Aluno atacado foi, a pé, até ao hospital com machado espetado no ombro

Um dos feridos no atentado na escola de Suzano foi José Vitor Lemos, de 19 anos, que percorreu 300 metros a pé…com um machado no ombro. O machado foi uma das armas utilizadas pelos suspeitos durante o ataque à escola.

José Lemos foi atendido no hospital mais próximo da escola, tendo sido submetido a uma intervenção cirúrgica para remover o machado. Atualmente, o aluno está em recuperação e com um quadro clínico estável.

A mãe do jovem brasileiro disse à Folha de São Paulo que, quando recebeu a chamada do hospital, pensou que o filho se tinha lesionado a jogar basquetebol e só quando se apercebeu das movimentações das forças de emergência é que soube o que tinha acontecido. “Quando já estava a chegar, fiquei tão nervosa que tive que deixar o carro e ir a pé até ao hospital”, disse a mãe, Sandra Ramos.

O aluno da escola Raul Brasil disse aos pais que estava com a namorada durante o intervalo e que quando se aperceberam da confusão cada um fugiu para um lado. A namorada do jovem acabou por ter melhor sorte e não ficou ferida no ataque.

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O aluno que escapou por pouco

Rosni Marcelo Grotliwed, de 15 anos, estava com os colegas a comer o lanche no intervalo da manhã quando ouviu “três pipocos”. Começou a correr para fora da cantina, mas cruzou-se com os dois adolescentes encapuzados que invadiram a Escola Professor Raul Brasil, em São Paulo, e mataram pelo menos dez pessoas. Um tinha uma arma de fogo, o outro uma faca. Quando encontraram Rosni e os amigos a tentar escapar, os atiradores correram atrás deles para matá-los.

Durante a perseguição, um dos atacantes ficou perto o suficiente de Rosni para o tentar esfaquear. Mas o rapaz conseguiu desviar-se e a faca acabou por atingir um dos amigos no ombro. Enquanto isso, o atirador armado com a pistola disparou contra outra pessoa, que caiu ferida no chão. Foi nesse momento que um golpe de sorte deu vantagem a Rosni: as munições da arma de um dos atiradores desprenderam-se depois desse tiro e os atiradores ficaram para trás a tentar recuperá-las. Rosni acelerou o passo, saltou por cima do muro da escola e escapou ao ataque.

[“Vídeo: como aconteceu o tiroteio no Brasil]

A cozinheira que salvou 50

A história de Rosni Marcelo Grotliwed é um dos testemunhos de sobrevivência do ataque numa escola na cidade de Suzano, conta o G1. Outra história é a de Silmara Cristina Silva de Moraes, a cozinheira da escola que ajudou 50 estudantes a refugiarem-se na cozinha atrás de barricadas construídas com frigoríficos, congeladores e mesas. “Parecia que procuravam alguém. Iam para lá e para cá, atiravam muito. Nós não vimos nada. A gente baixou-se e ficou a escutar o movimento. Isso durou entre 10 e 15 minutos, mais ou menos”, contabiliza.

Ao G1, a mulher de 54 anos explica que estava a servir os lanches quando os tiros começaram e as crianças entraram em pânico. “Abrimos a cozinha e começámos a colocar o maior número de crianças lá dentro. Fechámos tudo e pedimos para eles se deitarem no chão”, recorda Silmara. Foi então que construiu a barricada em redor das crianças e as manteve o mais afastadas possível da janela: “Eles estavam próximos e a cozinha é rodeada de janelas. Ficámos todos recuados a um canto só. Se acontecesse alguma coisa ele ia pegar muita gente”, conclui a cozinheira.

A professora que pensou que eram bombinhas de Carnaval

Ali perto, uma rapariga de 12 anos já estava a começar a primeira aula da manhã quando ouviu estrondos. “Professora, isso são tiros”, terá dito a estudante, no relato que a mãe, que não se identificou, fez ao G1. A professora disse que não, que provavelmente eram bombinhas de Carnaval a rebentar ali perto. A turma riu-se, mas a descontração acabaria quando a professora se aproximou da porta da sala de aula para a fechar. “Ela espreitou no corredor e saiu. Voltou depois, fechou a porta com força e disse aos alunos para fazer pouco barulho”, explicou a mãe.

Um dos atiradores aproximava-se da sala e queria arrombar a porta para entrar. Não conseguiu: a professora e os estudantes refugiados no interior fizeram força contra a porta, tornando-a demasiado pesada para ser aberta pelo atirador, que acabou por desistir. Foi então que a rapariga ligou para a mãe: “Corre para cá. Está a haver um tiroteio, tem feridos e tem mortos”, disse ela, enquanto atravessa os corredores da escola em busca de um lugar seguro. Encontrou-o e salvou-se.

A aluna que também pensou que eram bombinhas e se escondeu na casa de banho

Maria Lima, de 16 anos, estava a sair da casa de banho quando ouviu o barulho de explosão. “Pensei que fossem os mais novos a brincar a atirar bombinhas. Estão sempre a fazer isso”, disse a aluna antes de se aperceber que eram tiros, “ao fim de dez ou quinze explosões”.

Quando se apercebeu que eram tiros voltou à casa de banho onde esteve protegida com outras dez pessoas. “Estávamos escondidos, a rezar, a pedir para viver”, relatou a aluna ao Estadão. Maria Lima esteve 30 a 40 minutos escondida com outros colegas e chegou a contactar a policia.

A aluna disse ainda que, “apesar de existirem algumas brigas entre alunos”, não era nada sério que tenha chegado a merecer a atenção da direção.

“Fechámos a porta com um armário até o barulho dos tiros passar”

Paulo Silva, professor na escola que foi alvo do ataque e com responsabilidades na direção, conta que quando estava a ir para a sala de professores e os alunos para o pátio quando se deparou com o barulho dos tiros. “Foi desesperante. Quando vi que eram tiros, corri para uma sala e gritei para todos entrarem”, conta o professor ao Folha de S. Paulo, acrescentando que fechou a porta “com um armário, até o barulho dos tiros passar”, enquanto ficou de vigia à janela.

O professor, que já estava a par de que a diretora da escola tinha sido atingida quando se resguardou na sala, diz que quando viu a policia a chegar já os alunos baleados com gravidade estavam mortos.

Paulo Silva diz que a maioria dos alunos entrou em desespero porque tentou ligar à policia mas não estava a obter resposta e outros acabaram por perder o telemóvel no meio da confusão, não conseguindo entrar em contacto com os pais. “Foi um enorme sentimento de impotência”, desabafou o professor.

Os vizinhos que se aperceberam do pânico dos alunos

Os funcionários dos estabelecimentos comerciais perto da escola Raul Brasil também pensaram inicialmente que o barulho se devia a bombinhas de uma qualquer festa e só o barulho das crianças a correr nas ruas os alertou para uma situação mais problemática.

Um funcionário de um colégio perto da escola atacada disse à Veja que só se apercebeu de que o barulho vinha de disparos quando viu os gritos dos alunos a correr. Já um funcionário da Cáritas Regional de Suzano disse à mesma publicação que não ouviu os tiros mas apenas o barulho dos alunos em fuga.