Dizer que vivemos num mundo altamente competitivo em que o digital ocupa um espaço cada vez mais preponderante é já um lugar comum. Como é normal acontecer com os clichês, são usados e abusados até o seu significado se diluir e se tornar inconsequente… os políticos que o digam.

Porém, independentemente da perceção que tenhamos do fenómeno e do valor que lhe atribuímos, a narrativa segue o seu caminho, crescendo, ganhando espaço, definindo uma nova realidade.

A inesperada pandemia, para além dos efeitos nefastos imediatos, teve uma série de consequências colaterais cujo levantamento está ainda por efetuar. Contudo, pela sua natureza, repercutiu-se no mundo digital como um poderoso catalisador que acelerou ainda mais uma dinâmica sem retorno.

Esta nova realidade não pode ser ignorada, pois constitui uma vasta oportunidade para a economia, a que um país como Portugal deve estar atento e preparado para dela retirar o máximo proveito, sob pena de perder o comboio da inovação e da digitalização. Continuar espetador não pode ser uma opção.

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Para integrar este comboio rumo ao futuro é necessário possuir uma força motriz essencial: suficientes recursos humanos capacitados e competentes em várias áreas. Entre estas, a área da programação revela-se fulcral, mas, apesar da sua importância, é deficitária para as necessidades do mercado.

As universidades nacionais, fonte expectável desta matéria prima, não só não formam especialistas de programação em número suficiente, como excluem muito talento que não se revê, quer no sistema, quer na atual metodologia pedagógica, apontada frequentemente como excessivamente teórica e desajustada das necessidades reais. Não faz sentido que uma das frentes mais inovadoras da economia continue assente em modelos absolutamente convencionais e anacrónicos.

É neste âmbito que a 42 Lisboa constitui uma pedrada no charco, uma verdadeira revolução e disrupção nos métodos vigentes, já com provas dadas internacionalmente. Desde logo, assume o seu carácter irreverente: não é reconhecida pelo Ministério da Educação português nem por nenhum dos congéneres nos países onde está estabelecida, mas toma isso como irrelevante pois, mais do que nunca, é o conhecimento real, testado na prática, que é valorizado pelo tecido empresarial.

A 42 distingue-se pela sua natureza filantrópica e modelo extremamente inclusivo, aberta literalmente a todos os candidatos com pelo menos 17 anos, independentemente do seu percurso académico anterior e sem qualquer custo para os alunos. O modelo de ensino é inovador, a aprendizagem assenta num formato peer-to-peer (sem professor), sem horários fixos e a escola funciona 24/7. A empregabilidade é de 100% no final do curso, tornando-a num verdadeiro elevador social uma vez que, em média, cerca de 40 por cento dos alunos não concluíram sequer o 12º ano.

O nosso país tem, reconhecidamente, um défice enorme de programadores, que rondará os 30 a 50 mil, consoante as fontes. Ora, até agora, as faculdades em Portugal formam menos de 2500 especialistas por ano, estando este desfasamento a crescer de forma continuada.

Tendo em conta este quadro, é essencial que em Portugal se abram mais 42 noutras cidades de norte a sul do país. Tal só é possível com a mobilização da sociedade civil, através de operações de mecenato, em torno de um objetivo que é, em si mesmo, um game changer na capacitação competitiva do nosso país.

Por isso, é fundamental que a iniciativa privada, aqueles que verdadeiramente correm riscos e precisam de profissionais competentes como de pão para a boca, assumam este desafio e tomem a dianteira como é da sua natureza. Não se aceitam desculpas.