STEM é um acrónimo em inglês de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, que surgiu nos anos 1990, nos Estados Unidos, e que designa a integração das quatro áreas do conhecimento em contextos formais e não formais. Associado à necessidade de se aumentar o número de jovens que estudam e prosseguem carreiras nas áreas STEM, tem sido tomado como indicador de produtividade, competitividade e bem-estar dos países, a nível internacional, e tem legitimado políticas educativas, mudanças curriculares e novas práticas educativas. E está hoje em destaque na agenda de organizações internacionais, como é o caso da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da UNESCO.

Em Portugal, as iniciativas no domínio da Educação STEM têm decorrido de ações individuais das escolas, de projetos desenvolvidos com a administração educativa, mas também da oferta por universidades, centros de ciência, associações profissionais de professores e ainda de organizações como museus de ciência e feiras educativas. No contexto nacional, dados referentes aos alunos matriculados no ensino secundário nos cursos científico-humanísticos, entre 2016/2017 e 2020/2021, mostram que 51% a 52% dos alunos optaram pelo curso de ciências e tecnologias. No entanto, quando se observa a percentagem de estudantes matriculados no ensino superior na área de ciências, matemática e informática, e na de engenharias, indústrias transformadoras e construção, no período de 2016 a 2021, o cenário é diferente, com apenas 29% a 30% de estudantes a frequentar cursos nessas duas áreas (fonte: DGEEC), o que permite tirar ilações quanto à necessidade de se impulsionar a Educação STEM.

Estimulada recentemente pela agenda política do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), através do programa ‘Impulso jovens STEAM’ (que estende o acrónimo STEM às Artes) e da Escola Digital, a Educação STEM precisa de uma aceleração para a sua concretização generalizada, com base em três principais razões: (a) promove o desenvolvimento de competências essenciais no século XXI; (b) permite fomentar outras formas de pensar (especificamente o design thinking); (c) facilita a criação de cenários de aprendizagem inovadores.

(a) A Educação STEM ajuda os jovens a enfrentar e solucionar problemas e desafios globais (ex. alterações climáticas, falta de água potável, fontes de energia alternativas), promovendo o desenvolvimento de competências fundamentais para profissões futuras, como o pensamento crítico, criatividade, comunicação e cooperação. Isto implica que as experiências STEM nas escolas portuguesas acolham a aprendizagem centrada em contextos reais ou em problemas do quotidiano, e que se pense essas experiências à luz também das transformações da sociedade, acompanhando a evolução tecnológica, e os novos desafios colocados pela inteligência artificial e a ciências dos dados, entre outros.

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(b) As práticas de design estão muito presentes no dia-a-dia dos profissionais ligados às áreas da Engenharia (e também noutras áreas como nas Artes, Arquitetura e Tecnologia). Se a Educação STEM envolve a integração das quatro áreas do conhecimento, então importa concretizar o potencial do ‘E’ do STEM, a partir, por exemplo, da introdução de práticas de design que envolvem os estudantes na resolução de problemas práticos, na construção de modelos e protótipos, bem como na sua testagem e avaliação. Trabalhar o design thinking dos estudantes permite-lhes desenvolver outras formas de pensar, associadas ao imaginar, criar, fazer e otimizar, potenciando o seu uso mais alargado nos sistemas sociais e profissionais. Assim, não será despiciendo incluí-lo na formação inicial e contínua dos professores, trabalhá-lo nas salas de aula e promovê-lo de forma mais sistemática nas experiências de aprendizagem dos estudantes portugueses.

(c) A Educação STEM envolve professores de várias disciplinas a trabalhar em conjunto inter/transdisciplinarmente, conjugando conhecimentos específicos das quatro áreas, no desenvolvimento de cenários de aprendizagem inovadores que possibilitam aos estudantes desenvolver conhecimento, mas também compreender como esse conhecimento se constrói. Portugal detém professores capacitados para levarem a bom porto a inovação pedagógica exigida pela Educação STEM. Não obstante, importa que as autoridades educativas valorizem e deem voz às experiências bem-sucedidas de Educação STEM no território nacional, reforçando a ligação das escolas com organizações dos setores público e privado (ex. indústria, universidades, etc.) e investindo nas infraestruturas escolares e na reorganização dos tempos de trabalho dos docentes, de modo a facilitar iniciativas locais de Educação STEM.

Por estas três razões, impõe-se em Portugal a adoção premente de uma estratégia nacional de articulação da Educação STEM com as iniciativas em curso (ex. no âmbito do PRR), no quadro daquilo que se afiguram ser medidas transformadoras do sistema educativo. Só que, para o conseguirmos, há que rapidamente passar de uma ‘velocidade de cruzeiro’ para níveis de concretização apenas possíveis em patamares de alta velocidade e em forma de metas ambiciosas, claras e verificáveis.

Professora Associada no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (IE-UL)

‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.