Dois antigos alunos de uma escola estadual Professor Raul Brasil, em São Paulo, no Brasil, mataram esta quarta-feira oito pessoas num tiroteio, cinco delas adolescentes, duas funcionárias e o dono de uma agência de aluguer de carros. Estariam a planear o massacre inspirando-se em ataques similares em escolas nos Estados Unidos da América.

Depois de matarem dez pessoas, os assassinos cumpriram o que o G1 diz ser o plano desde o início: o atirador mais novo, Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, matou o mais velho, Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, confirmou a polícia ao jornal brasileiro. Guilherme Taucci Monteiro suicidou-se de seguida.

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Os cinco adolescentes vítimas mortais frequentavam todos o ensino secundário, havendo ainda onze feridos contabilizados. A primeira vítima mortal foi o dono de um stand de aluguer de carros, onde os dois atiradores roubaram um carro para se dirigirem à escola. Quando lá chegaram, Guilherme e Luiz, ainda de cara destapada, mataram duas funcionárias, tendo de seguida atirado indiscriminadamente nas restantes vítimas. Pretendiam entrar ainda noutra sala, mas foram confrontados pela polícia e, visto que não teriam hipótese de escapar, um dos atiradores disparou sobre o outro, matando-se de seguida, segundo avança a Policia Militar. Ainda não são conhecidas as motivações que levaram a este tiroteio.

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O Ministério Público de São Paulo, de acordo com o G1, vai investigar o ataque como um caso de terrorismo. Será possível que uma organização criminosa tenha colaborado para “eventual cometimento de crimes relacionados a terrorismo doméstico, como apontam os primeiros indícios”. A acusação está a cargo do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, liderado pelo procurador Rafael Ribeiro do Val.

Famílias velam os corpos esta quinta-feira

O velório dos corpos das vítimas está a decorrer nesta quinta-feira, 14 de março de 2019, na Arena Suzano no Parque Max Feffer. O G1 avança que o prefeito de São Paulo, Suzano Rodrigo Ashiuchi, está presente no velório. Há coroas de flores espalhadas pelo espaço aberto ao público, mas com uma zona gradeada reservada aos familiares das vítimas. Centenas de pessoas estão presentes, indica o R7.

Marielena Umezo, funcionária da escola, será sepultada só no sábado, 16 de março, após o regresso de um filho, que está em viajem. O aluno Douglas Murilo Celestino tem um velório separado, numa igreja evangélica próxima. O corpo do tio de um dos atiradores, morto para lhe roubarem um carro, vai ser sepultado ainda hoje no Cemitério Colina do Ypês, também em Suzano.

Durante a madrugada grupos religiosos juntaram-se perto da escola para rezar pelas vítimas (Victor Moriyama/Getty Images)

A prefeitura de Suzano — o correspondente à Câmara Municipal — decretou três dias de luto municipal e a suspensão das aulas na cidade, que vão ser retomadas apenas na próxima segunda-feira, 18 de março. O governador de São Paulo deu ordem à procuradoria do estado para criar um sistema de compensação financeira para as famílias das vítimas, noticia a Folha de São Paulo.

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A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo enviou psicologos e psquisiatras para prestar apoio continuado às famílias, articulando-se com  o Centro de Ação Psicossocial do Estado. Também memrbos do Grupo de Resgate dos Bombeiros e do Grupamento Aéreo reforçaram o corpo médico local.

O equipamento que os atiradores traziam

De acordo com as declarações de um comandante da Polícia Militar, um dos atiradores tinha um cinto com carregadores de reserva e uma bolsa de couro para a arma, calças pretas, luvas pretas, uma máscara preta no rosto com o desenho de uma caveira e um relógio “posto ao contrário, de forma tática, como se costuma ver entre os militares”. O segundo atirador tinha uma camisa azul aos quadrados, luvas e calças pretas. Há imagens dos atiradores já mortos a serem divulgados por órgãos de comunicação social brasileiros.

A polícia encontrou uma besta com flechas, armas revolver calibre 38, garrafas com cocktails molotov e uma mala com fios. Desconfiou-se, inicialmente, que haveria explosivos, mas uma perícia feita com mais detalhe determinou que foi um falso alarme.

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Os indivíduos chegaram à escola num carro branco roubado e antes de entrarem na escola aparentavam estar bastante calmos. Dentro do edifício, o tiroteio ocorreu num corredor. Foi também nesse local que os dois adolescentes se terão suicidado. “Estavam prestes a entrar numa sala com dezenos de alunos”, referiu o secretário de segurança publica de São Paulo em conferência de imprensa.

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Veja aqui em baixo o vídeo de uma câmara de segurança que mostra o momento em que os dois adolescentes chegaram de automóvel à escola.

E aqui em baixo o momento em que as crianças fogem do edifício.

https://twitter.com/osvarela/status/1105853482039472128

“Vieram atrás de nós e começaram a matar muita gente”

“Estávamos na hora do lanche e a comer normalmente quando escutámos três disparos e tentámos correr para saltar o muro do CEL”, explicou ao G1 Rosni Marcelo Grotliwed, um estudante de 15 anos que assistiu ao ataque. “Eles vieram atrás de nós e começaram a matar muita gente”, descreveu. Foi no momento em que a arma descarregou que os estudantes começaram a correr. Rosni contou ainda como viu um seu amigo “levar uma facada no ombro e outro levar um tiro”. “Fugi com um amigo para minha casa e voltei para buscar um amigo”, explicou.

Silmara Cristina Silva de Moraes, a cozinheira da escola, contou ao G1 que ajudou a esconder 50 estudantes na cozinha durante ataque. “Estávamos a servir a merenda e começaram os ‘pipoco’ [tiros] e as crianças entraram em pânico. Abrimos a cozinha e começamos a colocar o maior número de crianças lá dentro. Fechámos tudo e pedimos para eles se deitarem no chão”, descreveu a mulher de 54 anos.

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Enquanto isso, Silmara construiu uma barricada com os frigoríficos e mesas, na esperança de se proteger dos atiradores porque não sabiam onde estavam. “Parecia que procuravam alguém. Iam para lá e para cá atirando muito. Nós não vimos nada. A gente baixou-se e ficou a escutar o movimento. Isso durou entre 10 a 15 minutos, mais ou menos”, acrescentou.

Construída a barricada, Silmara fechou a porta da cozinha. Nessa altura, os atiradores “estavam próximos e a cozinha é rodeada de janela”. “A gente deitou no chão e nós não vimos nada com medo que atirassem. Mas graças a Deus nada aconteceu com quem não estava lá. Ficamos recuados a um canto só, se acontecesse alguma coisa ele ia pegar muita gente”, termina.

Alerta de tiroteio na vizinhança da escola antes do ataque

O alerta para o ataque foi dado às 9h30 desta quarta-feira. Pouco antes, a Polícia Militar já tinha sido chamada para uma “ocorrência com uma arma de fogo” nas proximidades da escola. Tratava-se do dono de um stand de aluguer de carros que tinha sido assassinado pelos dois jovens que, de seguida, roubaram um carro para se dirigirem à escola.

Quando chegaram à escola, de cara destapada, a primeira vítima mortal foi a coordenadora, que os recebeu à entrada. Como se tratavam de dois antigos alunos, a entrada no estabelecimento de ensino terá sido mais fácil. Depois de atirarem contra a coordenadora, outra funcionária foi atingida para que os dois pudessem continuar pela escola dentro. Foi aí que começaram a disparar de forma indiscriminada contra os alunos que se encontravam na escola, acabando por matar cinco deles. Segundo o secretário de segurança publica de São Paulo, terá sido Guilherme, o mais novo, a fazer os disparos.

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Mais tarde, os dois jovens pretendiam entrar numa sala para continuar o tiroteio, mas foram impedidos pelas forças de segurança. Face a esse cenário, e sabendo que não iriam conseguir escapar, um dos autores do ataque atirou sobre o outro, matando-se de seguida.

Um homem que vive próximo à escola, que fica Rua Octávio Miguel da Silva, disse ao jornal que o ataque aconteceu pouco depois do início das aulas pela manhã. “Moro ao lado, vi um tumulto e fui para lá. Cheguei e estava uma confusão, várias crianças a sair a correr com sangue. Um desespero. Professores, funcionários, todos a correr”, recorda o homem, que se identificou como Juliano.

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O governador João Doria, o secretário Estadual da Educação, o secretário de Segurança e o coronel Marcelo Vieira Salles da Polícia Militar foram de helicóptero para Suzano. João Doria já tinha reagido ao ataque no Twitter: “Acabo de receber a triste notícia de que crianças foram cruelmente assassinadas na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano. Até ao momento temos informações preliminares. Cancelei toda agenda e estamos a caminho de Suzano para acompanhar o resgate e atendimento aos feridos”.

Bolsonaro reage: “Uma monstruosidade e covardia”

Algumas horas depois do massacre, o Presidente brasileiro deixou uma mensagem de condolências aos familiares das vítimas do “desumano atentado”. “Uma monstruosidade e covardia sem tamanho. Que Deus conforte o coração de todos”, referiu Jair Bolsonaro.

Entretanto, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informou que enviou dois psiquiatras e um psicólogo para dar apoio no atendimento às famílias outras pessoas envolvidas. O governador João Doria decretou três dias de luto oficial no Estado.

Dilma Roussef, antiga presidente do Brasil, também já comentou o caso no Twitter: “A tragédia de Suzano (SP) causa espanto, dor e revolta. Nada pode amenizar o sofrimento das famílias das vítimas. A elas minha solidariedade e meu desejo de que encontrem forças para resistir ao momento mais doloroso de suas vidas”. Noutro tweet, Dilma prossegue: “O absurdo estarrecedor é que, neste trágico dia em que assistimos à morte de 10 pessoas e o ferimento de outras 9, o Presidente da República tenha o desplante de anunciar uma lei propondo maior acesso a armas”.

E termina com uma crítica ao governo de Jair Bolsonaro: “O porte de armas irrestrito e amplamente liberado a toda população vai dar instrumento para que o assassinato massivo se torne endémico e quotidiano. A lei anticrime do ministro Moro é o encontro marcado com tragédias como a de Suzano”.

Os ataques semelhantes no passado

Esta não é a primeira vez que o Brasil assiste a um tiroteio levado a cabo por um jovem dentro da escola, recorda a Folha de São Paulo. Em 2002, um jovem de 17 anos matou duas colegas na escola particular de Sigma. A arma, um revólver de calibre .38, pertencia ao pai, que era polícia. Um ano depois, outro rapaz de 18 anos feriu alunos e funcionários da escola estadual Coronel Benedito Ortiz com arma de fogo e suicidou-se a seguir.

O caso mais recente remonta a outubro de 2017, quando um adolescente de 14 anos matou duas pessoas e feriu quatro com a pistola .40 da mãe, que era agente da Polícia Militar. O rapaz era vítima de bullying, à semelhança do que acontecia num tiroteio em abril de 2011. Nesse ano, um rapaz de 14 anos matou à facada o colega que o maltratava.