É tudo menos a prova do FC Porto, funciona agora como uma “prova” para o FC Porto. Arredado da fase de grupos da Liga dos Campeões, prova onde permanece no top 5 dos clubes com mais participações desde que foi remodelado pela primeira vez o modelo competitivo da antiga Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1992, a equipa azul e branca começava na Noruega a participação no novo formato de grupo da Liga Europa. Não era um início qualquer. Ainda menos depois de ter sido partilhado o estudo do supercomputador da Opta, que coloca os dragões como principal favorito à vitória final à frente de Athl. Bilbao, Tottenham, Roma, Manchester United ou Lazio, entre outros. “Pode surpreender alguns mas o FC Porto, com 17,8%, foi a equipa considerada como favorita à conquista da Liga Europa 2024/25″, resumia nesse mesmo estudo.

Bodo/Glimt-FC Porto. Mäattä é expulso por acumulação (2-1, 51′)

“O FC Porto tem uma afinidade com esta competição, tendo-a conquistado com José Mourinho em 2003 e em 2011 com André Villas-Boas, que é agora o seu presidente. É o único clube português a vencer a Taça UEFA/Liga Europa, enquanto apenas cinco equipas do continente a venceram mais vezes. Agora, sob a liderança de Vítor Bruno, adjunto de Sérgio Conceição durante sete anos em que esteve no comando, o FC Porto é talvez um pouco mais desconhecido esta época mas é um clube que participa regularmente nas competições europeias e tem muito talento à sua disposição. É também, sem surpresa, projetado como o mais provável de chegar aos oitavos de final, o que acontece em 87,6% das simulações”, acrescentava.

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Peso e responsabilidade a mais para uma equipa e um clube que estão a trabalhar no início de uma nova era? Nem por isso. E se foram vários os pormenores na viagem para o encontro com o Bodo/Glimt que mostraram outra vez essa viragem, do programa distribuído a toda a logística com parceiros, passando por toda essa proximidade jogadores-adeptos que tem sido cultivada, André Villas-Boas, antigo vencedor da competição que assumiu a presidência há quase cinco meses, mantinha a tónica de separar aquilo que é uma mudança de paradigma no Dragão e a “obrigatoriedade” pelo prestígio e pela história de lutar por todas as provas.

“Temos que ter um compromisso com a vitória em todas as competições. Portanto, esta não foge às nossas ambições e iremos disputar a competição até ao limite. Com a história que temos na Liga Europa, o limite é vencer. Esperemos que assim seja. O FC Porto tem de corresponder às expectativas, vencendo o jogo. É com essa força e com esse compromisso com a vitória que vamos nesta deslocação. Reforços? É uma vontade da parte do FC Porto de ser cada vez mais forte e competir para ganhar títulos. Esse é o objetivo e por isso trouxemos os reforços necessários para conquistar títulos”, apontou o agora líder dos azuis e brancos, falando também do impacto que Samu Omorodion tem assumido nos últimos encontros dos portistas.

“Somos candidatos a querer muito ganhar o jogo, apenas e só. O cartão de visita que o adversário nos deixa é um cartão de visita com algum peso e devemos olhar para ele de forma desconfiada. A Liga Europa é uma competição exigente, é preciso olhar e perceber que adversários estão nesta competição. É um passo de cada vez, ganhando raízes fortes quase indestrutíveis. Um vício enorme de ganhar, quase como se fosse uma droga sem a qual não conseguimos viver. O nosso desafio é instituir isso. O peso institucional do FC Porto obriga-nos a olhar sempre para o clube com uma vontade enorme de acrescentar troféus. A partir daí, não temos muitos caminhos alternativos”, apontou mais tarde Vítor Bruno, já na Noruega, sem querer abrir o jogo sobre a possibilidade ou não de continuar a usar calções no banco apesar do frio que se sentia.

Esse acabaria por ser o menor dos problemas do técnico portista perante o que aconteceu ao longo dos 90 minutos. Quem via de fora, e os próprios jogadores do FC Porto lá dentro, tinha perfeita noção de tudo o que era necessário fazer para ganhar e sobretudo anular os perigos do Bodo/Glimt. Problema? Só a espaços, na primeira parte, conseguiu fazê-lo. Foi quase como se o ataque fosse conseguindo derreter o gelo da equipa norueguesa mas a defesa, mais concretamente toda a manobra defensiva da equipa, meteu água por tudo o que era espaço. Hauge mostrou que é um jogador diferenciado mas houve sobretudo demérito próprio dos azuis e brancos na forma como consentiram uma derrota inesperada na estreia na Liga Europa, quase como uma demonstração das dores de crescimento que uma equipa “nova” acaba sempre por sofrer.

Ficha de jogo

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Bodo/Glimt-FC Porto, 3-2

1.ª jornada da fase de grupo da Liga Europa

Estádio Aspmyra, em Bodo (Noruega)

Árbitro: Orel Grinfeeld (Israel)

Bodo/Glimt: Haikin; Sjovold, Nielsen, Bjortuft, Bjorkan; Berg, Evjen (Brunstad Fet, 83′), Määttä; Saltnes (Mikkelsen, 90+1′), Högh (Zinckernagel, 79′) e Hauge (Espejord, 90+1′)

Suplentes não utilizados: Faye Lund, Auklend, Moe, Helmersen, Sorli, Tomic, Sorensen e Zugelj

Treinador: Kjetil Knutsen

FC Porto: Diogo Costa; João Mário, Zé Pedro, Nehuén Pérez, Francisco Moura (André Franco, 80′); Grujic (Rodrigo Mora, 69′), Eustáquio (Pepê, 60′), Nico González; Gonçalo Borges (Galeno, 60′), Iván Jaime (Deniz Gül, 69′) e Samu Omorodion

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Martin Fernandes, Tiago Djaló, Wendell, Vasco Sousa, Alan Varela e Danny Namaso

Treinador: Vítor Bruno

Golos: Samu Omorodion (8′), Högh (15′), Hauge (40′ e 62′) e Deniz Gül (90+5′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Zé Pedro (29′), Määttä (45+3′ e 51′), Nico González (71′) e Berg (81′); cartão vermelho por acumulação a Määttä (51′)

Com Grujic a assumir o lugar de Alan Varela e Samu Omorodion a contar com o apoio de Gonçalo Borges e Iván Jaime em vez de Galeno e Pepê (o que no caso do espanhol e dos seus movimentos para dentro permitia que Francisco Moura ficasse com todo o flanco esquerdo), o FC Porto até teve uma boa entrada logo com um remate de meia distância de Iván Jaime no minuto inicial para defesa segura de Haikin mas não conseguiu de seguida travar duas saídas rápidas do Bodo/Glimt que por pouco inauguraram o marcado, com Määttä a atirar na área para defesa de Diogo Costa para canto (3′) e Högh a saltar mais alto do que os centrais azuis e brancos para desviar de cabeça um cruzamento da direita por cima (5′). A vertigem dos noruegueses criou uma sensação de tontura aos portistas mas o calmante da ordem não demorou a chegar: Gonçalo Borges cruzou largo na direita, Francisco Moura foi ao segundo poste fazer a assistência para a pequena área e Samu Omorodion surgiu de rompante para desviar de cabeça e fazer o quarto golo em quatro jogos (8′).

Logo de seguida, em mais um grande movimento com assistência de Eustáquio, o campeão olímpico de Paris teve mais uma oportunidade para marcar mas o remate descaído sobre a direita passou ao lado (10′). Pouco depois, Gonçalo Borges também tentou a sua sorte de meia distância mas falhou o alvo (12′). O encontro ia sendo desenhado em dois planos distintos: quando o FC Porto pressionava alto, cortava espaços e atacava de forma organizada, o encontro ganhava um sentido único; quando o Bodo/Glimt conseguia descobrir algum espaço para saídas rápidas que muito facilmente contavam com vários jogadores em zonas de finalização no epílogo da jogada, criava perigo. Não foi à primeira, não foi à segunda, foi mesmo à terceira: Nehuen Pérez falhou o timing de saída para criar o fora de jogo e Högh aproveitou para isolar-se e fazer o 1-1 (15′).

Era na capacidade de o FC Porto controlar o jogo que estava a chave de tudo. Quando isso acontecia, de uma forma natural, os azuis e brancos eram melhores, criavam situações de finalização que pecavam ou no último passe ou no remate final e deixavam os noruegueses remetidos ao seu meio-campo. Ao invés, quando havia uma momentânea perda de controlo, o Bodo/Glimt atacava naquela sua forma meio anárquica mas capaz de ferir os adversários e criava perigo, com Berg a surgir sozinho na área para intervenção decisiva de Diogo Costa (30′). Eram quase invasões ao estilo viking quando a bola era colocada na profundidade, como aconteceu no lance do 2-1 antes do intervalo em Högh ganhou nas costas de Zé Pedro, deu depois em Saltnes de costas para a baliza na área e o trabalho tipo pivô de futsal acabou com um tiro colocado de Hauge (40′).

Num jogo com características meio “estranhas”, o FC Porto passava de vencedor a vencido sem que com isso deixasse de aparentar sempre que, cumprindo o plano delineado para anular os pontos fortes da formação norueguesa e potenciando as lacunas sobretudo em termos defensivos, era melhor. No entanto, não era isso que o resultado (e as próprias estatísticas) refletia ao intervalo, apesar de mais uma boa diagonal com remate na passada de Samu para defesa de Haikin para canto (44′). A noite que ia ficando cada vez mais fria estava a tornar-se gelada para os azuis e brancos e Vítor Bruno seguia para o balneário com várias correções por fazer em todos os setores – até porque este jogo era um exemplo de como os erros atrás começavam em más zonas de pressão e de como os problemas à frente tinham início na construção a partir de trás.

Sem trocar jogadores mas a mexer em movimentos e posicionamentos individuais e coletivos, o FC Porto viu a segunda parte começar com as mesmas características mas ganhou uma “vida extra” por erros próprios do Bodo/Glimt, neste caso com Määttä, que já tinha um amarelo, a ter uma simulação de terceira categoria cinéfila na área para ver o segundo cartão e ser expulso aos 51′. Pepê e Galeno aceleraram de imediato o aquecimento mas, pouco depois de entrarem, a missão ficou mais complicada: Iván Jaime perdeu a bola no meio-campo contrário ficando a queixar-se de falta, o Bodo/Glimt colocou a bola em Hauge com dois passes diagonais e o avançado superou João Mário a puxar para dentro e a rematar para o 3-1 (62′).

O encontro entrava na fase do tudo ou nada para o FC Porto, com Vítor Bruno a promover também as duas estreias de Rodrigo Mora e Deniz Gül para passar a ter apenas Nico González como referência no meio-campo tendo depois dois alas, dois avançados e o jovem jogador de 17 anos a procurar espaços entre linhas. Galeno, com um remate em arco ao lado (68′), e Zé Pedro, numa insistência após segunda bola a arriscar na meia distância que passou perto (72′), deixaram os dois primeiros sinais de tentativa de retoma dos azuis e brancos mas o Bodo/Glimt mostrava-se confortável com as características que o jogo tinha ganho, mantendo as saídas tendo Hauge como referência que continuaram a deixar o FC Porto em sentido e refém do brilho de Diogo Costa, que evitou o 4-1 de Saltnes (76′) antes de Haikin tirar o golo por duas vezes a Pepê (78′) e Deniz Gül assinalar os primeiros minutos oficiais pelos dragões com o 3-2 após canto na pequena área (90′).