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O MUDE tem 13,800 metros quadrados de área bruta, cerca de 10 mil de área útil. A área expositiva irá ocupar 3600 metros quadrados, sendo os restantes dedicados a café, restaurante, loja, serviços educativos, áreas técnicas e auditório
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O MUDE tem 13,800 metros quadrados de área bruta, cerca de 10 mil de área útil. A área expositiva irá ocupar 3600 metros quadrados, sendo os restantes dedicados a café, restaurante, loja, serviços educativos, áreas técnicas e auditório

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O MUDE tem 13,800 metros quadrados de área bruta, cerca de 10 mil de área útil. A área expositiva irá ocupar 3600 metros quadrados, sendo os restantes dedicados a café, restaurante, loja, serviços educativos, áreas técnicas e auditório

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Contra obras, prazos e polémicas, o edifício histórico quer ser a estrela da reabertura do MUDE

Oito anos depois, o Museu do Design reabre dia 25. A diretora, Bárbara Coutinho, guiou-nos pelo edifício e comentou a acusação sobre direitos que a envolve. "Estou a ponderar os tribunais", admite.

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O número 24 da Rua Augusta, em Lisboa, já teve várias vidas e na quinta-feira, 25 de julho começa mais uma. O MUDE (Museu do Design) reabre após oito anos de obras, um período mais longo do que esperado devido à insolvência da primeira construtora e pautado pelas dificuldades de recuperar uma área com mais de 13 mil metros quadrados numa zona crítica da cidade, que em 1755 ficou praticamente toda destruída devido ao terramoto.

As portas estiveram fechadas ao público, mas, assegura a direção do museu, o trabalho nunca parou, nem durante a pandemia. A reabertura faz-se com o título O Edifício em Exposição e é exatamente o que o nome indica: a história da estrutura e pode ser vista em diferentes fases antes que os oito pisos se encham de outras obras e peças de coleção.

O MUDE tem 13,800 metros quadrados de área bruta, cerca de 10 mil de área útil. A área expositiva irá ocupar 3600 metros quadrados, sendo os restantes dedicados a café, restaurante, loja, serviços educativos, áreas técnicas e auditório. Irá abrir de forma faseada, embora isso não seja o resultado de nenhuma dificuldade. “Vamos mostrar as diferentes fases da obra e, a seguir, continuamos com a programação expositiva”, explica Bárbara Coutinho, diretora do museu, que nos guiou por uma visita antecipada enquanto se resolvem os últimos detalhes.

O porquê da longa renovação

Inaugurado em 2009, o MUDE herdou um edifício histórico — outrora a sede do Banco Nacional Ultramarino —, mas desafiante na mesma proporção. Inicialmente, só ocupou parte do espaço disponível por questões de segurança. “Abríamos ao público as áreas absolutamente seguras. Os pisos 1 e 0 estiveram permanentemente abertos. O 2 passou a ser estável a partir de 2013 e pontualmente ocupávamos o 4. Não íamos mais para cima nem tínhamos todas as valências, como elevadores, entradas e saídas de segurança, ar condicionado”, recorda Bárbara Coutinho.

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Painéis históricos, documentos e fotografias e a sala dos cofres: tudo poderá ser visto e visitado

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Nessa altura, todos tinham noção de que tinham pela frente um projeto complexo e moroso. “Toda a equipa sabia que estávamos a abrir uma instalação provisória do museu, cingia-se a dois andares.” Simultaneamente, a Câmara Municipal de Lisboa adquiriu o edifício e foi iniciado um projeto de arquitetura para materializar o conceito museológico. Com o tempo, tornou-se claro que seriam necessárias obras de maior dimensão. “Tentámos ao máximo que o museu nunca fechasse totalmente, até porque tínhamos noção da importância que o edifício tinha na reabilitação da Baixa Pombalina. Tínhamos em média dois mil visitantes por dia, estávamos com uma ação muito vincada. Tivemos mais de 70 exposições temporárias e quase 300 eventos organizados.”

Em 2015, deixou de ser viável o jogo de tetris para abrir aqui, fechar acolá, fazer obras mais acima, inaugurar mais abaixo, e foi tomada uma decisão. “A ideia era fechar o mais rapidamente possível para reabrir o mais depressa possível”, recorda a diretora. Nesse momento nasceu o projeto “MUDE fora de portas” — eventos ligados ao museu a acontecerem noutros espaços — que irá manter-se.

O objetivo era fechar durante dois ou três anos. O concurso para a empreitada foi ganho pela Soares da Costa e as obras aconteceram entre 2016 e 2018, ano em que a empresa abriu insolvência. “Foi preciso atualizar todos os desenhos de arquitetura e de especialidades, porque já havia obra feita, e fez-se novo concurso público internacional, ganho pela empresa Teixeira Duarte.” As renovações foram retomadas em 2021 e terminam agora, três anos depois.

“Espero que a cidade se aproprie do espaço. O MUDE é um museu para todos, sem elitismos, para os locais e para os turistas, trabalhando sobre o design e sobre a cultura.”

“Era mais fácil termos mantido apenas as fachadas e fazermos um white cube cá dentro, mas não era esse o objetivo. Temos muito património aqui dentro e por isso tivemos a ideia de reabrir com o edifício em exposição. É um património que recua a quase 300 anos da nossa história e a morfologia deste quarteirão nasce com o pombalino em 1755, após o terramoto.”

Ter a Teixeira Duarte, uma empresa centenária, como parceira foi um elemento fundamental, garante a diretora. A segunda empreitada da obra custou 13,4 milhões de euros, subiu três milhões face ao esperado. “Estamos a falar de um quarteirão da Baixa Pombalina, uma obra que vai de 2021 a 2024, uma área total de 13 mil metros quadrados. Se fizermos o rácio simples entre aquilo que custou o projeto, a obra de arquitetura e das especialidades todas pela área total, estamos a falar de algo que é absolutamente significativo da economia extrema que fizemos aqui. Estamos a falar mais ou menos de mil euros por metro quadrado.” No final das contas, o que se pretendia foi cumprido: “Temos aqui todas as valências que nos permitem agir como um centro dedicado ao design”.

Até à abertura, haverá poucas horas de descanso, admite Bárbara Coutinho. Porém, a tensão dos últimos preparativos está no mesmo patamar da “grande alegria” deste momento — para assinalá-lo, a entrada será gratuita este primeiro fim de semana, de 26 a 28 de julho. “Espero que a cidade se aproprie do espaço. O MUDE é um museu para todos, sem elitismos, para os locais e para os turistas, trabalhando sobre o design e sobre a cultura.”

A estrela da reabertura é o edifício

O Edifício em Exposição, assim se chama o projeto que marca a reabertura do MUDE, e que será possível ver até 31 de outubro. Em vários pontos é explicada, através de textos, fotos, vídeos e as diversas estruturas do prédio e a transformação do espaço, o que foi preciso repensar e preservar. O clássico e histórico receberam o novo e contemporâneo num local gigantesco onde tudo pode conviver de forma harmoniosa.

Houve, garante a diretora, uma preocupação relativamente à sustentabilidade

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A entrada no MUDE, através dos gigantescos portões metálicos, é imponente por si só. Logo à frente está a bilheteira, a funcionar naquele que era o balcão do BNU (Banco Nacional Ultramarino), que mudou a sede no Largo do Chiado para esta morada em 1866. Desde aí, o edifício sofreu inúmeras atualizações e as etapas distintas manifestam-se em diversos elementos. É o caso do painel O Fomento Ultramarino e a Metrópole, criado por Jaime Martins Barata em 1964. “Decidimos mantê-lo aqui porque reconhecemos o seu valor e queremos debater a história de Portugal e de Lisboa, queremos manter um diálogo com as novas gerações, não escondendo ou negando o que está para trás”, explica Bárbara Coutinho.

Por essa altura, para celebrar o centenário do banco, o edifício foi redesenhado como obra total. “A organização do espaço interior era muito autocrática, hierarquizada e segregada. Ou seja, os funcionários entravam de um lado, não podiam ir ao outro da administração, os governadores entravam do lado diametralmente oposto do espaço. Era tudo distinto, os revestimentos eram diferentes, o mobiliário era diferente, os circuitos e os acessos interiores eram completamente diferentes. Os clientes também entravam por três portas e tinham só acesso ao piso 0 e a parte do piso 1.”

Seguindo pela esquerda ou pela direita, o intuito é que o visitante percorra a parte exterior do balcão. Junto de cada janela estão retratos de 88 trabalhadores que fizeram parte da renovação que durou 1004 dias. “São da fotógrafa Luísa Ferreira, que acompanhou esta segunda empreitada, e estas pessoas deixaram-se fotografar, dando a conhecer alguns dos rostos que geralmente ficam na sombra. Estes 88 representam todos os que trabalharam e colaboraram connosco ao longo de quase de 17 anos de trabalho desenvolvido no MUDE.”

“Madeiras, pedras, revestimentos, azulejos, demos sempre prioridade ao que o edifício tinha. Só entrou aqui material novo quando não havia mesmo possibilidade de usar o que cá estava.”

A película que ainda cobre as montras será retirada nas próximas horas e, do lado da rua, estes retratos também poderão ser apreciados. “É quase um convite a entrar.”

Todas as montras tinham grades, entretanto retiradas e guardadas. Uma delas permanece no chão, derrubada simbolicamente para demonstrar a queda das barreiras e a transparência que o MUDE quer personificar.

Do lado de dentro do balcão ficará a loja. Bárbara Coutinho chama-lhe, para já, “proto-loja”, uma vez que ainda não está finalizada. Aqui convivem maquetes do edifício, peças de mobiliário de diversas décadas que pertenciam ao BNU e estarão disponíveis livros e outros artigos de merchandise na mesma altura em que for inaugurada a exposição de longa duração. Ainda sem data oficial, a garantia é que será “até ao final do ano”.

Os cofres históricos

Antes de começar a subir aos outros pisos, é obrigatória a visita aos cofres do BNU. A escadaria que conduz ao piso -1 tem a companhia do mural Epopeia dos Descobrimentos Marítimos, de Guilherme Camarinha, e o mosaico de Murano brilha de diferentes formas consoante o ângulo.

A sala dos cofres (ou agora também conhecida como Galeria A), totalmente projetada em 1964, tem o glamour de um filme de Hollywood: pequenos compartimentos numerados com duas fechaduras cobrem as paredes do chão ao teto, há uma escadaria para aceder aos gavetões mais altos e os cubículos que serviam para os clientes consultarem ou guardarem os respetivos pertences estão intactos.

Nenhuma gaiola é igual, nenhuma perfuração se repete e a empresa de construção teve de medir uma a uma para que tudo se encaixasse na perfeição

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Além disso, no centro da sala está outra relíquia: um conjunto de garrafas encontradas numa escavação arqueológica de 1998 na Rua do Comércio. “São 77 garrafas de vidro anteriores ao terramoto, de 1710 ou 1720, que se mantiveram intactas, o que é quase milagroso.” Pertenciam a uma loja onde se faziam garrafas de vidro soprado à mão que serviam para armazenar vinho. O seu design único está explicado no local.

Uma sala exclusiva convertida em biblioteca

Três imponentes lustres chamam a atenção assim que entramos naquela que passa agora a ser a Biblioteca de Design. As paredes vermelhas e a talha dourada da antiga sala exclusiva da administração do banco revelam a importância do espaço, mas são suavizadas com a comprida mesa rodeada por bancos de diferentes formatos, onde qualquer pessoa poderá sentar-se a ler, estudar ou debater as obras que estão disponíveis em várias estantes.

Para frequentar este espaço do piso 1 não será preciso comprar o bilhete para o museu. Basta, na bilheteira, pedir o acesso.

Do lado de fora da sala estão expostas várias plantas antigas e uma delas revela um projeto que nunca chegou a concretizar-se. Nos anos 90, o arquiteto António Garcia foi convidado pelo BNU para desenvolver um museu e uma biblioteca que ocupariam a totalidade deste piso. Porém, a ideia nunca saiu do papel. Mais à frente foi deixada parte de um dos estaleiros da empresa Teixeira Duarte, “que foi incansável a restaurar e recolocar o que era necessário. Os espaços são distintos e fragmentados, não foi um trabalho linear”, faz questão de salientar Bárbara Coutinho.

Houve, garante a diretora, uma preocupação relativamente à sustentabilidade. “Madeiras, pedras, revestimentos, azulejos, demos sempre prioridade ao que o edifício tinha. Só entrou aqui material novo quando não havia mesmo possibilidade de usar o que cá estava.”

“Toda a madeira é original, a sala é do projeto de Tertuliano Marques, de 1920. As tábuas do chão, por exemplo, foram retiradas e numeradas para que depois fosse possível voltar a colocá-las exatamente no mesmo sítio.”

Numa das reuniões de obra foi preciso decidir o que fazer às madeiras do auditório. A solução mais fácil era retirar e deitar fora. Bárbara Coutinho não quis. “Preferimos aceitar as imperfeições e demorar mais tempo na execução, mas o que é certo é que estava no caderno de encargos, não foi só uma questão estética de preservar o passado. Não tem nada a ver com saudosismo, tem a ver com termos material. Se o material é bom, se está bem executado, se tem uma qualidade de design, não há razão para estar a destruir por outra coisa que é mais barata.”

Aquele que é conhecido como o Grande Corredor dos Azulejos era, na era do banco, uma zona reservada à administração. As fechaduras das portas têm pormenores de caravelas, as ombreiras são de pedra Brecha da Arrábida, reconhecida como património mundial. Para já, estão ali relógios, cadeiras de espaldar e armários em madeira de pau preto, que faziam parte dos gabinetes. A sala mais antiga do edifício fica ao fundo do corredor e, tendo em conta a sua conservação, ninguém diria que foi completamente desmontada para que a infraestrutura fosse recuperada e, posteriormente, montada centímetro a centímetro como se fosse um puzzle da vida real. “Toda a madeira é original, a sala é do projeto de Tertuliano Marques, de 1920. As tábuas do chão, por exemplo, foram retiradas e numeradas para que depois fosse possível voltar a colocá-las exatamente no mesmo sítio.”

Na sala, um vídeo documenta a evolução da obra. As fotos e a explicação estão também no livro Edifício MUDE — Transformações na Perspetiva do Design, uma espécie de bíblia com mais de 400 páginas que conta todas as etapas do empreendimento e que estará disponível para compra.

As gaiolas que sustentam a estrutura

Subindo ao piso 2 é possível ter noção da complexa operação que foi necessária para deixar o edifício seguro e operacional na sua totalidade. As paredes estão a nu, com tijolos à vista, e os materiais denunciam os anos da respetiva construção. “A parede mais antiga é a da Rua da Prata, que ainda é do século XVIII”, explica Bárbara Coutinho, indicando-nos depois a parede oposta. “A mais recente é a da Rua Augusta, de 1964.”

O sexto andar oferece a surpresa de um miradouro de onde se vê tanto o Castelo de S. Jorge, como o Arco da Rua Augusta ou o Rio Tejo

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O primeiro projeto de requalificação sugeria reforçar todas as paredes e principais estruturas com betão mas isso obrigaria também a segmentar a área, perdendo-se assim o conceito de open space que permite colocar em prática diversos tipos de exposições e a ideia de uma galeria contínua. “Foi feito um trabalho coeso entre museologia, arquitetura e engenharia para descobrirmos outra alternativa.” Foi então criada uma gaiola, ou moldura metálica, que envolve todos os vãos do edifício — são mais de 280. Todas as molduras estão ligadas entre elas por varões que se cruzam dentro das paredes e que chegam a ter oito pontos de soldadura. “As paredes estão perfuradas para todos os lados, para cima, para baixo. É como se tudo isto fosse uma espécie de corpete que garante a solidez do edifício.” Também a Rua Augusta foi perfurada e tem, no solo, “micro estacas quase da altura do edifício”.

Além da componente estrutural, foi preciso encontrar um material que visualmente se ligasse de forma natural com os tijolos à volta, uma vez que aqui tudo está à vista. Nenhuma gaiola é igual, nenhuma perfuração se repete e a empresa de construção teve de medir uma a uma para que tudo se encaixasse na perfeição.

Olhando para todos estes pormenores, o tempo que o MUDE esteve fechado não parece assim tanto e, segundo Bárbara Coutinho, a demora prende-se com “os três anos em que a obra esteve parada”. Nesse momento de longa espera, frustração e incerteza (após a insolvência da primeira empresa), a equipa continuou a trabalhar em novos acervos e projetos. “Não posso também deixar de referir as muitas doações que tivemos de designers nacionais, que confiaram em nós nessa fase.”

Quando foi preciso expandir o edifício, porque havia mais trabalhadores e mais necessidades, Cristino da Silva projetou três novos pisos e fechou o octógono. Quando o MUDE se mudou para o prédio, as vigas estavam tapadas por teto falso. Estão agora de novo à vista e em destaque.

A identidade portuguesa é muito importante para o museu e está destacada num pórtico de azulejos recuperado da icónica loja A Rampa ou uma peça de cortiça de Nini Andrade Silva. Chama-se Dune, divide-se em quatro sofás e recria exatamente uma duna e as suas diferentes texturas. Não é apenas para observar, é para sentar e descansar, por exemplo.

No mesmo piso, o auditório está pronto a receber visitantes. Tem assinatura de António Garcia e terá programação já a partir de setembro. É de 1991, tem 177 lugares e, para já, terá uma projeção de fotografias de Fernando Guerra sobre o estado do edifício antes de entrar em obras. Num espaço contíguo está a cafetaria, projetada pelo mesmo designer. O balcão é original, o burel do teto também. O mobiliário é novo e, embora seja em madeira, “as cadeiras revisitam os tradicionais cafés de Lisboa”. Tudo tem design português e é produzido em Portugal.

Exposição de longa duração e reservas visitáveis

O piso 3 será a casa da exposição de longa duração. Enquanto ela não é instalada, mantém-se um espaço amplo que faz questão de relembrar, metro a metro, a imponência do edifício. Numa das zonas há uma abertura para o piso 4 em formato de octógono e os dois comunicam agora através de uma varanda.

“Na altura do Tertuliano Marques, ou seja anos 20 e 30, só havia quatro pisos e toda esta zona era aberta até ao piso 0. Correspondia a um grande hall central com duplo lanternim em vidro que permitia a entrada de luz, um bocadinho ao estilo francês da arquitetura parisiense do século XIX.”

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Quando foi preciso expandir o edifício, porque havia mais trabalhadores e mais necessidades, Cristino da Silva projetou três novos pisos e fechou o octógono. Quando o MUDE se mudou para o prédio, as vigas estavam tapadas por teto falso. Estão agora de novo à vista e em destaque.

Neste andar vão igualmente funcionar as reservas visitáveis. Gráficos, materiais e arquivos estarão acondicionados em mobiliário específico. “As pessoas vão poder entrar naquilo que são normalmente áreas mais reservadas dos museus, abrir as gavetas e escolher o que querem ver. Esperamos que seja um espaço onde os alunos de Belas Artes possam estar a desenhar, por exemplo.”

O piso 5 será, mais para a frente, um local de apresentação e debate de projetos experimentais e a residência de designers convidados.

O sexto andar oferece a surpresa de um miradouro de onde se vê tanto o Castelo de S. Jorge, como o Arco da Rua Augusta ou o Rio Tejo. No terraço está a nascer uma cobertura verde com espécies mediterrânicas e portuguesas, como alfazema ou alecrim, que precisam de pouca água — essa, aliás, é reaproveitada.

Do lado de dentro, uma zona que outrora estava reservada aos altos quadros do BNU será agora acessível a todos. A lareira foi mantida, assim como o mural Viúva Lamego, uma das mesas e a pastilha azul eletrizante das paredes. Aqui vai nascer um restaurante, mas o projeto está a ser elaborado com calma.

face a acusações, Bárbara Coutinho pondera avançar para tribunal. “Se o fizer é porque acredito que estamos num estado de direito e as consequências têm de se coadunar com a gravidade do que é dito. Isto são tentativas de calúnia que se arrastam há muitos anos. Sempre decidi reservar-me ao silêncio porque priorizei o trabalho no museu.”

“Será lançado um concurso. Gostaríamos que este restaurante valorizasse e trabalhasse a dieta alimentar mediterrânica, favorecendo sobretudo os produtos sazonais e locais. Queremos encontrar os parceiros certos.”

Polémicas que assombram a reabertura

Bárbara Coutinho está à frente do MUDE há 17 anos. “Quando fui convidada pelo engenheiro Carmona Rodrigues, na altura presidente da Câmara de Lisboa, para vir construir um novo museu, a Câmara tinha adquirido a coleção Francisco Capelo, eu trabalhava no Centro Cultural de Belém, era co-responsável pela sua deslocação para as novas reserva”, recorda.

Aceitou o convite por ser “um convite à mudança. O nome, que surgiu em 2006/2007, é uma feliz coincidência, mas não é apenas ‘MU’ de museu e ‘DE’ de design”. Desde então, o MUDE teve a mutabilidade e capacidade de se adaptar face às circunstâncias, características que a própria diretora também assumiu. “Acreditei no projeto mesmo quando ele não era visível.”

Porém, um artigo de opinião publicado recentemente no Expresso, assinado pelo colecionador Francisco Capelo e pelo arquiteto Alberto Caetano, denuncia uma alegada “cedência, sob coação, de direitos de autor da conceção do MUDE, à diretora Bárbara Coutinho”.

Face às acusações, a diretora é clara: “Sempre agi ao serviço do MUDE, nunca me servi do MUDE”.

“Foram inúmeros os convites que recebi a título pessoal ao longo destes anos para desenvolver projetos. Nunca aceitei e, quando o fiz, fi-lo enquanto diretora do museu. Porque para mim existe uma ética e uma perspetiva do que era o melhor para o museu e, portanto, foi assim que me pautei e estou muito tranquila e muito feliz ao tê-lo feito”, acrescenta.

Falta pouco para os portões do MUDE voltarem a estar abertos no número 24 da Rua Augusta

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Além de garantir estar de consciência tranquila, Bárbara Coutinho pondera avançar para tribunal. “Estou a ponderar com a minha família. Se o fizer é porque acredito que estamos num estado de direito e as consequências têm de se coadunar com a gravidade do que é dito. Reservo-me o direito de, na hora certa, exigir os esclarecimentos que são necessários. Isto são tentativas de calúnia que se arrastam há muitos anos. Sempre decidi reservar-me ao silêncio porque priorizei o trabalho no museu.”

Ainda assim, admite, não é daí que espera justiça. “Toda a gente me conhece, as minhas contas são públicas, a minha vida é transparente e a obra que está aqui fala mais do que qualquer outra coisa.”

Para já, as prioridades são outras. Naquele momento, começa agora mais uma reunião da diretora com a equipa de engenheiros. No piso 2, verifica-se a instalação elétrica, o chão do piso 0 está a ser lavado e um dos elevadores continua coberto com cartões. Falta pouco para os portões do MUDE voltarem a estar abertos no número 24 da Rua Augusta.

O MUDE está aberto de terça a quinta-feira, das 10h às 19h; sexta e sábado até às 21h; e domingo, das 10h às 19h. Os bilhetes custam 11€, crianças até aos 12 anos não pagam e as restantes condições estão no site oficial

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