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EUA são a equipa que mais vezes conquistou o Mundial. As norte-americanas levantaram o troféu em quatro ocasiões (1991, 1999, 2015 e 2019)

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EUA são a equipa que mais vezes conquistou o Mundial. As norte-americanas levantaram o troféu em quatro ocasiões (1991, 1999, 2015 e 2019)

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Começou com jogos de 80 minutos arbitrados por homens, já chama milhões de pessoas: o caminho até ao Mundial feminino mais visto de sempre

Vencedoras da 1.ª edição do Mundial regressaram aos EUA e ninguém sabia que tinham sido campeãs. Em 2023, o torneio promete ser o mais visto de sempre. Portugal recuperou o tempo perdido.

Trinta e dois anos depois da primeira edição, o formato do Mundial foi mudando à medida que o futebol feminino se foi desenvolvendo globalmente. Portugal vai-se estrear na competição pela primeira vez sediada na Oceânia. Apesar de a prova estar escondida nos antípodas do globo, o público já não precisa de uma lupa para assistir como aconteceu na primeira edição de sempre na China, em 1991.

Joy Fawcett, antiga internacional pelos EUA, fez parte da primeira equipa campeã do mundo. “A diferença entre o antes e o agora é enorme”, disse à ABC News Austrália. “Em 1991, estivemos lá [na China] e esperávamos que fosse um grande evento. Havia muito público. Ganhámos e ficámos muito entusiasmadas. Quando voltámos para casa, ninguém sabia que tínhamos ganhado o Mundial. Foi um pouco desanimador ninguém saber que ganhámos o Campeonato do Mundo, o maior evento da nossa carreira até ali… Ver a diferença entre o antes e o agora dá-me arrepios”.

Na primeira edição do Mundial, que se realizou na China, 63.000 pessoas assistiram à final. Na cerimónia de apresentação das equipas, as jogadoras de EUA e Noruega foram apresentadas pelas capitãs de cada seleção a Pelé. Ao longo da prova, uma média de 18.344 espetadores preencheu os estádios. O sucesso imediato do Mundial feminino não surgiu do nada nem foi um investimento feito às cegas.

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A seleção norte-americana nas comemorações do Mundial de 1991

AFP via Getty Images

Em 1971, a Federação do Futebol Feminino Europeu Independente organizou, no México, uma espécie de Mundialito que contou com seis equipas, sendo elas o México, a Argentina, a França,  a Itália, a Dinamarca (seleção vencedora) e a Inglaterra. Este foi o primeiro teste antes de, em 1991, já sob alçada da FIFA, na sequência de vários torneios internacionais, um verdadeiro Campeonato do Mundo ter arrancado.

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O Mundial da China, em 1991, contou apenas com 12 equipas, divididas por três grupos, o mesmo número de seleções presentes na edição seguinte, em 1995, na Suécia. Só em 1999 se deu o primeiro alargamento. Nos EUA, já houve lugar para 16 seleções. O número permaneceu estanque até 2015 quando 24 seleções estiveram presentes no Canadá. O recorde vai voltar a ser batido na edição deste ano que conta com 32 equipas distribuídas por oito grupos, numa dimensão a este nível, igual ao Mundial masculino. Está assim também garantido o maior número de jogos de sempre (64 partidas contra os apenas 26 encontros da primeira edição).

Bastante diferente do cenário que se vai verificar em 2023 na Austrália e na Nova Zelândia, a primeira edição do Mundial contou apenas com um jogo apitado por uma árbitra. Cláudia Vasconcelos tornou-se na primeira mulher a dirigir um encontro de uma competição organizada pela FIFA no jogo que definiu o terceiro lugar do Mundial 1991, entre Suécia e Alemanha (4-0). Em sentido contrário, atualmente, todas as partidas do Mundial têm uma mulher a arbitrar. 

O caminho percorrido ao longo de 32 anos trouxe mudanças de fundo no que há realidade do futebol feminino diz respeito. No entanto, logo de 1991 para 1995, foi feita uma alteração ao nível de uma das regras mais básicas do jogo – isto porque, no primeiro Mundial, as partidas tinham apenas 80 minutos, divididos em duas partes. A permanência desse formato, quando no masculino os jogos duravam 90 minutos, motivou a contestação das jogadoras. April Heinrichs, a capitã da seleção dos EUA naquela altura, criticou a medida, dirigindo-se aos responsáveis da competição pela desigualdade que sentia. “Têm medo que os nossos ovários caiam se jogarmos 90 minutos”, ironizou.

O mito de que ninguém vê futebol feminino (e um recorde que já está batido)

Os preços dos bilhetes para os melhores locais dos dez estádios podem ser relativamente convidativos – 24 euros um jogo da fase de grupos em que a Austrália e a Nova Zelândia não participem, 37 euros um dos oitavos de final, 49 euros um dos quartos de final, 61 euros um das meias e 73 euros a final –, mas, em junho, a FIFA anunciou que estavam já vendidos um milhão de bilhetes para o Mundial 2023. O presidente do organismo, Gianni Infantino, mostrou-se agradado com os números. “Isto significa que, faltando mais de um mês para o pontapé de saída, superámos o número de bilhetes vendidos para o Mundial de França, em 2019, o que significa que o Mundial da Austrália e da Nova Zelândia, em 2023, está a caminho de se tornar no Campeonato do Mundo feminino com mais público da história. O futuro são as mulheres”, escreveu no Instagram.

O Mundial de França, que Infantino refere na publicação, nem foi aquele em que mais pessoas passaram pelos estádios ao longo da competição (1.131.312). Em 2015, no Canadá, um acumulado de 1.353.506 adeptos estiveram nas bancadas ao longo do torneio que terminou com um EUA-Japão (5-2), naquela que foi a final com mais golos da história e a única decidida por mais de dois golos de diferença.

A venda de bilhetes não está a decorrer da mesma forma nos dois países anfitriões do Mundial 2023. A Austrália tem uma das seleções mais forte e reúne legítimas aspirações a vencer a competição. Por isso, o entusiasmo com o acolhimento da prova é grande. Pelo contrário, o mesmo não acontece na Nova Zelândia, o que levou a FIFA a anunciar que vai distribuir gratuitamente 20.000 bilhetes pelas cidades de Auckland, Hamilton, Wellington e Dunedin, onde o ritmo de vendas é baixo.

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Encontro entre EUA e Países Baixos no Mundial 2019 com as bancadas repletas de adeptos

PA Images via Getty Images

De qualquer modo, será sempre impossível, neste Mundial, ser batido o recorde de assistência num só jogo uma vez que nenhum dos dez estádios do torneio de 2023 tem uma capacidade superior a 90.185. Foi esse o número adeptos presentes na final de 1999 que opôs os EUA e a China (0-0, 5-4 nas grandes penalidades).

Não só nos estádios é esperado que o Mundial 2023, bata recordes. 1,12 mil milhões de pessoas assistiram ao ao Mundial 2019 através da televisão ou de serviços de streaming com a audiência média por jogo (17,27 milhões) a duplicar em relação a 2015 (8,39 milhões). Acompanhando esta tendência de crescimento, espera-se que o Mundial 2023 seja o mais assistido de sempre. 

O chefe executivo do futebol australiano, James Johnson, apontou à Reuters a possibilidade de a audiência televisiva poder alcançar os dois mil milhões de pessoas. “Seria duplicar a audiência do Mundial de França. Acho que isso é alcançável”. De recordar que, em 1991, nenhum canal de televisão nos EUA transmitiu a final que as norte-americanas acabaram por vencer.

Prémios individuais como nunca (depois da “chapada na cara” das jogadoras)

Atualmente, os direitos de transmissão do Mundial feminino são vendidos em separado face à competição masculina, o que começou a acontecer desde que Infantino foi eleito. Ao longo do período de negociações, o presidente da FIFA ameaçou levar a cabo um blackout aos países das cinco maiores ligas europeias (de futebol masculino) devido às propostas baixas que estavam a realizar para a emissão dos jogos nos canais televisivos de Inglaterra, Alemanha, França, Espanha e Itália.

“Para ser bem claro, é uma obrigação moral e legal não subestimarmos o Mundial feminino. Portanto, se as ofertas continuarem a não ser justas, seremos forçados a não transmitir o Mundial feminino para os Big 5″, afirmou Gianni Infantino.

O presidente da FIFA disse que as ofertas para a compra dos direitos televisivos do Mundial feminino oscilavam entre o 900.000 e os nove milhões de euros, enquanto que as propostas para o Mundial masculino variam entre os 90 milhões e os 180 milhões de euros. “Isto é uma chapada na cara das melhores jogadoras do Mundial e da mulheres no geral”, classificou Infantino.

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Presidente da FIFA ponderou não ceder os direitos de transmissão do Mundial feminino aos países europeus por considerar as propostas demasiado baixas

NurPhoto via Getty Images

Ainda assim, estão garantidos prémios de 27.000 euros para cada uma das atletas que participe na fase de grupos, sendo que os prémios aumentam com o avançar da prova. Uma jogadora que se sagre campeã do mundo vai receber 243.000 euros. É a primeira vez que este modelo de distribuição financeira, com prémios atribuídos diretamente às internacionais, vai ser aplicado. Este pagamento tem especial impacto uma vez que o salário médio anual das jogadoras de futebol é de 13.000 euros. Com as federações, é aplicado o mesmo sistema de remuneração de acordo com o mérito. Todas as seleções recebem 1,4 milhões de euros, sendo que a vencedora do torneio recebe 3,85 milhões de euros. Os prémios monetários atribuídos neste Mundial subiram 300% face ao que a FIFA gastou em 2019.

O organismo que tutela o futebol mundial recusou um patrocínio importante da Visit Saudi, marca que visava reforçar a ligação crescente da Arábia Saudita ao futebol. No decorrer da negociações, a possível presença da marca no Mundial de 2023 fez levantar as vozes que alertaram para os desrespeito do país do Médio Oriente pelos direitos humanos, nomeadamente, os direitos das mulheres.

Campeonato português ainda não existia quando o Mundial começou

Quando o primeiro Mundial de futebol feminino se disputou, Portugal estava longe de reunir condições de participar. Até 1993, o campeão foi decidido através de uma Taça Nacional. Na época de estreia (1985/86) a Liga contou com 18 equipas divididas em três zonas: Norte, Centro e Sul. Além do Boavista, na zona Norte estavam também Sp. Braga, atualmente uma das equipas profissionais da Liga Portuguesa, e o Leixões.

Em 1989/90 aparece o V. Guimarães. A temporada 1991/92 trouxe novidades de relevo. Além de terem surgido o ADC Lobão e o Clube de Albergaria, também o Sporting iniciou a participação no futebol feminino, que manteve até 1994/95. O Clube Futebol Benfica, que viria a ser bicampeão em 2014/15 e 2015/16, integra o campeonato em 1994.

A partir de 1993, a competição ganhou uma denominação diferente, deixando cair a designação de Taça Nacional para passar a ser Campeonato Nacional Feminino. No início, o Boavista era o clube dominador. Juntando as duas competições, as axadrezadas conquistaram oito títulos consecutivos, nove nos primeiros dez anos de competição. O ciclo positivo do clube nortenho teve apenas a intromissão do ADC Lobão. Seguiu-se o domínio do Gatões FC, clube de Matosinhos campeão por três vezes, antes de o 1.º Dezembro vencer 11 troféus seguidos.

A partir de 2016, o futebol feminino ganhou um novo ênfase com os regressos do Sporting e do Sp. Braga, equipas com estruturas profissionais, diretamente para a Primeira Liga. O Benfica precisou de jogar a Segunda Liga, criada em 2005, para chegar ao escalão principal à primeira tentativa e, no ano de estreia, sagrar-se campeão nacional (2020/21).

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Portugal realizou dois jogos particulares, um com a Inglaterra e outro com a Ucrânia, antes de rumar ao Mundial

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Desde 2019, começou a jogar-se a Taça da Liga, competição que veio acrescentar jogos ao calendário dos clubes que já disputavam também a Taça de Portugal. A nível da Liga dos Campeões, o Benfica conseguiu pela primeira vez colocar uma equipa nacional na fase de grupos, algo que repetiu na última época.

A acompanhar o desenvolvimento do futebol feminino em Portugal, nomeadamente no que à Seleção diz respeito, a Algarve Cup foi sendo o maior palco para as jogadoras se mostrarem em contexto internacional. Uma vez que a equipa das quinas estava afastada da participação em Europeus e Mundiais, competições que pareciam inalcançáveis, Portugal desafiava-se contra as melhores seleções no torneio organizado no Sul do país e criado em 1993. Além da equipa da casa, também a Dinamarca participou em todas as 28 edições da prova. A Noruega falhou apenas uma.

A Federação Portuguesa de Futebol definiu como objetivo chegar às 75 mil jogadoras inscritas, incluindo futebol, futsal e futebol de praia, até 2030. O ano 2022 encerrou com 13.017 praticantes federadas, estabelecendo um novo recorde de atletas registadas. Nas bancadas, as assistências não param de crescer. O jogo de futebol feminino com mais público foi o Benfica-Sporting do último Campeonato que contou com 27.221 pessoas. Antes da viagem das convocadas de Francisco Neto para o Mundial, o particular com a Ucrânia, jogado no Estádio do Bessa, foi o encontro da Seleção Nacional com mais adeptos nas bancadas (20.123).

O Mundial 2023 vai ser a terceira participação de Portugal numa grande competição. A Seleção Nacional, com a atual base de jogadoras, já esteve no Campeonato da Europa de 2017 e de 2022.

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