Nas últimas semanas, por diversas vezes, vários foram aqueles que vieram a público colocar-se ao lado dos professores e das suas reivindicações. Globalmente concordam que os professores têm razão, entendem que as suas preces devem ser ouvidas e consideram que não é possível o Governo continuar a ignorar e desvalorizar a situação.

O Governo tem sido aconselhado a não lançar achas para uma fogueira crescente. No entanto, o ministro, com o seu habitual malabarismo linguístico, do alto da sua prepotência, veio na véspera da maior manifestação desde 2008, mais de 100 mil profissionais da educação na rua, em Lisboa, tentar virar a população, nomeadamente os pais, de forma muito manhosa, contra os professores.

Esteve mal! E o dia seguinte provou isso mesmo. Estive na manifestação e lá cruzei-me com dezenas de colegas que me confidenciaram que estiveram hesitantes em participar, até ouvirem na véspera o ministro. Depois disso, foram inúmeros os artigos de opinião que foram lançados pelos cartilheiros do costume em diversos jornais nacionais. Todos eles numa tentativa desesperada de virarem a opinião pública contra os professores.

A CONFAP, que aparece sempre em momentos oportunos, veio lançar suspeitas de legalidade sobre a tipologia da greve, por tempos letivos ao invés do habitual dia inteiro, assim como pedir ao Governo que decretasse serviços mínimos. Pena que não se apresse a pedir esclarecimentos ao ministro sobre tudo aquilo que tem sido feito à escola ao nível pedagógico. Daria outro artigo!

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para abrilhantar toda a campanha anti-professores, veio o ministro Fernando Medina a público dizer que a despesa não pode aumentar. Como quem diz, sobre a recuperação do tempo de serviço ou a revisão salarial nada poderá ser feito. Opinião corroborada pelo próprio Presidente da República.

Sobre esta opinião, não posso deixar de condená-la veementemente. Qualquer governante que se preze deverá saber que não só a Educação é um pilar social, devendo ser encarada como um investimento, como também não se deve considerar o trabalho, no caso dos professores, uma despesa. O pagamento dos vencimentos, mesmo que financeiramente assim o considerem, não pode ser considerado despesa, mas sim pagamento de um serviço prestado. Os professores prestam um serviço, qualificado, pelo qual devem ser convenientemente remunerados. Os professores esperam ver recuperado o tempo de serviço trabalhado, 6 anos, 6 meses e 23 dias, durante o qual fizeram os respetivos descontos. Não recuperar este tempo é saqueá-lo aos professores. Além disso, é inadmissível que o valor remuneratório de entrada na carreira em 2009 fosse de 1 518,63 € e em 2022 seja de 1 536,90 €. Se tivesse sido atualizado pelo índice de preços no consumidor (Continente) seria de 1 899,76 € (Dados do INE).

Tudo o resto que queira o ministro colocar em cima da mesa de negociações, que não contemple estas e outras questões, que já tive a oportunidade de esmiuçar aqui, será visto apenas como paliativos. Já nenhum professor cai na conversa de que não há dinheiro. Sabemos que há. Pelo que, se não se verificarem mudanças na postura dos governantes relativamente à luta dos professores, poderemos ter um impasse que não interessa a ninguém! Fiquem a saber que, mesmo que possa passar despercebido aos governantes, que podem colocar os filhos no privado com mensalidades ao nível do vencimento de um professor em horário incompleto ou de uma assistente operacional, não aceitaremos migalhas.