Vivo em Lisboa e sou advogado, também em Lisboa, com prática no direito imobiliário e urbanístico. Sou, portanto, testemunha de primeira fila das atuações boas e más da Câmara Municipal de Lisboa (CML).

Houve aspetos positivos da gestão de Fernando Medina. Bastantes. Nomeadamente, decorrentes de haver uma ideia urbanística para a cidade, proveniente da cabeça do arquiteto Manuel Salgado. Não tenho a certeza de que exista, na equipa de Moedas, alguém com a mesma ideia abrangente da cidade.

Mas a Câmara de Medina sofre do problema que, da bancada onde me sento, constitui um dos maiores pecados que a administração pública comete no nosso país: é um entrave ao investimento e, como tal, ao progresso.

A CML, tal como uma parte significativa da administração pública, é um obstáculo a quem queira investir em Lisboa, progredir. Os poderes, maiores e menores, parte deles que existem apenas para se perpetuarem a si próprios, para se justificarem a si próprios, são uma força de bloqueio diária aos empresários (sobretudo aos mais pequenos) que queiram construir, reabilitar, alterar, criar alguma coisa. Ou, simplesmente, expandir a esplanada do seu restaurante (neste caso o bloqueio será da Junta e não da Câmara).

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O poder de poder decidir sem ter de justificar é despótico. Ninguém quer ir contra a CML ou as decisões dos seus serviços, pois não quer ficar “de mal”. Caso contrário, numa próxima oportunidade, vai ter ainda mais obstáculos.

How can they do that?!”, perguntam os investidores estrangeiros.

Para um empresário, depender do poder público, neste caso da CML, pode ser o fator decisivo para que o investimento projetado acabe por cair por terra. O custo de oportunidade é demasiado elevado.

A pandemia veio agravar significativamente esta situação. Nada progride! Processos parados ou a andar a “passo de caracol”.

Diz-se que o número de funcionários da CML é excessivo. Não consigo dizer se é ou não. Mas consigo dizer, com conhecimento de causa, que os que estão não conseguem prestar um serviço eficiente à população de Lisboa. Afinal é disso que se trata: prestar um serviço remunerado à população.

É daqui que nasce o título (não original, aliás) do que agora escrevo.

Carlos Moedas já esteve do outro lado. Já esteve na consultoria aos investidores imobiliários, já foi, ele próprio, gestor de investimentos imobiliários, já foi empresário.

Já viveu as angústias de depender do poder público, no caso de uma câmara municipal. Já viu certamente investimentos não avançarem pelo facto de terem um caminho crítico chamado licenciamento municipal.

Mais, Carlos Moedas tem um conjunto de características que fazem dele uma verdadeira “oportunidade”. Por um lado, é novo (quer em idade, quer em postura), tem energia, vontade e ambição; por outro lado, tem experiência empresarial, tem experiência de gerir em crise, tem experiência de gerir (muitos, muitos) milhões na investigação, ciência e inovação, e tem algum prestígio, nacional e internacional.

Carlos Moedas era, sem qualquer dúvida, o candidato à CML de melhor qualidade que se poderia aspirar. Mas, muitas vezes (tantas vezes) os melhores não ganham. Só que, desta vez, ganhou mesmo!

Apesar de (na minha opinião) ter tido uma campanha com falta de ideias fortes para a cidade, a sua imagem de competência passou para os Lisboetas, que ao mesmo tempo estavam cansados do poder e da soberba dos que os governavam. Os Lisboetas acharam que valia a pena arriscar e Moedas ganhou.

É neste quadro que dou testemunho da minha esperança de que o novo presidente seja uma “lufada de ar fresco” a entrar pelos corredores da CML. Uma oportunidade que é dada para que Lisboa se reabilite, rejuvenesça, se desenvolva, ganhe qualidade, atraia qualidade, atraia inovação, atraia os melhores.

Para isto acontecer, a palavra eficiência terá que ser a palavra de ordem na CML. Os departamentos da CML deverão sentir que a sua eficiência na prestação do serviço a favor dos munícipes estará a ser avaliada, em cada processo, em cada momento. E na CML, quem melhor preste tal serviço, deve ser reconhecido. Promovendo assim os melhores, de maior qualidade.

Não consigo pensar em ninguém melhor do que Carlos Moedas para fazer este difícil caminho.

Boa sorte!