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Fábio e Eustáquio, os dois do bigode que ganharam um jogo para barba rija (a crónica do Moreirense-FC Porto)

Este artigo tem mais de 1 ano

Moreirense bloqueou reação do FC Porto, esteve em vantagem mas duas oportunidades em menos de dez minutos fizeram uma reviravolta com dois heróis improváveis que sentem como ninguém o clube (1-2).

Wendell marcou o golo da reviravolta num remate em jeito à entrada da área mas acabou expulso por acumulação nos descontos
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Wendell marcou o golo da reviravolta num remate em jeito à entrada da área mas acabou expulso por acumulação nos descontos

Wendell marcou o golo da reviravolta num remate em jeito à entrada da área mas acabou expulso por acumulação nos descontos

Era um desafio. Era um exame de consistência. Era uma prova de fé. A Supertaça deixou mossa no FC Porto, pelas mais variadas razões. Logo à cabeça, a derrota em si – em Aveiro onde nunca tinha perdido, contra um rival direto que levou a melhor na corrida do último Campeonato, a ser dominado em determinadas fases a partir do momento em que o Benfica voltou à sua fórmula original como uma referência na frente depois de uma entrada que apontava para outro cenário. Depois, pelas expulsões. De Pepe, por conduta violenta sobre Jurásek. De Sérgio Conceição, por protestos com uma decisão de Luís Godinho em período de descontos que levou à mediatizada rábula do “Daqui não saio”. A nova temporada teve uma entrada em falso e seguia-se um dos piores encontros em termos históricos para preparar a redenção desse desaire logo a abrir.

FC Porto consegue reviravolta frente ao Moreirense com golos de Toni Martínez e Wendell e entra a ganhar na Liga

Olhando para o saldo global dos 28 jogos oficiais entre FC Porto e Moreirense entre Campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga, os números não eram assim tão distantes do habitual domínio que os azuis e brancos têm com praticamente todos os conjuntos nacionais: 20 vitórias, apenas duas derrotas, seis igualdades pelo meio. No entanto, as derradeiras visitas ao terreno do campeão da Segunda Liga agora comandado por Rui Borges (Paulo Alves foi o obreiro da subida) têm coincidido sempre com dificuldades que levavam à perda de pontos. Desde a derrota em 2017 que coincidiu com a última partida de Nuno Espírito Santo nos dragões antes da chegada de Sérgio Conceição ao comando dos azuis e brancos, os vice-campeões ganharam somente dois dos cinco encontros tendo dois empates, em 2019 e 2021, que se revelaram determinantes para perder o comboio das ambições do título. Por tudo isso, esperava-se uma deslocação de risco máximo.

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Da parte dos adeptos, a confiança mantinha-se intacta e os quase 2.000 bilhetes que foram colocados à venda para a partida voaram em cerca de quatro horas no Dragão. Do lado dos responsáveis, tudo continuava igual mesmo após o insucesso da Supertaça, sendo que é no Campeonato e na possibilidade de levar mais longe a campanha europeia que entroncam todas as atenções. Ainda assim, e perante todo o contexto, havia quase uma pressão extra por uma resposta à altura que permitisse acalmar as hostes azuis e brancas numa época de particular importância tendo em conta não só o esforço que a SAD tem feito para segurar todos os jogadores habitualmente titulares (além de garantir alguns reforços para o plantel, entre Fran Navarro, Nico González e Alan Varela, que deve ser apresentado esta terça-feira) mas também o facto de apenas o campeão ter entrada direta na Liga dos Campeões, com tudo o que isso tem de impacto a nível de Orçamento.

Em paralelo com isso, e pelo que se percebera das palavras de Sérgio Conceição na conferência de antevisão à Supertaça com o Benfica, percorria no balneário dos azuis e brancos a vontade de dar quase uma “resposta” para fora perante as análises feitas ao período de pré-temporada. “Olhando para as páginas dos jornais não somos nada favoritos, vamos acabar o Campeonato em quarto lugar”, ironizou na sala de imprensa, quase puxando dos galões de clube cronicamente candidato a ganhar todas as provas nacionais. Das palavras aos atos, era com Vítor Bruno, o adjunto com um saldo quase 100% positivo nas 13 ocasiões anteriores em que substituiu o líder de equipa (11 vitórias e um empate, mais um triunfo com Dembelé como timoneiro principal após uma partida em que também o adjunto foi expulso), que o FC Porto tentava dar essa resposta.

As próprias opções iniciais dos portistas mostravam muito do que era pretendido após a derrota em Aveiro com o Benfica. Com Fábio Cardoso no lugar do castigado Pepe e com Wendell de regresso às opções em vez de Zaidu após cumprir castigo pelo vermelho na final da Taça de Portugal, Sérgio Conceição fez apenas uma mexida que equivalia na prática a duas, com a aposta em João Mário na lateral direita com o respeito avanço de Pepê para uma zona mais criativa com Otávio e Galeno no apoio a um único avançado, Taremi. Não foi o suficiente. Longe disso. Aliás, a própria primeira parte do jogo foi uma surpresa para quem reconhece o ADN FC Porto nesta equipa de Sérgio Conceição e viu uma equipa bloqueada e sem ideias que mais ansiosa e impaciente ficou depois da desvantagem. Depois, e em menos de dez minutos, houve a reação. E com dois heróis improváveis de bigode a construírem a vitória num jogo para barba rija, a começar pela assistência de Fábio Cardoso para o 1-1 e a seguir pelo passe de Eustáquio que começa a jogada do 2-1. Foi dos pés da dupla que em condições normais será mais vezes suplente do que titular que nasceu a reviravolta.

Ficha de jogo

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Moreirense-FC Porto, 1-2

1.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas, em Moreira de Cónegos

Árbitro: Hélder Malheiro (AF Lisboa)

Moreirense: Kewin Silva; Dinis Pinto (Fabiano, 90′), Maracás, Marcelo, Frimpong (Pedro Amador, 90′); Ofori (Macedo, 90′), Franco, Kodisang (Madson Monteiro, 75′); Alan (Aparício, 75′), Camacho e André Luís

Suplentes não utilizados: Caio Secco, Rafael Sousa, Ismael e Matar Manga

Treinador: Rui Borges

FC Porto: Diogo Costa; João Mário (Toni Martínez, 46′), Fábio Cardoso, Marcano, Wendell; Grujic (Romário Baró, 56′ e Nico González, 69′), Eustáquio; Pepê, Otávio, Galeno e Taremi (André Franco, 90′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, David Carmo, Zaidu, Nico González, Danny Namaso, André Franco, Romário Baró, Toni Martínez e Gonçalo Borges

Treinador: Vítor Bruno (por castigo de Sérgio Conceição)

Golos: Frimpong (51′), Toni Martínez (67′) e Wendell (74′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a João Mário (21′), Ofori (62′), Galeno (68′), Toni Martínez (71′), Dinis Pinto (76′), Wendell (77′ e 90+2′), Nico González (90+4′), Fabiano (90+4′), Franco (90+8′) e Otávio (90+8′); cartão vermelho por acumulação a Wendell (90+2′)

A partida começou com o Moreirense a defender num bloco médio/baixo a povoar muito o corredor central que ia conseguindo bloquear a construção do FC Porto, que só conseguiu aproximar-se da baliza contrária num livre em boa posição descaído sobre a esquerda que não teve continuidade após passe de Eustáquio para a área. Do outro lado, os cónegos esboçavam saídas rápidas sempre a explorar o jogo exterior, tiveram um remate que podia levar perigo mas desviou em Marcano para canto mas pouco mais num encontro em que os minutos não passavam, arrastavam-se. O próprio Sérgio Conceição, que mesmo na bancada era como uma figura omnipresente no banco e no relvado, ia mostrando alguns sinais de impaciência a partir do camarote, ainda mais quando André Luís demorou a chutar na área antes do grande corte de Marcano (17′).

Essa tendência de jogo desgarrada, lenta e sem qualquer objetividade no plano ofensivo (também por mérito do Moreirense) começava também a cruzar com alguma ansiedade, como se viu num lance em que João Mário estava sozinho, recebeu mal a bola, teve de fazer falta sobre Camacho e ficou com o primeiro amarelo. Taremi, num desvio fraco na área após uma insistência de Pepê na direita, teve a primeira tentativa dos azuis e brancos mas à figura de Kewin Silva, que pouco mais era do que um espectador até esse momento (25′). O FC Porto não conseguia colocar bola nos alas para dar largura ao seu jogo ao mesmo tempo que perdiam na maioria das vezes a batalha pelo corredor central. Com isso, o nulo no final da meia hora inicial tinha tanto de inevitável como de castigo para uma equipa que mostrava pouco ou nada pela tal redenção.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Moreirense-FC Porto em vídeo]

Foi por essa altura que Wendell conseguiu pela primeira vez dar largura pela esquerda, assistindo depois Galeno no movimento por dentro que fez para um remate prensado num defesa contrário que saiu pela linha de fundo (31′). Mesmo sem melhorar muito a qualidade de jogo, longe disso, o FC Porto conseguiu andar mais tempo com bola controlada no meio-campo do Moreirense, ganhou alguns cantos nessa pressão final antes do intervalo mas os cónegos mantiveram-se irrepreensíveis na forma de defender a sua baliza, sem necessidade de afundar em demasia pelo meio e com os laterais sempre atentos a Galeno e Pepê. Só mesmo nos minutos finais chegariam as primeiras grandes oportunidades, com Kodisang a atirar ao lado em boa posição após mais uma bola ganha de cabeça por André Luís (43′) e Kewin Silva a tirar o golo a Taremi na área naquela que foi a sexta e última vez que o iraniano tocou na bola nos 45 minutos iniciais (45′).

O FC Porto teria de fazer muito mais para superar a muralha bem organizada do Moreirense, que não só bloqueava o jogo ofensivo dos azuis e brancos como mostrava formas inteligentes de sair na frente, optando pelos corredores laterais com a velocidade de Camacho e Kodisang ou pelo jogo mais direto em André Luís, e Sérgio Conceição não demorou à procura de novas soluções, lançando em campo Toni Martínez no lugar de João Mário para recuar Pepê de novo para lateral ao intervalo. Contudo, quando procuravam marcar, os dragões acabaram por sofrer e pelos mesmos erros defensivos da primeira parte: André Luís ganhou pelo ar, os cónegos trabalharam bem para o cruzamento na direita e Frimpong apareceu ao segundo poste na frente de Pepê a desviar para a baliza de Diogo Costa após uma tentativa inicial de André Luís (51′).

O FC Porto estava encostado às cordas e os sinais de ansiedade já roçavam a impaciência, como se viu num livre combinado no laboratório que terminou com todos os jogadores a olharem uns para os outros. Mais do que estar em desvantagem, não se via, percebia ou sentia aquele rastilho que pudesse dar ânimo aos azuis e brancos para lutar pelo encontro. Foi aí que Otávio, agora a rematar direto de livre, atirou à figura de Kewin Silva (62′). Foi aí que Pepê, quando numa insistência de raiva, atirou uma “bomba” para nova grande defesa do brasileiro para canto (66′). Foi aí que o Moreirense acusou pela primeira vez a pressão e em menos de dez minutos tudo acabaria por mudar sem que os cónegos tivessem tempo para “congelar jogo”.

Tudo começou numa jogada de insistência pela esquerda, com Romário Baró (que sairia lesionado minutos depois com um problema muscular na coxa) a receber para fazer o cruzamento que teve um primeiro desvio de Fábio Cardoso e um remate subtil junto ao poste de Toni Martínez (67′). Pouco depois, Eustáquio recebeu do estreante Nico González a meio-campo, fez o passe longo a “rasgar” para Pepê na direita e a combinação entre o lateral e Otávio acabou por ser cortada por Frimpong para os pés de Wendell, que à entrada da área atirou em jeito de pé esquerdo para o 2-1 da reviravolta (74′). Mesmo sem ter feito uma exibição de encher o olho, bastou esse período para conseguir a superioridade frente a um Moreirense sem pernas para mais, nem mesmo depois da expulsão de Wendell por acumulação de amarelos nos descontos (90+2′).

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