O professor universitário Bahaudin Mujtaba conheceu Noman em Cabul há cinco anos, por via de um familiar. “Fiquei encantado por aquele rapazinho”, recorda o já cidadão norte-americano, que emigrou do Afeganistão há mais de 40 anos. Juntamente com a mulher, Lisa, decidiram que “tinham de ajudar” o menino que viu a mãe morrer de cancro, adotando-o e levando-o para os Estados Unidos.

Noman tem dez anos, sofre de diabetes e outras complicações médicas que deverão ter tido origem na sua má nutrição. “Não sabemos em concreto que problemas é que tem, mas temos conhecimento de que ele tanto está bem [de saúde] como não”, explica Bahaudin Mujtaba. São os irmãos mais velhos que tratam de Noman, uma vez que o pai não o consegue fazer devido à idade e ao estado de saúde debilitado. Num país dilacerado pela guerra e onde subsistem inúmeras dificuldades, Noman sonha ser médico e tira boas notas na escola. “É um rapazinho com grandes sonhos”, descreve Bahaudin Mujtaba.

Já há cinco anos que Lisa e Bahaudin tentam adotar o jovem afegão, mas o processo têm sido alvo de inúmeros entraves legais — e contou ainda com uma pandemia pelo meio. No entanto, o sonho de o trazer para os EUA para lhe proporcionar melhores condições de vida sofreu ainda mais um revés com a tomada dos talibãs do Afeganistão. O casal teme que a criança de dez anos não consiga sobreviver ou que acabe por desaparecer.

Segundo conta a Associated Press, Bahaudin Mujtaba já tentou, sem sucesso, resgatar o menor de Cabul — mas não vai desistir. “Uma vez estando ao aeroporto, é uma questão de esperar uns dias ou horas”, assinalou, acrescentando que o “principal objetivo é retirá-lo do Afeganistão”, independentemente para que país vá a seguir.

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Bahaudin Mujtaba teme ainda que com os talibãs as adoções se tornem proibidas, principalmente para norte-americanos. “A adoção está em risco”, reconhece o professor universitário.

Noman e Bahaudin Mujtaba já estiveram várias vezes juntos e o professor na Universidade Nova de Southeastern contava que o processo de adoção estivesse praticamente concluído. Aliás, para comprovar o seu interesse, foi dez vezes ao Afeganistão desde 2016 para conhecer melhor Noman. Em contrapartida, a mulher Lisa nunca foi ao país de origem do marido por receio de que lhe pudesse acontecer alguma coisa.

“Vamos esperar para ver o que vai acontecer agora”, diz centro de adoções internacionais

Mary King, diretora executiva de um centro de adoção na Carolina do Norte, disse à Associated Press que está a tratar de alguns processos adotivos que vão permitir trazer crianças afegãs para os Estados Unidos. Contudo, a responsável antevê que tudo possa mudar com o futuro governo. 

“Isto aconteceu mais rápido do que nós antecipávamos, por isso não sabemos o que vai suceder agora”, afirma Mary King, garantindo que o centro de adoções está a tentar localizar os menores com a ajuda das autoridades norte-americanas.

Esta instituição conseguiu trazer uma criança afegã para os EUA em 2017, mas nunca lidou com os talibãs no poder. Para a responsável, a situação é agora “muito assustadora”. “Nem consigo imaginar o que esses meninos estão a sentir.”

Desde 1999 até 2019, 41 crianças afegãs foram adotadas por famílias norte-americanas. Bahaudin Mujtaba quer transformar a adoção de Noman num caso de sucesso. Para isso, está a fazer de tudo — e até entrou em contacto com o senador Marco Rubio para obter ajuda do governo norte-americano.

Em troca de trazer Noman para os EUA, Bahaudin Mujtaba propôs ao senador ir ao Afeganistão com as tropas norte-americanas, de modo a servir como mediador entre as forças talibãs e os EUA. Independentemente da resposta aos apelos, o casal não vai desistir de objetivo de abraçar o menino de dez anos que sonha ser médico.