Pior era complicado. Apesar da eliminação nos quartos da Taça da Liga frente ao Tottenham, que se seguiu ao triunfo no dérbi de Manchester com o City, o United ia conseguindo dar alguns passos seguros, assentes num sistema cada vez mais consolidado e com princípios identitários que mostravam um trabalho em fase de construção. O que faltava? Uma série de triunfos consecutivos, sendo que a receção ao Bournemouth surgia como possibilidade de somar a segunda vitória seguida na Premier League. Se antes as coisas pareciam estar a correr bem, ali, durante 90 minutos, tudo o que havia para correr mal foi ainda pior – os red devils tiveram a pior derrota da era Ruben Amorim em Old Trafford e a cara de desalento era evidente no português.

Fez sentido os adeptos saírem mais cedo: Bournemouth humilha United em Old Trafford e Amorim soma terceira derrota em quatro jogos na Liga

“É difícil procurar duas ou três vitórias mas estamos a tentar. Foi um jogo duro para nós. Sofremos de novo nos lances de bola parada e estávamos um pouco nervosos, senti isso no estádio. Tentámos marcar alguns golos mas foi um jogo complicado. Temos de seguir em frente. Se olharmos para o jogo, estávamos a defender bem antes do primeiro golo, tivemos oportunidades. Se tivéssemos conseguido marcar nessa fase, o jogo poderia ter sido diferente. Temos de controlar melhor estas situações, concentrarmo-nos na tarefa e não no que se sente no estádio. É a única forma que conheço para focar os meus jogadores. Temos de sofrer outra vez mas vamos tentar ganhar, vamos fazer isso até ao fim”, comentou no jogo antes do Natal.

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Amorim chegou, viu e ficou com o pior dos recordes: United chega ao Natal pela primeira vez na segunda metade da classificação

Agora, e pela primeira vez como treinador, Amorim vivia o seu Boxing Day com rotinas e costumes opostos aos que teve em Portugal, jogando logo a seguir à quadra natalícia sabendo que teria ainda mais uma partida até ao final do ano civil frente ao Newcastle. Se antes existia quase uma obrigação de vitória para “ganhar tempo” para o natural período de adaptação às novas ideias, o 13.º lugar com mais golos sofridos do que marcados reforçava essa necessidade na deslocação aos West Midlands para defrontar o Wolves.

“Sei que é um momento difícil, que esta situação não pode ser normal neste clube. Estamos focados no presente, em melhorar para que isto não volte a acontecer no futuro. Sei o que estou a fazer, temos um projeto mas também sei que temos de ganhar. O Vítor [Pereira] é um excelente treinador e vai preparar muito bem o jogo. Treinou em Portugal, ganhou dois Campeonatos, fez um ótimo trabalho no FC Porto. Sei que ele é muito bom, vai preparar muito bem o jogo e entender o nosso momento. Ele está também num momento difícil mas conhece os grandes clubes, por isso percebe que, para nós, este é mesmo um momento difícil. Vamos tentar tirar vantagem mas ele vai estar preparado para o jogo”, comentou na antecâmara do duelo com Vítor Pereira, que teve um grande arranque no Wolverhampton com uma vitória por 3-0.

“Só quero ganhar jogos. Sei que há um projeto a longo prazo e estamos concentrados nele mas também sei que nos grandes clubes não se tem muito tempo e é preciso ganhar jogos. Tenho uma ideia clara da responsabilidade que tenho aqui. Sei o que vou fazer, isso é muito claro para mim. É por isso que me sinto tão… Não quero dizer relaxado porque estou muito frustrado como os adeptos mas sei o que fazer. Temos de resolver alguns problemas passo a passo e encontrar respostas para tudo. Mas é um momento muito difícil, compreendemos os adeptos e vamos lutar contra isso. Boxing Day? Só quero ganhar… Não quero saber do Natal, nada. Só estou concentrado em ganhar o próximo jogo. Somos privilegiados, podemos jogar no Boxing Day para dar alguma alegria aos adeptos, e queremos muito ganhar outro jogo”, acrescentou Ruben Amorim.

Mais uma vez nessa preparação ficou de fora Marcus Rashford. “É uma situação difícil. Entendo que estes jogadores têm muitas pessoas à sua volta, a tomar decisões que não são as primeiras ideias do jogador. Estou sempre aqui para ajudar o Marcus como a qualquer outro jogador. Tenho de fazer o que for necessário. Foram eles quem decidiu dar a entrevista, não foi apenas o Marcus. Percebo isso. Como treinador, foco-me na performance e na forma como treinam. O resto, é melhor que seja o clube a tratar disso quando a hora chegar. De momento o meu foco é melhorar o Marcus e nós precisamos de um jogador talentoso como ele. Esqueci a entrevista e vejo apenas o que acontece dentro do campo”, referiu ainda antes de serem conhecidas as equipas oficiais, onde mais uma vez não entrou o internacional inglês de 27 anos.

O Boxing Day estava a correr da melhor forma para os treinadores portugueses. O Nottingham Forest de Nuno Espírito Santo recebeu e venceu o Tottenham por 1-0, subindo com isso à condição até ao terceiro lugar da Premier League com 34 pontos. Já o Fulham de Marco Silva causou a grande surpresa da jornada, com uma reviravolta por 2-1 frente ao Chelsea em Stamford Bridge que deixou equipa na oitava posição (e mais caminho aberto para o Liverpool reforçar a liderança). Agora, apenas um poderia sair a sorrir entre Vítor Pereira e Ruben Amorim. E foi o ex-timoneiro do Al Shabab que levou a melhor, tirando o Wolves da zona de descida entre a terceira derrota seguida do United – quarta nos últimos cinco jogos da Premier.

Em mais um sinal daquilo que começa a ser este United, Ruben Amorim fez apenas duas mexidas na equipa apesar da derrota frente ao Bournemouth, deixando de fora Malacia e Zirkzee para lançar Leny Yoro (o que fez com que Diogo Dalot caísse na ala esquerda com Mazraoui à direita) e Höjlund. Os visitantes entraram de forma compacta, tentaram assumir o controlo da partida mas foram sentindo grandes dificuldades em criar perigo frente a um Wolverhampton muito assente na dupla de médios André e João Gomes que tinha à sua frente a unidade em melhor momento da equipa, Matheus Cunha. Assim, a primeira oportunidade surgiu apenas a meio da metade inicial, com Diogo Dalot a combinar com Bruno Fernandes e a rematar em jeito de fora da área para grande defesa de José Sá (20′). Do lado do Wolves, Strand Larsen, num cabeceamento nas costas de Maguire após cruzamento da direita, obrigou Onana a desviar para canto (25′).

Os minutos foram passando sem que o Manchester United conseguisse materializar o aparente domínio em ações no último terço e com o Wolverhampton a crescer em termos ofensivos no jogo, ganhando lances de bola parada que são sempre uma possível oportunidade, soltando mais os seus alas e criando outra grande situação de perigo num remate a mais de 30 metros de Nelson Semedo em zona central que tocou ainda em Höjlund e passou muito perto da baliza de Onana. O intervalo chegaria mesmo sem golos mas com Vítor Pereira a levar várias notas no pequeno bloco que teve sempre na mão e Ruben Amorim de cabeça mais baixa a pensar o que fazer no descanso para conseguir espevitar uma equipa que continuava a cair na inércia.

Mais uma vez, tal como aconteceu nos últimos jogos, a reentrada em campo voltou a trazer más notícias ao United: Bruno Fernandes, que já tinha um amarelo por falta sobre Matheus Cunha, teve outra entrada mais imprudente sobre Nelson Semedo e foi expulso logo aos 46′, sendo que o cenário só não ficou pior porque o desvio de cabeça de Larsen para golo após cruzamento de Nelson Semedo foi anulado por fora de jogo (50′). Com menos uma unidade, o United dava mostras de ser uma equipa ainda mais curta, com pouca capacidade de saída e muitas vezes a ficar acantonada em 30 metros perante a pressão do Wolverhampton. O golo era uma questão de tempo e voltou a surgir da forma mais caricata possível, com Matheus Cunha a marcar um canto à esquerda com aquele jeito a bater a bola para fazer o efeito como quem está a brincar com os amigos na praia e a ver a trajetória entrar direta na baliza com Onana mais uma vez aos papéis (58′).

Ruben Amorim tentava reorganizar a equipa, trocando pouco depois Yoro e os dois médios por Casemiro, Eriksen e Antony, soltando mais na frente Diallo para apoiar Höjlund em busca de um autêntico milagre de Natal perante a superioridade do Wolves no jogo e no resultado. Houve ameaças, sempre por mera recriação individual como aconteceu num lance em que Antony fez a diagonal para dentro a partir da direita e atirou às malhas laterais (68′), uma tentativa final de subir linhas para o derradeiro forcing nos minutos finais mas o 1-0 iria mexer para a equipa da casa, com Hwang Hee-chan a marcar aos 90+8′ numa situação de 2×0 com Matheus Cunha e com o United a descer mais uma posição para 14.º só com 22 pontos em 18 jogos.