O arquétipo da complexidade, aliado à incerteza e imprevisibilidade, mais do que nunca, qualifica a sociedade dos nossos dias. O que é facto é que, no decurso da nossa vida, não somos treinados para conviver com a complexidade e com o risco, no seio de cenários incertos e imprevisíveis.

Esta situação de pandemia em que vivemos, veio demonstrar-nos que nem tudo podemos controlar, mas também que, ainda assim, devemos unir esforços e seguir em frente, despertando em nós sentimentos coletivos.

Talvez esta premissa durhkeimiana seja a pedra basilar de uma civilização,  na medida em que, existindo em sociedade, existimos muito para além de nós próprios. Efetivamente, a consciência coletiva é uma espécie de sistema com vida própria, conducente à coesão, fundamental para que não caiamos num estado de anomia social.

Cada vez mais, perante a complexidade crescente, geradora da incerteza, é necessário agir sobre o risco, envolvendo todos e cada um, através da cooperação e da corresponsabilização que se aprendem desde tenra idade em múltiplos espaços, nomeadamente na escola. Sendo a Educação uma prática social por excelência, a escola, enquanto palco privilegiado de construção do indivíduo, definição da conduta socialmente aceite e meio de mudança social, tem um papel preponderante na construção do individual em prol do coletivo.

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Na verdade, a escola é, essencialmente, um espaço de compromissos e desafios, que,no século XXI deverá desempenhar o papel de “moderador”, uma vez que na era da informação massificada, saber selecioná-la assume particular importância. Os professores, enquanto moderadores principais no processo de aprendizagem, revelam-se como absolutamente insubstituíveis na construção de uma escola (mais) democrática e inclusiva, onde se aprenda a questionar e a (re)criar laços de empatia para com o outro, num jogo dialético entre razão e emoção, onde a cooperação seja a palavra de ordem e de acordo com as idiossincrasias de cada um. No entanto, para desenvolver e operacionalizar o trabalho cooperativo é preciso tempo. Tempo que é escasso para as escolas, envoltas em atividades burocráticas impostas por quem manda por direito, mas que não tem cumprido o seu dever – a valorização efetiva da Educação.

Não chega definir o enquadramento legal relativo à autonomia e flexibilidade curricular que  apenas dá margem para uma negociação ao nível da estratégia interna. É necessário apoio efetivo ao nível das políticas educativas, assente num melhor e maior investimento, contrariando o politicamente correto a reboque de impulsos eleitorais descontínuos. A sustentabilidade do investimento, nesta matéria, é uma emergência nacional que implica priorizar, efetivamente, a Educação. Para isso, é de todo importante valorizar devidamente os recursos humanos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, para que possam concretizar a essência da sua função – a formação de cidadãos livres, ativos e conscientes dos princípios de cidadania que em muito contribuem para a coesão e justiça social. Neste sentido, há que escutar a escola, o espaço por excelência de interpretação da vida social, criando espaços de diálogo e percecionar, no terreno, os seus verdadeiros problemas para que se possam enfrentar os múltiplos desafios que o futuro coloca.

Neste momento em que vivemos, é tempo de avaliar o que se sente em espaço escolar e não tanto o que se sabe.

Mudemos, de forma efetiva de paradigma, interagindo dialogicamente, celebrando a diversidade, traduzindo-a em riqueza, evolução e conhecimento, pois só assim estaremos a promover a existência de uma escola de todos e de cada um. Criemos um espaço em que se possa olhar para as disciplinas de modo “indisciplinado”, onde a interdisciplinaridade seja uma realidade, valorizando e potencializando a individualidade, incluindo cada um no seu processo de aprendizagem.

Urge libertar a escola, que se encontra manietada a conteúdos curriculares que pouco mudaram ao longo dos anos e, sobretudo, a metas alicerçadas num sistema de avaliação obsoleto que condicionam todo o processo educativo, sob pena de se continuar, conscientemente, a hipotecar o futuro das gerações vindouras e, consequentemente, o futuro de todos nós.

Urge valorizar a importância do brincar no desenvolvimento psicossocial das crianças e jovens, constituindo um alicerce essencial da cultura humana, para que o mesmo possa ser, efetivamente, potenciado e valorizado no sistema de ensino. O brincar reveste-se de uma importância particular, pois, para além de fomentar o pensamento crítico e reflexivo, contribui para o desenvolvimento de competências socioemocionais e habilidades psicomotoras, promovendo a vinculação social e, naturalmente, a inclusão.

Só assim, a formação integral de cada um e a tão decretada escola inclusiva deixarão de ser uma miragem.

Libertar a escola, para que possa ser um espaço efetivo (e afetivo) de aprendizagem, do saber pensar, do saber saber, do saber fazer, do saber estar e, sobretudo, do saber ser!