O exercício da parentalidade é uma missão desafiante, exigente e envolvente para os pais e para as crianças e adolescentes, exigindo que se estabeleçam regras que permitam gerir as relações entre todos. As regras de relação entre pais e filhos são, por um lado, formas de transmissão de modelos de vida e, por outro, convenções de boa convivência.

As regras e os limites ajudam as crianças e adolescentes a compreender melhor as expetativas relacionais dos adultos, dando-lhes segurança e autocontrole, garantindo que tenham um melhor desenvolvimento emocional e psicológico, de acordo com as suas necessidades físicas e emocionais, possibilitando assim uma melhor regulação das suas emoções, pensamentos e comportamentos em diferentes contextos e situações.

Em vez de regras impostas, é importante realizar uma construção conjunta entre pais e filhos sobre as regras e os limites a adotar nas relações familiares, para o que é necessário que os pais envolvam os filhos na elaboração e definição das mesmas.  Desta forma, todos reconhecerão nas regras uma decisão que também foi sua e por isso um maior sentimento de obrigação no respeito pelas mesmas.

A promoção da participação conjunta de pais e filhos na construção de regras e limites com amor e consistência, deve considerar a idade, as necessidades e as características dos filhos e a realidade de cada família.

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As regras devem permitir ajudar os filhos a desenvolver a capacidade de empatia e de lidar com frustrações, de interiorizar valores morais e sociais, promovendo o seu bem-estar social e emocional.

Na sua definição deve procurar-se que as regras sejam de fácil memória, pelo que devem definir-se poucas regras básicas, entre cinco e dez, principalmente com as crianças mais novas. Para isso, é importante que as regras sejam construídas em conjunto, escritas por todos (ou desenhadas para as crianças mais pequenas que não sabem ler), colocando-as num local visível para todos, como por exemplo na porta de um frigorifico.

As regras devem ser definidas de forma clara e consistente para que seja possível prevenir que as crianças e os adolescentes as desafiem e testem continuamente. Em vez de regras gerais, vagas e indefinidas, é importante que sejam estabelecidas regras e limites claros, explicitando os comportamentos positivos e desejados para as diferentes situações do dia-a-dia, o que é fundamental para ensinar as crianças e adolescentes a reconhecer o que podem ou não fazer, até “onde podem ir”, e ajudá-las a lidar com as contrariedades e frustrações.

Para além de estabelecerem os limites e regras com os filhos, os pais devem ser consistentes e coerentes no seu cumprimento. Esta é uma tarefa frequentemente trabalhosa, que implica persistência e muita paciência e, muitas vezes, o cansaço, e a pouca paciência ao fim do dia, leva à tentação de ceder nas regras, para não se entrar em conflito. A consistência no cumprimento das regras e limites faz os filhos sentirem-se seguros (e.g., se ficar estabelecido que, depois da brincadeira, têm de arrumar os brinquedos, as crianças acabam por interiorizar essa regra; o mesmo sucede em relação a arrumar os sapatos, colocar a roupa em cima da cadeira ou fazer a cama antes de saírem de casa).

Quando as regras não são cumpridas, os pais devem aplicar as consequências tal como foram construídas em conjunto com os filhos, com afeto e curta duração.  A adoção de um “mau” comportamento ou incumprimento de uma tarefa deve ter consequências imediatas e apropriadas. Por exemplo, a consequência de uma criança desenhar na parede não pode ser o ir de castigo para o quarto, o que não está ligado ao comportamento que se deseja alterar, mas ensinando à criança o comportamento adequado para aquela situação, pedindo-lhe que limpe a parede que pintou. Desta forma, dá-se à criança a oportunidade de compreender o que fez de incorreto e de aprender como fazer de forma adequada. Neste processo, é importante ajudar as crianças e adolescentes a lidarem com a frustração, com afeto e nunca ameaçando com punição (ex: usando expressões como “se te portas mal, não gosto de ti”).

Quando as regras são cumpridas, é importante que os pais demonstrem empatia, elogiando e valorizando pelo esforço na realização de uma tarefa ou pela adoção de um comportamento positivo, mesmo que o resultado obtido naquele momento ainda não seja totalmente o desejado.

Também é importante ir relembrando de forma antecipada as regras que devem ser adotadas em determinados contextos e/ou situações, prevenindo o seu eventual incumprimento (ex: “quando chegarmos a casa, primeiro vais tomar banho e só depois é que vais brincar”).

Para garantir uma correta gestão do cumprimento das regras, é importante assegurar a sintonia na atuação dos pais, em uniformidade na concordância e cumprimento das regras e nas consequências do seu incumprimento (ex: quando a mãe ou o pai aplicar as consequências do incumprimento das regras pelos filhos sem a concordância do seu par, este deve evitar expressar a discordância em frente dos filhos).

Como modelos que são para os filhos, os comportamentos adotados pelos pais desempenham um papel importante na aprendizagem e na manutenção das regras e limites. O cumprimento das regras construídas em conjunto, modelando com seriedade, consistência e coerência a sua concretização, ajuda os filhos a desenvolver referenciais mais sólidos sobre as mesmas e a sua autoconfiança. Os filhos aprendem muito através da observação dos comportamentos espontâneos adotados pelos pais no dia-a-dia. Através do que observam os adultos a fazer, mais do que a partir daquilo que lhes dizem que devem fazer, os filhos imitam os comportamentos dos adultos e aprendem com as reações e as respostas aos seus próprios comportamentos e atitudes (por exemplo, os pais dizerem que os filhos não podem gritar e depois eles próprios gritarem; ou ainda dizerem que os filhos não podem por os pés em cima do sofá e depois os pais adotarem esse comportamento).

Um princípio básico de uma gestão saudável das relações entre pais e filhos é o do estabelecimento das regras e dos limites e da gestão da sua aplicação. A ausência de regras de comportamento torna as relações entre pais e filhos problemáticas e pode ser uma fonte de instabilidade e de insegurança familiar.