O rastreio do cancro do pulmão realizado com recurso a TAC de baixa dose já demonstrou ser efetivo, nomeadamente através dos dois grandes estudos levados a cabo: NLST e Estudo Nelson. Cerca de 130 projetos estão no terreno, 49 dos quais em espaço europeu, a nível de projetos piloto/regionais ou já a escala nacional, de que se exemplifica países como a Croácia e a Polónia.

Em 2019, em Inglaterra, o NHS, partindo da experiência de projetos piloto/ regionais, iniciou a implementação nacional do rastreio do cancro do pulmão, assente num modelo de proximidade ao cidadão, a evidenciar resultados encorajadores ainda recentemente apresentados. Desalinhado com a realidade do espaço europeu, Portugal tem vindo a esquecer este rastreio, apesar de se tratar da patologia  da maior relevância quando avaliada nas suas diversas componentes.

Em 2021, a Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta contra o Cancro do Pulmão, mantendo a convicção de que que o caminho passará pela aposta na prevenção aliada ao diagnóstico precoce, entendeu trazer o tema do rastreio para reflexão,  reunindo uma equipa multidisciplinar de experts em saúde. Do trabalho desse painel, composto por profissionais de reconhecido mérito, resultou um projeto piloto para implementação no Grande Porto. Após a devida monitorização e avaliação de resultados, teria como objetivo ser alargado à escala nacional.

Esse projeto devidamente estruturado, mapeado e custeado foi apresentado às autoridades de saúde, constituindo assim uma forma de a sociedade civil contribuir para a resolução de um problema da maior gravidade e premência.

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Estamos a falar da doença oncológica com maior mortalidade associada e com incidência elevada e crescente. Estamos a falar de um rastreio que pode salvar vidas, reduzindo a mortalidade em pelo menos 20%, proporcionando diagnósticos em fases iniciais, em que as taxas de sobrevivência podem ser 8 vezes superiores às verificadas em estadios avançados. Estamos a falar de uma doença que continua a ser diagnosticada na maioria dos casos em fase avançada, com prognósticos pobres e custos elevadíssimos para o SNS.

Depois de anunciado, em dezembro de 2022, pelo então Ministro da Saúde, o início de um projeto piloto a arrancar no terreno em 2023, depois de este rastreio ser contemplado no orçamento de 2024, estamos prestes a terminar o ano sem que nada tenha ocorrido .

Falta de vontade política certamente!

Porém, eventuais entropias por parte de entidades envolvidas ao longo do tempo na decisão sobre esta matéria parecem contribuir para o sistemático adiar deste rastreio. Acender a luz ao fundo do túnel é o que os doentes merecem e esperam de quem decide há demasiado tempo, numa patologia em que todos os minutos contam!