O Fundo Monetário Internacional disse hoje que suspendeu a ajuda ao Afeganistão devido à incerteza sobre a liderança política em Cabul, após os talibãs terem assumido o controlo do país.

“Como sempre, o FMI é orientado pelas opiniões da comunidade internacional”, disse uma porta-voz da organização.

Segundo a mesma porta-voz, “existe atualmente uma falta de clareza na comunidade internacional relativamente ao reconhecimento de um governo no Afeganistão e, como resultado, o país não pode aceder aos DSE [direitos de saque especiais] ou a outros recursos do FMI”.

O responsável pelos assuntos do Médio Oriente e Norte de África no ministério do Exterior britânico, James Cleverly, deixou esta quarta-feira um aviso: há um “risco” de que o Reino Unido esteja mais exposto a ataques terroristas graças aos acontecimentos dos últimos dias no Afeganistão.

“Existe, claro, esse risco. Por isso é que a posição do Reino Unido sempre foi que devíamos sair quando certas condições existissem, em vez de numa data ou calendário específicos”.

“Teremos de trabalhar muito de perto com países vizinhos do Afeganistão e temos relações muito difíceis com alguns desses países, incluindo o Irão”, exemplificou, em declarações à BBC.

Embora acredite que nenhum desses países tem interesse em ver o Afeganistão tornar-se “terreno fértil” para terrorismo, o membro do Governo britânico assumiu que fazer esse trabalho diplomático “será um trabalho incrivelmente duro”. Ainda assim, o Reino Unido reitera “absolutamente” esse compromisso.

“Estamos profundamente desconfiados das promessas feitas pelos talibãs, mas iremos julgá-los pelas suas ações e não pelas suas palavras”.

O presidente afegão exilado, Ashraf Ghani, gravou um vídeo a partir dos Emirados Árabes Unidos, onde foi acolhido com a família “por razões humanitárias” depois de ter fugido do Afeganistão.

https://www.facebook.com/ashrafghani.af/posts/10158957117923292

“O meu compromisso com todos os meus compatriotas era evitar o derramamento de sangue e garantir a paz, a estabilidade e o desenvolvimento do Afeganistão”, diz na gravação, publicada no Facebook. “Não queria que acontecesse o mesmo derramamento de sangue em Cabul como na Síria e no Iémen. Por isso decidi sair de Cabul”.

Segundo Ghani, se se tivesse mantido como Presidente, teria havido “enforcamentos” e haveria um “desastre na nossa História”, traduzem vários jornais internacionais.

Na mesma mensagem, o Presidente exilado disse esperar que nos próximos dias o país possa chegar a uma situação de “paz e estabilidade”. E nega os rumores de que terá levado consigo para os Emirados Árabes Unidos uma grande soma de dinheiro (169 milhões de dólares, ou 144 milhões de euros), informação avançada pelo embaixador do Afeganistão no Tajiquistão.

Vivem-se dias de caos no aeroporto de Cabul, para onde milhares de pessoas tentaram fugir e pelo menos sete acabaram por morrer. Algumas delas caíram do avião onde se tentavam agarrar para fugirem do país e escaparem ao controlo dos talibãs.

Entretanto continuam a surgir imagens, algumas comoventes, do aeroporto. Uma delas é este vídeo, partilhado pelo canal de televisão afegão Kabul News. Segundo o canal, mostra um grupo de mulheres afegãs a cantarem uma “canção patriótica” enquanto esperam pela sua vez de deixar o país.

#Afghan women sing a patriotic and heartbreaking song as they wait to leave the country at Hamid Karzai International Airport in #Kabul. pic.twitter.com/cmbYT1TegH

— KABUL NEWS (@kabulnewstv) August 18, 2021

A Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados (CDHOA) afirmou-se esta quarta-feira disponível para ajudar na defesa dos direitos humanos dos afegãos e disse que pretende, com o Governo, apoiar a saída em segurança de pessoas do Afeganistão.

A CDHOA “irá diligenciar no sentido de se reunir com diversas entidades”, nomeadamente Ministério dos Negócios Estrangeiros e ministra da Presidência, para “assegurar que todos aqueles que queiram sair do país” o façam em segurança, “e para que Portugal assegure condições dignas de acolhimento e de integração cultural” a quem solicitar vir para o país, diz a comissão em comunicado.

Lembrando a conquista do poder político no Afeganistão pelos talibãs e referindo imagens que têm sido divulgadas e que são “claramente chocantes”, nomeadamente pela violência contra mulheres e crianças, a CDHOA diz estar disponível para colaborar com as entidades nacionais e internacionais na defesa dos Direitos Humanos do povo afegão, e apela à comunidade nacional e internacional para que se una na defesa dos direitos dos mais frágeis naquele país.

A CDHOA apela ainda para que as instituições portuguesas disponibilizem todos os meios de ajuda para retirar todos aqueles que pretendem abandonar o Afeganistão, e diz-se disponível para colaborar.

Ashraf Ghani e a família foram acolhidos pelos Emirados Árabes Unidos, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros do país.

O governo, citado pela Al Jazeera, invocou “razões humanitárias” para receber o Presidente do Afeganistão que fugiu de Cabul quando os talibãs se aproximavam da capital, no domingo.

The UAE says it is hosting Afghan president Ashraf Ghani "on humanitarian grounds" after he fled the country amid the Taliban's takeover.

???? LIVE updates: https://t.co/uFU0qdKTeY pic.twitter.com/vinEfxiblk

— Al Jazeera English (@AJEnglish) August 18, 2021

A informação que dava conta das “boas-vindas ao Presidente afegão, Ashraf Ghani, e à sua família”, foi avançada inicialmente pela agência de notícias oficial dos Emirados Árabes Unidos WAM, com base numa nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

A União Europeia (UE), os Estados Unidos, o Brasil e 17 outros países manifestaram-se hoje “profundamente preocupados” com a situação das mulheres no Afeganistão, devido à possível perda de direitos pela ocupação talibã, exigindo a sua proteção.

“Estamos profundamente preocupados com as mulheres e raparigas afegãs, os seus direitos à educação, ao trabalho e à liberdade de circulação”, lê-se numa declaração conjunta hoje divulgada e assinada pela UE e por 19 países.

“Apelamos aos que ocupam posições de poder e autoridade em todo o Afeganistão para que garantam a sua proteção”, acrescentam.

Nesta tomada de posição, a UE, os Estados Unidos, o Brasil e os outros 17 países vincam que “as mulheres e raparigas afegãs, como todo o povo afegão, merecem viver em segurança, estabilidade e dignidade”.

Uma estátua de um líder xiita que lutou contra os talibãs durante a guerra civil afegã nos anos 90 foi destruída, noticiam vários órgãos de comunicação internacionais.

A estátua de Abdul Ali Mazari, assassinado em 1996 pelos talibãs, quando o grupo tomou conta do poder no Afeganistão, decorava a zona central da província de Bamiyan.

Foi em Bamiyan que, em 2001, pouco antes da invasão norte-americana, foram destruídos vários Budas com 1.500 anos. Os talibãs terão usado o mesmo método para destruir a imagem do líder xiita.

#Taliban fighters have blew up the statue of Abdul Ali Mazari in Bamyan, reports say. They had brutally murdered him in the 90s. Talibs have a long history of destroying sculptures, considering them "pagan idols." They dynamited the 15-century-old buddha statues n Bamyan in 2001. pic.twitter.com/wiOgeNcgGJ

— Sharif Hassan (@MSharif1990) August 18, 2021

Pelo menos 17 pessoas ficaram feridas após terem sido espezinhadas por uma multidão descontrolada junto ao aeroporto de Cabul, noticia a Reuters, com base numa fonte oficial da NATO.

A situação junto ao aeroporto permanece tensa há vários dias devido à presença de centenas de afegãos desesperados por sair do país.

Segundo a Reuters, para tentar controlar o caos, foi entretanto proibido que cidadãos sem passaporte ou um visa para saírem do Afeganistão parem junte ao aeroporto.

Não existem por enquanto relatos de violência na zona, disse a mesma fonte da NATO.

O primeiro avião enviado pelo governo de Espanha para repatriar os espanhóis em território afegão chegou a Cabul, noticia o El País com base em fontes governamentais.

O primeiro-ministro Pedro Sánchez revelou esta quarta-feira que o avião militar saiu durante a manhã do aeroporto do Dubai para retirar o primeiro grupo de espanhóis e colaboradores.