com Maxi Araújo e Geny Catamo nos corredores e João Simões, na ausência de Daniel Bragança e Morita, a fazer companhia a Hjulmand no meio-campo. Gonçalo Inácio ainda não estava disponível e St. Juste e Diomande começavam no banco, com Matheus Reis, Debast e Eduardo Quaresma a formarem o trio de centrais. Do outro lado, num Santa Clara que vinha de uma derrota contra o Arouca para o Campeonato, Vasco Matos lançava João Costa, Gustavo e Vinícius no setor mais adiantado.

Diogo Calila teve a primeira situação de algum perigo nos instantes iniciais, com um remate de fora de área que passou ao lado (4′), mas a verdade é que os primeiros minutos da primeira parte demonstraram desde logo o que seria o jogo. O Sporting tinha a iniciativa de forma crónica, com o Santa Clara a manter-se no próprio meio-campo de forma quase permanente, mas a verdade é que nenhuma das equipas conseguia aproximar-se das balizas contrárias e a partida disputava-se quase única e exclusivamente no meio-campo.

Os leões ficaram perto do golo pela primeira vez à passagem do quarto de hora inicial, com Geovany Quenda a protagonizar um falhanço impressionante: Debast descobriu Geny Catamo na direita, o moçambicano cruzou rasteiro para o segundo poste e o jovem ala, quase sozinho e com a baliza praticamente deserta, atirou ao lado (16′). O Santa Clara pouco ou nada ia criando, mas a verdade é que o Sporting também não conseguia desequilibrar pelo corredor central e era forçado a lateralizar muito o jogo, algo que não favorecia a criação de oportunidades.

Matheus Reis desenhou um pontapé de bicicleta que passou por cima (30′), Geny Catamo rematou de fora de área para Neneca encaixar (37′) e Hjulmand acabou por conseguir marcar já perto do intervalo, mas o golo foi anulado porque o dinamarquês dominou a bola com o braço antes de atirar para a baliza (40′). Até ao fim da primeira parte, já pouco ou nada aconteceu, com os açorianos a explorarem essencialmente a transição rápida e Franco Israel a terminar os 45 minutos iniciais sem ser incomodado.

Ao intervalo, a falta de inspiração do Sporting era notória. A equipa de João Pereira não conseguia encontrar espaços em zona interior, muito por mérito do posicionamento do Santa Clara, e tentava criar ligações nos corredores para depois terminar os lances através de cruzamentos, uma situação que é algo contra-natura para os leões. No fim da primeira parte, Sporting e Santa Clara estavam empatados sem golos.

Vasco Matos mexeu logo ao intervalo, trocando João Costa por Gabriel Silva, e Quenda teve a primeira situação de perigo da segunda parte com um remate de fora de área que passou por cima (49′). A lógica do jogo manteve-se muito semelhante ao que tinha sido a primeira parte, mas o avançar dos minutos deixava o Santa Clara cada vez mais desinteressado do ataque e das investidas ofensivas, ainda que o Sporting não conseguisse propriamente sufocar os açorianos ou retirar consequências da posse de bola.

Trincão teve mais uma grande oportunidade para marcar, ao rematar na área e ver um defesa do Santa Clara evitar o golo em cima da linha (59′), e Ricardo Esgaio acabou por ser expulso por acumulação de cartões amarelos enquanto aquecia, depois de discutir com Hélder Malheiro. João Pereira mexeu pela primeira vez nesta fase, trocando Geny Catamo e Matheus Reis por Conrad Harder e St. Juste, e Quenda recuou para o corredor direito.

E o impacto das substituições foi imediato. Quenda cruzou a partir da direita, Neneca teve uma péssima abordagem ao lance e Harder aproveitou para desviar para a baliza, abrindo o marcador instantes depois de entrar em campo (74′). João Pereira trocou Debast por Diomande, Gabriel Silva cabeceou por cima na cara de Franco Israel (90+4′) e o guarda-redes ainda defendeu um remate de Guilherme Ramos (90+7′), com o Santa Clara a acabar mesmo por empatar já bem dentro do período de descontos, por Pedro Ferreira (90+8′), atirando a eliminatória para o prolongamento.

Trincão (100′) e Gyökeres (103′) tiveram oportunidades para marcar na primeira parte da meia-hora extra, João Pereira estreou o jovem Mauro Couto e os leões acabaram por conseguir carimbar a vitória já à beira das grandes penalidades. Frederico Venâncio cometeu um erro colossal ao atrasar para Neneca, Gyökeres aproveitou para contornar o guarda-redes e desviou para a baliza deserta (113′).

No fim, o Sporting venceu o Santa Clara em Alvalade após prolongamento e garantiu o apuramento para os quartos de final da Taça de Portugal, somando a segunda vitória consecutiva e mantendo um dos principais objetivos da temporada. Apesar de ter sido Gyökeres a marcar o golo decisivo, Conrad Harder mostrou mais uma vez que pode construir triunfos a partir do banco de suplentes — e passou de fazer perguntas aos adeptos, na sequência da derrota na Bélgica na Liga dos Campeões, para ser um das respostas de João Pereira.