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Quase um século depois da abertura original, depois de cerca de três décadas de abandono, e no dia em que a República fez 114 anos,  a icónica sala de teatro da capital foi reaberta com uma nova face, pronta para o século XXI, em clima de festa
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Quase um século depois da abertura original, depois de cerca de três décadas de abandono, e no dia em que a República fez 114 anos,  a icónica sala de teatro da capital foi reaberta com uma nova face, pronta para o século XXI, em clima de festa

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Quase um século depois da abertura original, depois de cerca de três décadas de abandono, e no dia em que a República fez 114 anos,  a icónica sala de teatro da capital foi reaberta com uma nova face, pronta para o século XXI, em clima de festa

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

"Vemos aqui um teatro a reerguer-se, é a coisa mais bela que pode existir": o Variedades voltou a abrir as portas

Quase trinta anos depois, o Parque Mayer voltou a receber os espectadores do Variedades, para ver a encenação de Ricardio Neves-Neves. Fomos à reabertura, entre políticos e estrelas da revista.

Já o país se encontrava sob a Ditadura Militar encabeçada por Gomes da Costa quando o Teatro Variedades abriu portas no Parque Mayer, a 8 de julho de 1926, em Lisboa. “Filho do meio”, é quatro anos mais novo que o Maria Vitória, mas surgiu antes do Capitólio (inaugurado em 1931), apresentando a revista Pó de Arroz. Quase um século mais tarde, depois de cerca de três décadas de abandono, e no dia em que a República fez 114 anos,  a icónica sala de teatro da capital foi reaberta com uma nova face, pronta para o século XXI, em clima de festa.

Peças de teatro, concertos, exposições, bancas de comida e música ambiente caracterizaram o primeiro de dois dias de celebração para assinalar a reabertura do Variedades, num programa de entrada gratuita para todos os interessados. Apesar de não ter estado a abarrotar, o Parque Mayer viu-se com uma mancha de público significativa e muito heterogénea, entre figuras conhecidas de televisão e do cinema, espectadores veteranos de quando o teatro de revista se fazia à revelia do regime e caras mais novas, curiosas pela reabertura de uma sala que nunca tinham visto em funcionamento.

Da fachada original, apenas alguns elementos icónicos sobreviveram à reabilitação, como o letreiro, o pórtico em arco e o guarda-vento em madeira. Se do lado de fora, o laranja deu lugar ao branco, lá dentro, o azul das paredes foi substituído por tons neutros e uniformizados de cinzento. Dos mais de mil lugares da sua vida prévia sobram 300, distribuídos entre a plateia e o piso do balcão, para o qual foram construídos uma bancada e camarotes. A redução da lotação, ouvimos o arquiteto Mateus Aires Pereira comentar com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, no exterior, deve-se às normas de segurança modernas — e no que toca a modernização, o palco mantém as dimensões originais, mas conta agora com um fosso de orquestra com uma plataforma elevatória, além de ter bastante mais espaço ao fundo.

O diretor do Variedades, Joaquim René, confessou as “imensas expectativas” de que este volte a ser “um polo cultural” em Lisboa

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

De resto, a presença do autarca para este acontecimento representou o culminar de um longo processo. Se durante décadas, o Maria Vitória manteve uma atividade estoica e solitária no Parque Mayer, o  projeto de recuperação deste espaço, iniciado pelo executivo de António Costa em 2012, viu o Capitólio reabrir em 2016. No caso do Variedades, porém, seria preciso esperar bem mais. Apesar da sua proposta de requalificação ter sido aprovada em dezembro de 2015 — já era então Fernando Medina quem liderava a Câmara de Lisboa — surgiram contratempos que envolveram a anulação da obra ao empreiteiro original, tendo sido necessária nova adjudicação.

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Todo este atraso faria com que Carlos Moedas tenha acabado por ser o autraca responsável pela inauguração e por destapar a placa, facto que não esqueceu durante o seu discurso. “Queria começar por agradecer aos presidentes da Câmara que me antecederam. Mas a democracia é isso mesmo, é fazer, continuar, fazer coisas novas, resolver o passado. E aquilo que fizemos aqui foi fazer acontecer o Teatro Variedades, depois de tanto tempo, depois de tantos problemas, de tantos momentos difíceis para todos, conseguimos fazê-lo”, afirmou a partir do palco.

Um teatro para fazer jus ao nome

Completada assim a renovação da “Broadway” lisboeta — à exceção do teatro ABC, a mais recente das salas que, inaugurada em 1956, teve as suas ruínas demolidas na secção mais a norte do Parque Mayer para dar espaço a lugares de estacionamento — Joaquim René admite ao Observador ter “imensas expectativas” de que este volte a ser “um polo cultural” em Lisboa. “Voltar a ter três teatros no centro da cidade é um luxo”, afirma o diretor artístico do Capitólio e do Variedades, que cita a proximidade a outros equipamentos culturais — o Cinema São Jorge, o Politeama, a Cinemateca e o Tivoli — como exemplo do fortalecimento da oferta na capital.

Joaquim René considera que melhor arranque “era impossível” e deixa um apelo para que mais pessoas vão visitar este Variedades de cara lavada. “O nosso mote, quando estávamos a pensar na programação, foi sempre pensar ‘um palco para a cidade’. Não só para os artistas, mas também para o público”, sublinha.

Antigo diretor de produção no Teatro Maria Matos e diretor executivo no Teatro São Luiz, René tem o seu percurso ligado às artes cénicas, mas nem por isso ao Parque Mayer. “A minha relação com o Parque Mayer é mesmo daquela memória coletiva que todos temos dele. Eu não morava em Lisboa, mas tenho uma memória muito fugaz de um espetáculo que vi aqui no Variedades. Tinha a imagem de um óvni que havia no teto, mas não me lembro do edifício em si. Para mim, também tem sido toda uma descoberta destes dois edifícios”, confessa.

Tendo abraçado o desafio de garantir a programação destas duas salas, o diretor artístico explica qual a linha condutora já delineada até 2025. Em primeiro lugar, o Variedades seguirá uma “lógica de acolhimento”. “Estamos a receber propostas por parte dos artistas, ou seja, não estamos a convidar ninguém especificamente para se apresentar aqui”. Como resultado, os espetáculos já marcados vão desde o regresso de Rita Ribeiro a este teatro para um peça de comemoração dos 50 anos de carreira a uma encenação dos Artistas Unidos a partir de uma obra do Nobel Jon Fosse, passando por cinco produções do Teatro Nacional D. Maria II, neste momento “sem casa” devido às suas próprias obras de renovação. De resto, não é a primeira vez que tal acontece. Como recorda René, quando esse edifício sofreu um incêndio em 1964, a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro instalou-se no Variedades.

De produções de companhias independentes a obras de cariz mais popular, a ideia é que o Variedades faça assim jus ao nome. “Temos tentado fazer com que a programação, apesar de ter este tipo de propostas muito diferenciadas, tenha alguma coerência. São todas companhias profissionais e estamos também nesta tentativa de que os espetáculos sejam espetáculos de temporada”. Entramos então no segundo pilar programático do novo Variedades: produções com mais tempo em sala. “Não quer dizer que não possa haver espetáculos um bocado mais curtos, mas o que queremos é mesmo combater um pouco esta coisa de espetáculos que só ficam em cena de três e quatro dias”, defende, adiantando que no regulamento tem a estipulação de uma duração de até seis semanas.

"O que queremos é mesmo combater um pouco esta coisa de espetáculos que só ficam em cena de três e quatro dias”

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Entrevistado a meio das celebrações do primeiro dia de festa, Joaquim René considera que melhor arranque “era impossível” e deixa um apelo para que mais pessoas vão visitar este Variedades de cara lavada. “O nosso mote, quando estávamos a pensar na programação, foi sempre pensar ‘um palco para a cidade’. Não só para os artistas, mas também para o público”, sublinha.

O reerguer de um teatro, a “a coisa mais bela que pode existir”

O momento mais aplaudido do discurso de Carlos Moedas no palco do Variedades foi, de longe, quando se referiu aos atores como as forças vivas não só do teatro, como da própria identidade lisboeta. “Os guardiões dessa identidade são os atores, são as atrizes, é a cultura”, afirmou, recordando como o seu pai, jornalista co-fundador do Diário do Alentejo, o trazia de Beja de propósito para ver as peças.

Ora, alguns dos atores dos tempos idos do Parque Mayer em que um então jovem Carlos Moedas terá ficado maravilhado também estiveram presentes na reabertura do Variedades, e não foi só devido ao seu legado artístico e ligação ao espaço. António Calvário, Florbela Queiroz e Natalina Silva representam o passado desta sala, sim — e terem sido fotografados no destapar da placa não é nada menos que uma justa homenagem —, mas também o futuro, já que no início de 2025 protagonizam aqui uma revista chamada Três, a conta que Deus fez.

Para Florbela Queiroz, voltar a entrar no Variedades é “uma sensação que dá lágrimas nos olhos”. “Entrei aqui com 16 anos, como aluna de Conservatório ainda, a fazer comédia, com a companhia do Henrique Santana e do mestre Ribeirinho também. E depois fiz muitas revistas, muitas comédias, fiz muita coisa aqui. Hoje os meus 81 anos estão com 16!”, conta.

Joaquim René considera que melhor arranque “era impossível” e deixa um apelo para que mais pessoas vão visitar este Variedades de cara lavada. “O nosso mote, quando estávamos a pensar na programação, foi sempre pensar ‘um palco para a cidade’. Não só para os artistas, mas também para o público”, sublinha.

“Todos fazemos parte desta mobília. Uma mobília antiga, agora temos uma mobília moderna. Quando este teatro estava aí mal entaipado, eu pensava ‘mais um que vai morrer’. E fiquei muito feliz quando o vi renascer das cinzas. Mais moderno, evidentemente, não estamos em 1960. Eu trabalhei aqui pela primeira vez em 1966, com uma revista que se chamava A Pontapé. Notamos uma diferença muito grande, é para melhor, técnica e fisicamente, com mais comodismo”, afirma Natalina Silva.

“Mesmo que seja um pouco cinzento, a cor damos nós”, atira Florbela Queiroz, que diz-se maravilhada com as novas condições do teatro. “Para nós atores, é uma bênção. Podemos fazer aqui o que se quiser, é um teatro que tem as condições todas para se poder trabalhar”, frisa, deixando um apelo para que se apoiem as novas gerações de atores. Já António Calvário aproveita esta reabertura para que “apareçam mais teatros, que se construam mais teatros”.

A propósito deste repto, não obstante a boa notícia do regresso do Variedades, os três lamentam a falta de espaços que Lisboa tem para fazer teatro. Natalina Silva é quem coloca o dedo na ferida: “Lisboa não tem teatros. O Monumental já foi, o Avenida e o ABC também… Desaparecem e não aparece nenhum. Este foi reconstruído, graças a Deus, mas não aparecem mais teatros”, atira, dando ainda nota dos “teatros independentes que ainda vão fazendo das tripas coração para conseguir sobreviver”. “Só temos visto teatros a desaparecer, a partirem, a serem escavacados, a acabar com a cultura e de repente vemos aqui um teatro a reerguer-se. Isso já é para nós a coisa mais bela que pode existir”, completa Florbela Queiroz.

"Entraria Nesta Sala" é uma comédia que coloca Ivo Alexandre, Manuel Marques, Sílvia Rizzo e Sissi Martins a fazer respetivamente de versões de Vasco Santana, António Reis, Maria Matos e Beatriz Costa

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Uma das últimas produções de renome a tomar parte no Variedades antes da sua dormência iniciada em 1995 foi a gravação em 1992 do programa semanal da RTP1 A Grande Noite, do encenador Filipe La Féria. Antes, por aqui já tinham passado vultos do teatro português, como Beatriz Costa, Mirita Casimiro, Vasco Santana, Raul Solnado, Eunice Muñoz e José Viana.

Dado o historial da sala, não seria imprudente suspeitar que a peça que marca a sua reinauguração — Entraria nesta sala — tivesse sido concebida de propósito para o acontecimento. Afinal de contas, trata-se de uma comédia que coloca Ivo Alexandre, Manuel Marques, Sílvia Rizzo e Sissi Martins a fazer respetivamente de versões de Vasco Santana, António Reis, Maria Matos e Beatriz Costa. Mais ainda, a trama estrambólica coloca-os nos anos 40 a serem comandados por uma Nossa Senhora que só fala espanhol a criar uma máquina de teletransporte para ir a Berlim matar Adolf Hitler, isto entre muitas referências ao teatro e ao cinema da era de ouro.

No entanto, trata-se de um feliz acaso. Esta peça e a outra em cena, The Swimming Pool Party, ambas no Variedades até 27 de outubro, são da autoria do autor e encenador Ricardo Neves-Neves, que as escreveu há alguns anos e que até já foram encenadas, mas não pela sua mão. “Acaba por ser um género de coincidência que me deixa feliz por poder fazer aqui. Ou seja, ainda bem que ficou na gaveta estes anos todos para poder, de facto, fazer no Parque Mayer e não noutros teatros. Acho que o espetáculo aqui ecoa de uma outra forma e tem um género de vibração diferente do que se fosse feito noutro sítio”, conta o responsável e fundador da companhia Teatro do Elétrico ao Observador.

A trama estrambólica da peça coloca-os nos anos 40 a serem comandados por uma Nossa Senhora que só fala espanhol a criar uma máquina de teletransporte para ir a Berlim matar Adolf Hitler, isto entre muitas referências ao teatro e ao cinema da era de ouro.

Tal como René, Neves-Neves não tem propriamente uma relação de infância com o Parque Mayer, mas lembra-se desde sempre deste espaço. “Acho que faz parte da vida de toda a gente. O Parque Mayer ecoa não só em Lisboa como pelo país inteiro. Mesmo eu em miúdo a viver no Algarve, nunca tendo vindo ao Parque Mayer, sabia perfeitamente o que era e toda a mística à sua volta, os atores que por cá passaram e os espetáculos que cá se apresentavam, as revistas, as comédias, os musicais. E as histórias alegres e as histórias tristes sobre si. Faz parte da genética portuguesa”, conta.

No entanto, o seu destino quase se entrelaçou com o deste espaço há quase 20 anos. “Quando entrei no Conservatório, com 18 anos, vim para Lisboa e o Parque Mayer era sempre um sítio que eu vinha mostrar aos meus amigos do Algarve. Quando me visitavam, passeávamos por Lisboa e eu trazia-os sempre aqui para olhar para o único teatro em funcionamento e também para as ruínas dos outros teatros. Sempre tive esse género de vontade de fazer aqui teatro e, na verdade, quando terminei o Conservatório, a Maria João Abreu e o José Raposo estavam a estrear uma revista [no Maria Vitória] em 2006 e convidaram-me para fazer parte, mas eu já estava noutro espetáculo. E foi sempre um género de mágoa que tive por, na altura, não poder aceitar. Então, agora, fazer este espetáculo parece que corrige um género de desvio que tive no princípio, logo no meu primeiro ano enquanto profissional. E isso dá-me uma alegria grande”, revela. Além disso, “se tu pensares, não é todos os dias que reabre um teatro. Se calhar não vou ter outra vez esta experiência na vida, de estar presente na reabertura de um teatro. São coisas que são raras e isso temos de estimar e de perceber o seu valor”, adianta.

No espírito do Parque Mayer, “a crítica tem de existir”

Fazer parte da reabertura do Variedades foi uma honra para Neves-Neves, mas também um desafio, e não apenas devido ao legado do espaço. Afinal de contas, tanto a sua companhia como a própria equipa técnica do teatro estavam a estrear uma sala. “Tudo é novo para toda a gente. Ou seja, quando chegamos a um teatro, mesmo que seja a primeira vez que fazemos lá um espetáculo, normalmente as equipas que lá estão já conhecem-no bem e então ensinam-nos formas de lidar com o equipamento. Aqui, neste caso, todos descobrimos porque todos entrámos ao mesmo tempo”, indica.

"Neste primeiro espetáculo quisemos também mostrar aquilo que é o teatro e a valência do teatro. É quase como um género de visita técnica”, disse o encenador Ricardo Neves-Neves

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Como tal, apesar de Entraria nesta sala ser já uma obra há muito finalizada, permitiu-se algumas ligeiras modificações e acrescentos para jogar com a novidade do Variedades e com a sua parafernália técnica. “Temos ali uma pequena brincadeira, na zona da Sissi Martins, que está com a sua colcha, isso é específico para aqui”, conta Neves-Neves. No momento em questão, a personagem vira-se para o público e diz “daqui veem-se bem os defeitos da coisa” — refere-se a uma colcha que está a fazer, mas a piada é que pode ser uma crítica às obras de renovação do teatro.

“É uma forma de crítica que também faz parte do que é o espírito do Parque Mayer. Ou seja, a crítica faz-se abertamente e sem nenhum tipo de peso, porque a crítica tem de existir e faz parte da nossa vida. O nosso trabalho é público e com certeza que quem veio também tem críticas a tecer sobre ele e isso é normal”, sublinha o encenador.

Por outro lado, as referências diretas aos seus apetrechos— vemos a cortina a bailar a dada altura, o fosso da orquestra sobe e desce consoante o momento narrativo — foi uma forma de mostrar as potencialidades da sala e do que é possível fazer com uma peça moderna. “Já que estamos a mostrar o Variedades pela primeira vez, queríamos que os espectadores também percebessem toda a dinâmica possível. Saber que ele tem uma teia, que a teia consegue ter cenário pendurado, colocá-lo e retirá-lo da cena. Temos a fosso de orquestra que consegue estar no mesmo nível do palco, um subpalco com placa elevatória, bastidores, etc. E também o espaço vazio, o espetáculo começa e termina com espaço vazio, portanto também vamos perceber a dimensão do palco. Ou seja, neste primeiro espetáculo quisemos também mostrar aquilo que é o teatro e a valência do teatro. É quase como um género de visita técnica”, compara Neves-Neves.

“Apostar na cultura e apostar na reabertura de um teatro diz-nos também que é importante investir nestes equipamentos e que não é um desperdício de dinheiro como foi sendo dito — e nem é ao longo de décadas, é de séculos —, assim como a ideia que se teve sempre sobre os artistas como um género de parasitas da sociedade", diz Ricardo Neves-Neves.

Com o tema da peça e a história da sala, mais simbólico só mesmo se esta abertura tivesse ocorrido em 2026, nos 100 anos do Variedades. O consenso óbvio, no entanto, é que efemérides redondas são menos importantes do que dotar Lisboa de espaços o quanto antes. “Quanto mais cedo tivermos os teatros connosco, melhor. Sabemos que Lisboa tem uma vida artística e cultural, neste momento, muito vibrante. Há muitos artistas muito interessantes e que querem apresentar os seus trabalhos, mas não existem espaços suficientes para a preparação e para a apresentação dos espetáculos. Portanto, quando abre um teatro, claro que é uma boa notícia para a cidade e para os espectadores, mas é uma notícia tremenda para os artistas, saber que temos mais um sítio para trabalhar”, atira o dramaturgo.

“Apostar na cultura e apostar na reabertura de um teatro diz-nos também que é importante investir nestes equipamentos e que não é um desperdício de dinheiro como foi sendo dito — e nem é ao longo de décadas, é de séculos —, assim como a ideia que se teve sempre sobre os artistas como um género de parasitas da sociedade. Abrir um teatro com esta força, com este peso no centro da cidade, demonstra que devemos também estar no centro da vida das pessoas e que o teatro, na verdade, é fundamental. Um teatro é um sítio de arte e cultura, mas também de pensamento e de alegria, e isso é fundamental na vida de cada pessoa, qualquer pessoa”, completa Neves-Neves.

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