O único aspecto positivo da invasão da Ucrânia por Putin, esse grande humanista e líder dessa democracia de referência que é a Rússia, é o impulso que deu às energias renováveis.

Desde o início do século que Portugal tem feito uma aposta nas energias renováveis, suportada com uma legislação bastante avançada comparada com a de outros países. No entanto, a execução e/ou implementação ainda não é a desejada. Há ainda poucos intervenientes pois o sector está sob a influência de um lobby muito forte, o da EDP (e subsidiária EDP renováveis) cuja quota de mercado representa cerca de 40% do total das empresas portuguesas representadas no PSI 20.

Depois da Troika o turismo tem tido um novo efeito catalisador na economia portuguesa. Não é nenhuma novidade. No entanto, são poucas as iniciativas assinaláveis pelo que toca a um turismo sustentável e eficiente energeticamente. Deveríamos dar-lhes mais ênfase, apostar na literacia energética e até promover fiscalmente iniciativas mais verdes, de modo a sermos autossustentáveis e fornecer um serviço turístico de melhor qualidade.

É hoje muito controverso o enquadramento fiscal das centrais eólicas e solares designadamente pelo que diz respeito ao IMI. Os municípios deviam ter outros objectivos para além de simplesmente aumentar as receitas fiscais a curto prazo tais como o desenvolvimento regional, a atracção de investimento qualificado e a consequente criação de emprego, a redução dos custos energéticos, entre outros… Qualquer Presidente da Câmara gostaria de ser reconhecido por estas conquistas.

A taxa de esforço utilizada para haver mais produtos e serviços locais de que os turistas possam usufruir deve ser dirigida para vertentes sustentáveis de turismo. O feedback do cliente final vai ser muito melhor e com grande vantagem de cá porque estaremos a vender o mesmo a custos menores.

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A tendência actual do turismo tem de ser invertida e as energias renováveis têm um papel muito importante a desempenhar. Actualmente há demasiada procura para uma oferta pouco variada. Inevitavelmente as margens de lucro vão começar a descer, a fatura pela luta do preço vai pesar nos profissionais da área, o turista típico que visita o nosso país vai ser cada vez mais desinteressante e vai gastar menos dinheiro. No futuro, esta realidade vai até gerar o descontentamento dos locais, como já sucede em muitos países.

Portugal tem a oportunidade de corrigir a situação antes que seja tarde demais, antes que o turismo se degrade e as tensões comecem. É preciso aumentar a fasquia de quem nos visita oferecendo o melhor. Não estou a advogar menos turismo, quero é maximizar o retorno deste.

O estímulo do dinheiro fácil e rápido é atraente, mas se não houver uma sensibilização para a necessidade de utilização de energias renováveis, a curto prazo este país vai deixar de ser tão apetecível para passar as férias. Seremos iguais a outros países que dependem do turismo barato e pior ainda, seremos ultrapassados por outros com visões mais ambiciosas que, porventura, não dependem tanto dele.

Os produtos e os serviços mais verdes são mais baratos, a proposta de valor é maior, a disposição do cliente para gastar mais dinheiro aumenta e a externalidade negativa para a economia é menor. A ganância pelo dinheiro do turista não pode fazer-nos esquecer a preservação da nossa maneira de viver e dos nossos valores porque é isso apenas que a longo prazo incentiva o turista e o motiva a vir cá. As energias renováveis são uma parte muito importante deste objectivo.

Dizia de nós o padre António Vieira “vós sois o sal da terra”. Apostemos nas energias renováveis. Não quero acabar os meus dias a dar sermões aos tuk-tuks.