Em Portugal, uma empresa é considerada grande se empregar 250 pessoas ou mais, tiver um volume de negócios superior a 50.000 milhões de euros e um ativo líquido superior a 43.000 milhões de euros.

A nossa realidade

Em 2022 existiam cerca de 1.300.000 empresas no nosso país, das quais 99,9% destas eram consideradas PME, ou seja, abaixo dos limites já mencionados.

São esses 0,1% de grandes empresas que são o principal motor da nossa economia e devem ser assumidos como fator impulsionador incontornável para o crescimento do País nos próximos dez anos.

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De acordo com um estudo recentemente publicado pela Nova Information Management School, entre os anos de 2016 a 2019, as grandes empresas em Portugal contribuíram para a criação de um VAB, dez vezes superior às empresas de média dimensão, pagando salários 30% mais altos do que essas e 70% mais elevados do que as empresas de pequena dimensão, assumindo também investimentos seis vezes superiores às empresas médias em investigação e desenvolvimento.

Numa angular mais abrangente, estima-se que 1% das nossas empresas, (onde incluímos as grandes empresas), contribuem economicamente com 62% das exportações do País e com 57% da VAB a preços de mercado, sendo responsáveis, por 40% do emprego no nosso País e por 48% dos salários pagos.

Nas suas obrigações para com o Estado, as grandes empresas são responsáveis por 64% das contribuições para a Segurança Social e por 71% dos impostos arrecadados.

Em Portugal é frequente a diabolização das grandes empresas, mas a realidade é exatamente a oposta: um dos grandes problemas que temos é a escassez de grandes empresas.

De acordo com o mesmo estudo, estima-se que se emergissem na nossa economia apenas 150 novas grandes empresas dos mais diversos setores, tal facto se refletiria num aumento de 4% no VAB, 10% nas exportações, 5% na receita fiscal e uma subida estimada de 1% nos salários e produtividade.

Uma visão a dez anos

Mas infelizmente bastam os dedos das mãos para contabilizarmos as empresas nacionais que têm determinada escala a nível internacional, e é no mercado global que temos de refletir para uma ambição a 10 anos.

Não só a existência de um maior número de grandes empresas contribuiria para a criação de riqueza, para melhores salários e para um maior bem-estar social, mas, sobretudo, o surgimento de mais “campeões nacionais”.

Escalando a nossa economia e potenciando o crescimento dessas empresas, teríamos como efeito uma contaminação positiva em vários sectores e consequentemente dos negócios com elas relacionados; tal teria um efeito potenciador alavancando mais e melhores condições para o reconhecimento, captação e retenção de talento e desenvolvimento de melhores gestores.

Como criar oportunidades

Se observarmos atentamente os nossos vizinhos espanhóis encontramos exemplos em vários sectores – desde a energia à banca, passando pelas infraestruturas e indústria – de verdadeiras empresas com escala mundial.

Portugal não tem apenas um problema de falta de grandes empresas. Tem sobretudo um problema de pequena escala das suas grandes empresas.

O que fazer para termos um maior número de empresas com escala suficiente para, não só serem grandes exportadores, mas sobretudo conseguirem operar fora de Portugal e serem verdadeiramente internacionais?

Várias medidas poderiam ser adotadas, desde benefícios fiscais à aquisição de empresas estrangeiras por parte de empresas portuguesas, passando por instrumentos de financiamento à internacionalização e a uma capacitação da banca para ser um agente nesse financiamento.

O desafio

Para contornar problema de mind-set dos nossos empresários temos de adotar um pensamento e uma postura cada vez menor de patrões e progressivamente maior de gestores.

Há diversos setores em Portugal que poderiam e deveriam ter processos de fusão, de forma a termos empresas mais robustas e capacitadas, competitivas, com maior dimensão e preparadas para vencer desafios de internacionalização.

Existe falta de ambição e sobretudo falta de visão a longo prazo por parte das nossas empresas.

Uma vez mais, inspiremo-nos nos bons exemplos vindos de outros países que conseguiram criar as condições fiscais, regulatórias, financeiras e de mind-set empresarial, que ao longo dos últimos 30 anos criaram empresas com escala global.

Para um Portugal mais competitivo daqui a dez anos, precisamos de mais empresas verdadeiramente grandes.

Carlos Mota Santos é licenciado em Engenharia Civil pela Universidade do Porto. Foi vice-chairman da Comissão Executiva do Grupo Mota-Engil e é atualmente CEO da empresa. É membro do Clube dos 52, uma iniciativa no âmbito do décimo aniversário do Observador, na qual desafiamos 52 personalidades da sociedade portuguesa a refletir sobre o futuro de Portugal e o país que podemos ambicionar na próxima década.