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O trabalho de Diogo Machado — ou AddFuel — mistura stencil e azulejos e o que quis mostrar na exposição foi um pouco deste “espectro”: “A instalação lá dentro tem o nome de Núcleo e é imersiva, composta por camadas”
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O trabalho de Diogo Machado — ou AddFuel — mistura stencil e azulejos e o que quis mostrar na exposição foi um pouco deste “espectro”: “A instalação lá dentro tem o nome de Núcleo e é imersiva, composta por camadas”

TOMAS SILVA/OBSERVADOR

O trabalho de Diogo Machado — ou AddFuel — mistura stencil e azulejos e o que quis mostrar na exposição foi um pouco deste “espectro”: “A instalação lá dentro tem o nome de Núcleo e é imersiva, composta por camadas”

TOMAS SILVA/OBSERVADOR

"Urban (R)Evolution": a história da arte urbana mostra-se na Cordoaria Nacional

De Shepard Fairey a Tamara Alves, artistas internacionais e nacionais recordam o percurso do graffiti às instalações imersivas. A maior exposição do género em Portugal inaugura esta quarta-feira.

À porta da instalação de Shepard Fairey, alguém riscou o seu nome e escreveu “Black Sabbath”, talvez para condizer com a música que ali se faz ouvir, entre risos, marteladas e o barulho de um berbequim nas redondezas. São os últimos preparativos da exposição “Urban [R]Evolution”, que abre portas na Cordoaria Nacional na quarta-feira, 21 de junho, com os trabalhos de 18 artistas nacionais e internacionais, a crème de la crème da arte urbana.

O nome do norte-americano Fairey é um dos mais mediáticos, conhecido no mundo inteiro depois de ter desenhado o cartaz da campanha de Barack Obama, “Obama Hope”, em 2008. Em Lisboa, deixou dois murais na zona da Graça em 2017, um deles em colaboração com o português Vhils, que também está entre os que fazem esta “Urban [R]Evolution”.

Na exposição, Shepard Fairey tem direito a uma peça pintada à porta da Cordoaria, um cartão de visita do que ali se vai passar até 3 de dezembro, e outra instalação interior, com alguns posters colados com cola caseira, a sua famosa técnica “wheat paste”, usada nos trabalhos mais antigos, quando começou a trabalhar na rua, no final dos anos 80.

Os artistas entre as respetivas obras: Mais Menos, Shepard Fairey, Tamara Alves e AddFuel, durante a montagem da exposição na Cordoaria Nacional, em Lisboa

TOMAS SILVA/OBSERVADOR

Um bom exemplo da “diversidade de técnicas” e da “evolução da arte urbana” que a exposição quer demonstrar, explica um dos curadores, Pedro Alonzo, de Boston. “Há uma razão pela qual o Shepard Fairey tem uma parede pintada lá fora e os trabalhos com [cola] wheat paste cá dentro. A cola lembra-nos um momento em que trabalhava ilegalmente e desenvolveu toda esta técnica para evitar ser preso”, conta. “Agora, elaborou uma técnica para pintar murais que durem mais tempo. Isso mudou. A espontaneidade mudou e a sua arte também.”

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Inicialmente ilegal, o trabalho de Fairey ajudou a mudar a “perceção do público” sobre a arte urbana, continua Alonzo. “No início dos anos 2000, era praticamente impossível arranjar paredes [para pintar]. As pessoas não queriam vandalismo, como lhe chamavam. Agora, toda a gente quer, as pessoas oferecem paredes.”

Se há menos de duas décadas estes trabalhos poderiam ser considerados crime, imagine-se serem celebrados numa enorme exposição na Cordoaria, a maior mostra de arte urbana no país até à data. Organizada pela Underdogs, a galeria de Vhils, em parceria com a promotora Everything is New, a exposição era uma ideia antiga, conta a curadora francesa Pauline Foessel. “Temos a [galeria] Underdogs há mais de uma década e sempre foi uma coisa que quisemos fazer”, afirma. “Tivemos a oportunidade, aproveitámo-la e convidámos o Pedro Alonzo [para a curadoria], que trabalha com os grandes artistas do movimento”.

“Queríamos mesmo ter os artistas [a trabalhar] na cidade e dar a possibilidade às pessoas de perceber a riqueza do movimento”, explica a curadora Pauline. “Acho que se sente a diferença, a evolução, e como os artistas exploram meios completamente diferentes.”

A ideia foi juntar no mesmo espaço artistas internacionais (Shepard Fairey, FUTURA, Barry McGee, Swoon, Martha Cooper, Felipe Pantone, Jason Revok, Lee Quiñones e Maya Hayuk ), a maior parte figuras históricas da arte urbana mundial, e artistas nacionais ligados à Underdogs (Vhils, AddFuel, André Saraiva, Mais Menos, AkaCorleone, Tamara Alves, Wasted Rita, Nuno Viegas e Obey SKTR). “Queríamos mesmo ter os artistas [a trabalhar] na cidade e dar a possibilidade às pessoas de perceber a riqueza do movimento”, explica Pauline. “Acho que se sente a diferença, a evolução, e como os artistas exploram meios completamente diferentes.”

Cada artista tem a sua própria instalação numa espécie de stand, à exceção da fotógrafa norte-americana Martha Cooper, de 80 anos, com perto de 60 fotografias espalhadas por toda a Cordoaria, “a espinha dorsal” da exposição, sublinha Pauline, a documentar a evolução da arte urbana ao longo dos tempos.

Cooper acompanhou os primórdios do graffiti nos anos 70 e tornou-se conhecida pelas fotografias de pinturas em comboios numa altura em que só os próprios artistas fotografavam as suas peças. “Ela começou a fotografá-los quando ninguém os considerava artistas”, comenta o curador Pedro Alonzo. “Ajudou a imortalizar o movimento. Temos muita sorte que estas fotos tenham sido tiradas, se não tudo isto estaria perdido.”

Visita à montagem da exposição Urban [Revolution], exposição que celebra a arte de rua, do graffiti à arte urbana, com obras criadas para aquele local por 18 artistas portugueses e estrangeiros, Lisboa, 19 de junho de 2023. A exposição estará presente de 21 de junho a 03 de dezembro de 2023 na Cordoaria Nacional em Lisboa.  (ACOMPANHA TEXTO DE 20-06-2023) MIGUEL A. LOPES/LUSA

Um mural de Shepard Fairey, os curadores Pauline e Alonzo, AkaCorleone e uma parte da instalação de Tamara Alves que vai poder ser vista a partir de 21 de junho

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Entre os pioneiros da arte urbana, está também o norte-americano FUTURA, de 67 anos. “Foi o primeiro a pintar um comboio inteiro de uma forma abstrata e a reduzir o seu nome a uma assinatura, quase como se vê numa tela”, descreve Alonzo. No início, quando o curador o contactou, FUTURA estava “muito ocupado”. Aceitou o convite para a exposição quando percebeu que “todos os seus amigos iam estar aqui”, continua Alonzo. “Queria estar com os amigos e queria fazer parte disto, da história que estamos a contar, que começou com o tagging, com o graffiti.”

Durante a montagem da exposição, vários artistas pararam o que estavam a fazer para observar o trabalho do americano Revok, que envolve a pintura de paredes com várias latas ao mesmo tempo. Uma “performance”, como lhe chama a curadora Pauline, com um instrumento que junta 12 latas de spray. “Quando ele pegou na máquina para pintar fomos todos a correr para não perder o momento”, conta a artista portuguesa Tamara Alves, que descreve a oportunidade de estar na exposição como “inacreditável”. “Quando aceitei o projeto, ouvi falar do nome de Martha Cooper, que só por si já era incrível, Mas quando vi o alinhamento… É um bocado overwhelming”, diz.

A sua instalação envolve um mural iluminado de maneira a recriar a “atmosfera de uma floresta noturna”, explica, uma peça “mais imersiva” e totalmente nova. “Estamos a experimentar técnicas que nunca tínhamos experimentado antes, a brincar com a luz e com as sombras.”

Para Miguel Januário, conhecido pelo seu nome artístico Mais Menos, estar na exposição é uma “consagração”. “Pareço um fanboy ao lado do Shepard Fairey, do FUTURA ou do Barry McGee, artistas que admiro há muitos anos”, diz. “Quando era miúdo nunca sonhei estar perto deles, quanto mais expor com eles.”

A exposição dá precisamente essa oportunidade de explorar novos territórios. “Na galeria tens uma pressão comercial, tens as peças para vender e na rua não consegues controlar o exterior, o contexto, a luz e as pessoas. Numa exposição como esta a liberdade é maior e dá para experimentar, para fazer coisas diferentes.” Destaca também a oportunidade de estar a pintar ao lado de ídolos como as norte-americanas Swoon e Maya Hayuk. “Já gostava do trabalho da Maya, mas estar cá todos os dias e vê-la trabalhar… É super fixe acompanhar o processo.”

A instalação de Maya Hayuk transporta-nos para a guerra através de uma bandeira ucraniana e “explosões de cores que são como explosões na Ucrânia, com uma paleta de azul e amarelo”, explica o curador Pedro Alonzo. Haver cada vez mais mulheres na arte urbana, um movimento inicialmente predominantemente masculino, enriquece-o. “Traz uma perspetiva e uma estética diferentes”, comenta.

Entre os nove artistas portugueses está também Diogo Machado, mais conhecido por AddFuel. O seu trabalho mistura stencil e azulejos e o que quis mostrar na exposição foi um pouco deste “espectro”. “A instalação lá dentro tem o nome de Núcleo e é imersiva, composta por camadas”, descreve. Uma delas, o trabalho que faz na rua, com spray, e o outro o trabalho de estúdio, com uma estrutura em azulejos. No interior, há um espelho, “uma representação figurativa” do que se passa na sua mente.

Diogo Machado, ao fundo uma obra de Swoon e as áreas da exposição reservadas a Pantone e André Saraiva

TOMAS SILVA/OBSERVADOR

AkaCorleone também quis criar uma peça diferente, “imersiva”, onde é possível entrar e ver o reflexo no espelho, muito longe dos seus trabalhos iniciais. “Comecei pelo graffiti, como grande parte das pessoas que estão aqui, depois ilustração, muralismo e hoje em dia assumo-me como um artista multidisciplinar”, conta

Para Miguel Januário, conhecido pelo seu nome artístico Mais Menos, estar na exposição é uma “consagração”. “Pareço um fanboy ao lado do Shepard Fairey, do FUTURA ou do Barry McGee, artistas que admiro há muitos anos”, diz. “Quando era miúdo nunca sonhei estar perto deles, quanto mais expor com eles.”

A instalação de Januário com televisões pretende ser uma reflexão sobre o valor comercial que a própria arte urbana acabou por ganhar. “Quis criar um mercado de bolsa da street art, uma espécie de autocrítica, mas que leva à discussão. Os artistas têm de viver, de vender, de trabalhar, mas também é preciso pensar no que isso significa na sociedade actual, em questões tão vastas como a gentrificação, como ferramenta de instrumentalização do poder político, ou de decoração das cidades”, afirma.

“Urban [R]Evolution” vai estar na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até 3 de dezembro. A entrada tem um custo de 13 euros (10 euros para maiores de 65 e estudantes).

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