Para muitas famílias, os maiores investimentos, os que exigem maior esforço financeiro, são a casa, o carro e a educação. Todos eles são considerados tão fundamentais para uma sociedade humana e solidária que, durante o século passado, até nos países menos estatistas, era frequente o Estado providenciar para que ninguém ficasse sem teto, transporte ou uma formação básica.

No entanto, rapidamente se notou que, assim que podiam, as pessoas compravam mota ou carro e deixavam de usar o transporte público. Curiosamente, isto acontecia em quase todos os países, mesmo quando o nível de rendimentos era tão baixo que essas pessoas ainda eram “pobres”. Verificou-se também que, mal podiam, as pessoas compravam casa própria e deixavam a habitação social. Que haverá com a oferta estatal de transporte e de habitação, para que a maioria opte por alternativas privadas, assim que pode?

Interessantemente, também se nota que, na maioria dos países, são poucos os que prescindem da educação estatal em favor de escolas privadas. Porque será? Há duas respostas possíveis. A primeira é que a qualidade do sistema público de educação, ao contrário do que acontece com a habitação social e o transporte público, é suficientemente boa comparada com a das escolas privadas, especialmente tendo em conta o custo mais elevado que estas acarretam. O que será verdade nalguns países.

Outra possibilidade é que as pessoas dão mais importância ao carro e à casa que à educação própria e dos filhos. Isto pode dever-se a que a casa e o carro são tangíveis e têm um mercado secundário que permite transformá-los em liquidez, quando necessário, ou fazer um upgrade. Outra razão para valorizarem mais o carro e a casa pode ser as pessoas não estarem conscientes das vantagens de uma educação de qualidade, como meio de aumentar os rendimentos futuros, ou o bem-estar pessoal que uns horizontes mais alargados proporcionam. “Que prazer, estudar e poder aplicar o que se aprendeu!” já dizia Confúcio (Analectos1,1).

Infelizmente, qualquer destas atitudes dá mais importância a investimentos externos à pessoa, do que a investimentos que valorizam a própria pessoa. Será que um carro, ou uma casa, são mais importantes e me trazem mais felicidade que a realização pessoal e profissional? Diz-me no que investes e dir-te-ei que pessoa és…

José Miguel Pinto dos Santos, AESE Business School
José Maria Campos André, Instituto Superior Técnico

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