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Rodri lesionou-se ainda na primeira parte da receção do Manchester City ao Arsenal e dificilmente irá voltar a jogar esta temporada
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Rodri lesionou-se ainda na primeira parte da receção do Manchester City ao Arsenal e dificilmente irá voltar a jogar esta temporada

PA Images via Getty Images

Rodri lesionou-se ainda na primeira parte da receção do Manchester City ao Arsenal e dificilmente irá voltar a jogar esta temporada

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O risco dos 80 jogos, os três dias que já não chegam, o advogado do caso Bosman como joker: o que está a acontecer ao calendário do futebol?

Semana ficou marcada pelas lesões de Rodri e Ter Stegen no início de uma época com mais jogos na Europa, no Mundial de Clubes e na Liga das Nações. Jogadores queixam-se, mas há quem peça "equilíbrio".

Esta semana, Rodri e Marc-André ter Stegen lesionaram-se gravemente. Na semana passada, Rodri e Alisson queixavam-se do novo formato da Liga dos Campeões. Há várias semanas, a FIFPro começou a preparar uma ofensiva judicial contra a FIFA junto da Comissão Europeia. A polémica do excesso de jogos no futebol já não é só uma polémica – é uma possível reviravolta naquilo que todos conhecemos.

A temporada que ainda agora começou está marcada pelo aumento de jogos em várias competições, desde a Liga dos Campeões ao Mundial de Clubes, passando pela Liga das Nações. Em resumo, um jogador que esteja num clube de topo e numa seleção competitiva arrisca-se a fazer 80 partidas até ao final da época. Com a larga maioria a acontecer, naturalmente, de três em três dias.

O drama dos joelhos: Rodri e Ter Stegen romperam tendões e não voltam a jogar até ao fim da época

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Atualmente, os especialistas já abrem a porta à possibilidade de os crónicos três dias de descanso não chegarem para uma recuperação total da fadiga dos atletas. Por outro lado, Luís Figo já lembrou que é com o aumento de jogos que se justifica os contratos milionários dos jogadores. E na NBA, assim como no ténis, a sobrecarga do calendário está a caminhar exatamente para o mesmo sítio. E tudo numa altura em que Rodri, que sofreu uma lesão ligamentar grave no joelho, abriu a porta à possibilidade de uma greve.

Ter Stegen lesionou-se gravemente no jogo do Barcelona em casa do Villarreal e só deve voltar a jogar na próxima temporada

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Os três dias que já não chegam para recuperar e as queixas dos jogadores

Até aos 20 anos, Vinícius jogou quatro vezes mais do que Ronaldinho jogou no mesmo período. Jude Bellingham, que tem 21, já jogou mais 4.000 minutos do que Wayne Rooney com a mesma idade. E Gavi, que se lesionou gravemente aos 19 anos, já tem mais jogos na carreira do que Xavi tinha aos 20.

São apenas números, é verdade, mas ajudam a espelhar a crescente realidade do futebol mundial – particularmente do europeu. Nos últimos dias, as lesões graves de Marc-André ter Stegen e Rodri trouxeram novamente para cima da mesa o tema do calendário sobrecarregado, das competições alargadas e da ausência de descanso. Um tema que já tinha sido tema na semana passada, devido à estreia do novo formado da Liga dos Campeões, e precisamente pela voz de Rodri.

“Greve? Penso que estamos perto disso. É a opinião geral dos jogadores e, se tudo continuar assim, não teremos alternativa. Penso que é algo que nos preocupa, verdadeiramente. Somos nós que sofremos. Alguém tem de cuidar de nós, porque somos os personagens principais deste desporto. Nem tudo tem a ver com dinheiro ou marketing. Tem a ver com a qualidade do espetáculo. Quando não estou cansado, o meu desempenho é melhor”, explicou o médio espanhol, que dias depois iria cair no relvado do Etihad agarrado ao joelho e saber que não volta a jogar esta temporada.

Nos últimos dias, as lesões graves de Marc-André ter Stegen e Rodri trouxeram novamente para cima da mesa o tema do calendário sobrecarregado, das competições alargadas e da ausência de descanso.

Mas Rodri não tinha sido o único. Antes, também na conferência de imprensa de antevisão da primeira jornada da Liga dos Campeões, Alisson também tinha falado sobre o assunto. “Muitos jogadores já falaram sobre isso e precisamos de ser ouvidos. Precisamos de nos sentar e de perceber em que direção é que o futebol caminha. Não basta arranjar jogos, competições, acrescentar isto e aquilo. Queremos oferecer o nosso melhor futebol, mas se estivermos cansados não podemos competir ao mais alto nível. Quero dar o meu melhor em todos os jogos e temos de encontrar uma solução. Não me parece que estejamos perto de uma boa solução para o futebol e para os interesses dos jogadores”, atirou o guarda-redes do Liverpool.

“Ninguém pergunta aos jogadores o que acham sobre isto.” Alisson critica novo formato da Liga dos Campeões

Dias depois, seria a vez de Jules Koundé. “Estou de acordo com tudo o que Rodri disse. Ano após ano, o calendário é cada vez maior. Temos mais jogos e menos tempo de descanso. Há três ou quatro anos que o dizemos, mas ninguém nos ouve. Os protagonistas, que são os jogadores e treinadores, não são escutados. Chegará o momento em que teremos de fazer uma greve, porque é a única forma de a nossa voz ser ouvida por quem toma decisões. Estamos a correr um risco máximo. Cada vez há mais lesões por causa do tempo de descanso mais reduzido”, indicou o defesa do Barcelona, que viu Ter Stegen cair agarrado ao joelho no relvado do Villarreal e cumprir os últimos minutos da atual temporada.

As críticas dos jogadores, embora não sejam novas, surgem num momento particularmente crítico. 2024/25 marca a mudança de formato de várias competições e o respetivo alargamento: os finalistas da Liga dos Campeões passam a jogar 17 jogos, ao invés dos anteriores 13, o Mundial de Clubes passa a ter 32 equipas, ao invés das anteriores sete, e até a Liga das Nações terá uma ronda extra com a criação dos quartos de final. Ou seja, um jogador de um clube de topo que também faça parte de uma seleção de topo corre o risco de jogar quase 80 jogos oficiais durante a temporada, sem contar com os encontros particulares.

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Gavi lesionou-se há quase um ano, em novembro de 2023, e só recentemente voltou a treinar no relvado

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Um ritmo alucinante que pode não só causar consequências práticas inéditas, como a tal greve de jogadores, como abrir a porta a uma mudança naquilo que se acreditava ser uma verdade à prova de bala. Até aqui, a ideia de que os jogadores só precisavam de três dias para descansar, 72 horas, era tida como absoluta. Agora, com o alargamento de competições, a maior intensidade dos jogos e até períodos de descontos mais longos, três dias podem não ser suficientes.

“O normal são três ou quatro dias, mas se se arrastam problemas, fadiga excessiva ou lesões, esse período varia bastante. Para boas exibições, para uma preparação ótima e fadiga recuperada, são necessários quatro ou cinco dias”, explicou Jonatan Rotaexte, diretor da HenaoSport, em declarações ao jornal El Mundo. Adicionalmente, o preparador físico recorda também o stress psicológico provocado pelos jogos de três em três dias, algo que também “aumenta o risco de lesão”.

Bernardo Silva considera carga de jogos atual “completamente absurda”

O advogado do Caso Bosman como joker da FIFPro

A sobrecarga dos atletas é uma preocupação da FIFPro, a organização que representa os jogadores internacionalmente, há vários anos – de resto, há vários anos que transmite exatamente a mesma ideia aos organismos que governam e regulam o futebol a nível mundial e continental. Limitar a quantidades de vezes consecutivas em que um jogador tem dois ou mais jogos por semana, garantir que os jogadores descansem de maneira obrigatória pelo menos 28 dias fora da temporada e 14 durante a época e assegurar que tenham pelo menos um dia livre por semana – indicadores que, nas principais ligas europeias, estão longe de ser cumpridos.

2024/25 marca a mudança de formato de várias competições e o respetivo alargamento: os finalistas da Liga dos Campeões passam a jogar 17 jogos, ao invés dos anteriores 13, o Mundial de Clubes passa a ter 32 equipas, ao invés das anteriores sete, e até a Liga das Nações terá uma ronda extra com a criação dos quartos de final.

“Jogos a cada três dias, viagens através de vários fusos horários, stress com a comunicação social, pressão com as convocatórias, problemas de sono e minutos excessivos de jogo sem uma recuperação adequada. Esta mistura de cargas externas e exigências psicoemocionais internas cria a tempestade perfeita: provoca inflamações, aumenta a sensibilidade dos tecidos, gera resíduos energéticos que entorpecem os sinais neuromusculares e distorcem as nossas avaliações sobre a nossa própria capacidade e competência”, pode ler-se no último relatório anual da FIFPro.

A ideia de que nada muda e só piora já levou a Professional Footballers’ Association (PFA), a associação que representa os jogadores de futebol em Inglaterra, a partir para caminhos legais. O organismo juntou-se à FIFPro e ambos contrataram Jean-Louis Dupont, um dos advogados responsáveis pela vitória no célebre Caso Bosman, em 1995. Em junho deste ano, e também com a associação que representa os jogadores italianos, apresentaram uma queixa contra a FIFA num tribunal de Bruxelas – algo que é apenas o início de uma ofensiva legal que continua no próximo dia 14 de outubro com uma queixa também contra a FIFA junto da Comissão Europeia.

Basicamente, a PFA acredita que a introdução do novo Mundial de Clubes supõe uma violação dos direitos dos jogadores, de acordo com a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, e até acrescenta que pode mesmo ir contra as leis europeias sobre competência. Adicionalmente, a queixa vai ainda questionar o papel da FIFA como reguladora do futebol mundial e organizadora de competições.

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Luís Figo lembrou que o aumento do número de jogos por época é o que também justifica os contratos milionários dos jogadores de futebol

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Ainda assim, e da mesma forma que a UEFA e a FIFA justificam o alargamento das competições com a necessidade de oferecer mais espetáculo e mais entretenimento aos adeptos, nem todos concordam com a ideia de que os jogadores devem avançar para medidas mais extremas como uma greve ou protestos dentro de campo. Incluindo Luís Figo, que assumiu ser “um tema complicado”, mas lembrou as questões contratuais e financeiras.

“Os jogadores têm um contrato com uma entidade, neste caso com os clubes, e há que ver qual é a melhor solução. É lógico que há cada vez mais jogos, é verdade que é como uma bola de neve. Quanto mais jogos existirem, também os contratos são maiores. Se reduzirem o número de jogos, imagino que os contratos também serão reduzidos. É uma questão de equilíbrio, algo que é sempre muito difícil de encontrar”, indicou o antigo internacional português em declarações à imprensa espanhola.

Na NBA, há limite mínimo de jogos para ser MVP. No ténis, os torneios são cada vez mais longos

O problema, contudo, não está reservado ao futebol. Há muito que a questão da sobrecarga do calendário é abordada noutras modalidades, como o basquetebol e o ténis, e há muito que basquetebolistas e tenistas alertam para a necessidade de colocar a saúde dos atletas à frente da vontade inabalável de mais jogos e mais espetáculo ao longo de uma temporada. Curiosamente, no início do ano, a NBA emitiu um comunicado onde procurava explicar que o risco de lesão não está associado a um maior número de partidas.

“O resultado da análise não sugere que falhar jogos para descansar ou para gerir o esforço – ou para ter pausas mais longas entre jogos – possa reduzir o risco de lesão no futuro. Além disso, concluímos que o número de lesões não é maior durante ou imediatamente depois de um calendário denso”, pode ler-se no documento divulgado pela própria NBA, que se debruçou nos últimos dez anos do basquetebol norte-americano.

"Quanto mais jogos existirem, também os contratos são maiores. Se reduzirem o número de jogos, imagino que os contratos também serão reduzidos. É uma questão de equilíbrio, algo que é sempre muito difícil de encontrar."
Luís Figo

Ainda assim, os números não mentem. De acordo com a ESPN, o número de jogos que jogadores habitualmente titulares falham ao longo de uma temporada explodiu nas últimas décadas: nos anos 80, a média rondava os 10,4 jogos; nos anos 90, chegava aos 10,6; nos anos 2000, 13,9; a partir de 2010, já chega aos 23,9. Um aumento abrupto que obriga a questionar uma temporada que inclui 82 jogos obrigatórios para cada equipa, na fase regular, acrescentando-se os playoffs e as finals para as franquias que seguem em frente.

Ainda assim, a NBA parece continuar convicta da ideia de que o calendário não é o problema – e até está a criar novas regras para garantir que os principais jogadores disputam o máximo de partidas possível. A partir da temporada passada, todos os jogadores têm de marcar presença em pelo menos 65 jogos para serem elegíveis para MVP ou todos os restantes prémios atribuídos no final do ano, incluindo a inclusão na equipa All-Star.

“Não existe nenhuma magia no número 65, estamos a tentar ter em conta os jogos perdidos por lesão ou até para descansar. Isto é algo que foi negociado com os jogadores. Toda a gente está interessada em ter uma fase regular mais competitiva”, disse Adam Silver, o comissário da NBA. Contudo, a história recente faz crer que não seja assim tão simples: da equipa All-Star de 2022/24, o último ano em que a regra não esteve em vigor, cinco jogadores não teriam sido escolhidos se já existisse a limitação dos 65 jogos (Giannis Antetokounmpo, Stephen Curry, Jimmy Butler, LeBron James e Damian Lillard).

Carlos Alcaraz foi eliminado nas primeiras rondas do US Open e falou abertamente sobre a sobrecarga no calendário do ténis

AFP via Getty Images

No ténis, os próprios atletas têm sido mais expressivos na hora de criticar o calendário. Para além das viagens, que obrigam a voos intercontinentais dezenas de vezes por ano, a ATP decidiu alargar torneios como os Masters 1.000 de Madrid e Roma, tornando-os competições de duas semanas à semelhança de Indian Wells ou Miami. Algo que não só retira espaço no calendário a torneios mais pequenos, como é o caso do Estoril Open, como complica ainda mais uma agenda já muito difícil de gerir por parte dos tenistas.

“Temos de ser quase super heróis para conseguirmos ser consistentes em torneios consecutivos de dez em dez dias e chegarmos ao final de todos”, disse recentemente Stefanos Tsitsipas, numa temporada muito marcada pelas lesões dos tenistas que ganharam Grand Slams, Jannik Sinner e Carlos Alcaraz. Nos últimos dias, à margem da Laver Cup onde acabou por estar num nível positivo, o espanhol voltou a abordar a questão do calendário.

“Vão matar-nos, de alguma maneira. Neste momento, muitos jogadores de alto nível vão falhar vários torneios devido a lesão. Às vezes não queres ir a um torneio. Não vou mentir, já senti isso algumas vezes. Mas como já disse muitas, muitas vezes, jogo o meu melhor ténis quando sorrio e aproveito dentro do court. Essa é a melhor solução para continuar a motivar-me”, disse Alcaraz, que já tinha desabafado sobre o mesmo assunto quando foi surpreendentemente eliminado na segunda ronda do US Open logo depois de perder a final dos Jogos Olímpicos para Novak Djokovic.

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