As cidades de Rostov-on-Don e Persianovskiy, a leste da Ucrânia, são os locais onde se acumulam mais soldados, veículos militares e tanques russos por metro quadrado, com mais de 10 mil tropas a postos. A sul, há ainda 40 mil homens, com base permanente na península da Crimeia — que desde 2014 é território ocupado pela Rússia. E a norte da Ucrânia, apesar de o reforço se ficar por contingentes de cerca de cinco mil soldados, há concentrações em Yelnya, Klintsky e Pogorovo. Já para não falar dos milhares em trânsito pela Bielorrússia, onde a Rússia continua a fazer exercícios militares com regularidade.
É assim que se explica que a fronteira da Rússia com a Ucrânia esteja rodeada de tropas que, segundo as estimativas dos governos norte-americano e ucraniano, podem ser já mais de 130 mil. As estimativas, porém, são reforçadas pelas imagens de satélite e análises feitas por empresas especializadas, como a Jansen, a Maxar Technologies e a Rochan Consulting. E reforçadas pela avaliação do olho treinado de especialistas como os do Institute for the Study of War, que compilam dados detalhados sobre o tipo de batalhões, brigadas e divisões que se movem ao longo da fronteira e para onde.
Foi com base nestas análises, bem como nas estimativas de alguns órgãos de comunicação social internacionais, que o Observador fez este levantamento e representação gráfica da atual presença dos militares russos ao longo da fronteira. O objetivo é compreender melhor como se está a posicionar o exército russo, que tem aumentado a sua presença na região de forma regular desde abril do ano passado, com particular reforço desde o final de 2021 até agora.
Os dados flutuam, já que muitas destas unidades militares têm estado em movimento ao longo dos últimos meses, mas é possível apontar os locais onde a concentração de tropas tem sido maior. Agora, em fevereiro, este é o retrato possível.
A Rússia nega formalmente que tenha tropas na região de Donbass, na Ucrânia, onde se registam os maiores confrontos desde o início da guerra em 2014. O exército ucraniano combate forças separatistas pró-russas, mas os analistas militares dizem que há presença militar russa na região, perto de Donetsk e Lugansk. O Institute for the Study of War diz mesmo que se tem registado um “aumento de elementos de comando e controlo russos dentro de Donbass”. O governo ucraniano assegura que as interações dos separatistas com o 8.º Exército Combinado de Armas de Moscovo tem aumentado, com exercícios militares e entrega de combustível e equipamento. Ao todo, serão cerca de 30 mil tropas.
A isso somam-se os cerca de 20 mil soldados que estarão ali perto, em Rostov. Na Crimeia, a sul, as movimentações também continuam, com elementos de artilharia a reforçarem os contingentes em Opuk desde dezembro. Imagens de satélite do local confirmam a presença de tendas para alojar os militares, bem como de veículos.
A norte, Yelnya e Pogonovo recebem os principais contingentes. Ali estão o 41.º Exército Combinado de Armas e também unidades do 1.º Exército de Tanques. As imagens de satélite também confirmam que, para além de tropas, a Rússia está a reforçar a sua presença de helicópteros, tanques e veículos armados — alguns com capacidade para lançar mísseis Iskander — ao longo da fronteira. Estas unidades são as que estão mais próximas de Kiev, a capital ucraniana.
A tudo isto soma-se a presença militar na Bielorrússia, também a norte da Ucrânia. Esses dados não foram incluídos por estarem quase sempre em trânsito, em exercícios militares, mas Moscovo já demonstrou que é capaz de mobilizar tropas para o país de Alexander Lukashenko com rapidez. A Maxar e a Janes garantem que nas imagens de satélite é possível ver que foram colocados lançadores de mísseis Iskander neste país, perto de Yelsk.
Ao todo, a consultora Janes resume que, desde o final de outubro de 2021, se tem registado “um aumento significativo de uma atividade militar russa ao longo da fronteira com a Ucrânia”.