Os museus são instituições valiosas, possuindo diversas valências, independentemente do seu tipo de conteúdo, e todos eles muito importantes em especial para a cultura da nossa população. A forma como os museus são consideradas pelas entidades responsáveis é, pois, um bom índice do seu interesse pela cultura do país.

Em minha opinião, uma das questões mais pertinentes relativamente aos museus é como os tornar plenamente polivalentes e mais úteis para a sociedade, apesar da escassez das suas verbas que se faz sentir na maior parte deles.

Normalmente, um museu concentra um conjunto de objectos raros, valiosos sob diversos pontos de vista, belos ou em excepcional estado de conservação. Como primeira preocupação, a instituição tem por dever a sua guarda, conservação, recuperação e estudo, pelos seus técnicos ou por outros especialistas e promover a sua divulgação, quer junto do público em geral, quer através de publicações mais ou menos especializadas. Além daqueles objectos, um museu deverá reunir toda a documentação a eles relativa, de forma a permitir a sua melhor compreensão e o seu contexto histórico, para quem os quiser estudar. Ficará, assim, atingido o objecto básico do museu, ou seja a preservação do respectivo património cultural que noutras condições, se dispersaria ou mesmo perderia.

Na sequência desse objectivo, impõe-se a divulgação da existência daquele acervo junto do público, de forma a que este o veja, compreenda o seu significado e valoriza o seu próprio conhecimento.

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É aqui que se tem de incluir a intervenção pedagógica nos processos de exposição, não só para o grande público, como, em especial, para os estudantes dos diversos graus de ensino.

Assim, os Ministérios da Educação e da Cultura, as escolas e os professores, deviam considerar as visitas de estudo a museus como aulas especialmente úteis, onde os estudantes podem ver coisas relacionadas com o seu ensino e que não se encontram noutros locais, muito menos nas suas aulas. A propósito, é triste verificar que são poucas as escolas que possuem colecções relativas às matérias dadas, quando os professores e alunos deveriam sair para o terreno e procurar constituí-las a partir de exemplares ou fotografias que podem ser encontrados na sua área de influência.

Considero que os museus são ferramentas indispensáveis ao ensino e que as visitas de estudo para estudantes e professores deveriam ser obrigatórias e acarinhadas pelo Ministério da Educação.

Este aspecto tem sido muito desprezado por sucessivos governos, o que tem trazido consequências negativas para o ensino. É óbvio que as gerações de estudantes que não entraram em museus serão, em poucos anos, cidadãos adultos sem interesse em visitá-los ou mostrá-los aos seus filhos.

Se nos reportarmos, ainda, à parte económica, os baixos números de visitantes em muitos museus é um sintoma dessa situação. Ou seja, está-se a desperdiçar o investimento feito à custa dos contribuintes (Estado, Municípios) não promovendo a cultura junto da população, nem tornando os museus mais rendíveis pelo aumento dos seus visitantes.

Não me parece difícil a solução destes problemas e, em especial, não obrigando a grandes despesas. Principiaria por propor um programa de colaboração e apoio do Ministério da Educação que incluísse um conjunto de museus distribuídos por este país fora que quisessem e pudessem apoiar o ensino, adaptando parte dos seus conteúdos e informação aos currículos escolares.

Isto podia ser obtido pela selecção de parte das peças exibidas, informações pedagógicas (folhas de sala e legendas apropriadas, redigidas em termos acessíveis) e, muito importante, na publicação de textos pedagógicos complementares, obtidos por processos pouco dispendiosos e que seriam vendidos pelo preço de custo e/ou oferecidos às escolas, que os poderiam reproduzir, com a condição dos seus alunos visitarem esses museus. O apoio financeiro necessário do Estado para esta actividade seria certamente bastante reduzido, talvez não excedendo 2.000 euros anualmente por museu. Seria, também, importante proceder ao acompanhamento da aprendizagem dos estudantes, corrigindo o que fosse necessário, bem como verificar a evolução do número de visitantes.

Uma outra proposta tem a ver com a divulgação dos nossos museus, que tão pouco é praticada no nosso país.

Para os parcos orçamentos que dispõem, não é possível aos museus pagar os preços pedidos pelos “media” privados, exceptuando quando há grandes eventos promovidos pelas maiores daquelas instituições, como o Museu Nacional de Arte Antiga ou o Museu da Gulbenkian. No entanto, o Estado (isto é, à custa dos contribuintes) detém um importante conjunto de meios de comunicação social, quer de televisão, quer de rádio (RTP1, RTP2, RTP Memória, Antena 1,2 e 3 e outros), onde os nossos museus, para não falar de outras instituições de interesse público, praticamente quase não são referidas.

Será assim tão difícil incluir na programação desses “media” entrevistas, visitas, pequenos documentários pedagógicos e outras iniciativas, quer ao longo das emissões quer no próprio horário nobre? Estarão os responsáveis das respectivas programações convencidos que o público nacional só está interessado no futebol e nas telenovelas? Se for assim, julgo que estão enganados e que prestam um muito mau serviço ao país. Neste aspecto, chamo a atenção daqueles responsáveis para os Artigos 73º, 74º e 78º da nossa Constituição.

Em conclusão, julgo que se poderá resolver com relativa facilidade e pouco dinheiro os problemas que aqui referi. A solução está, no entanto, nas mãos de quem têm o poder para intervir, os quais, aliás, são pagos para isso pelos contribuintes, mas também, dependendo do interesse que os cidadãos demonstrarem e pressionarem os responsáveis em melhorar as condições culturais da nossa população.