Diz-se que a impetuosidade anda de mãos dadas com a juventude. A rebeldia da tenra idade, como se costuma ouvir. É normal associar-se às camadas mais jovens da sociedade uma certa paixão pelo ativismo, pela defesa fervorosa de dados valores. Enfim, um certo reacionarismo. Acontece que, como bem se viu pelos resultados eleitorais mais recentes, essa impetuosidade está marcadamente virada para o lado direito do espetro político.
Não é segredo para ninguém o facto de, nos últimos anos, as sociedades ocidentais se terem extremado à esquerda de uma forma nunca antes vista, inundando tudo e todos com visões anacrónicas que chegam a pôr em causa as mais evidentes verdades. Nisto, qualquer um que ouse levantar-se para afirmar o óbvio ganha um novo acessório, um alvo nas costas como se fosse um inimigo a abater. A liberdade de expressão tornou-se um conceito digno de interpretação restritiva. Existe, mas está limitado às bandeiras da esquerda. “Discurso de ódio” é a nova expressão que caracteriza esta realidade. Uma definição simples poderia ser: é discurso de ódio tudo aquilo que não venha revestido de uma aprovação dos iluminados da sociedade. Para além disto, os discursos coletivistas tornaram-se quase verdade absoluta. Falar em empresas ou em lucro sem recorrer a expressões como “grande capital” ou “interesses instalados” é, nos dias que correm, um ultraje. A célebre cooperativa em que a “ferramenta é de todos” é o que está a dar. Naturalmente que, daqui, emergiram duas situações conexas: i) a sociedade ganhou resistências que não tinha a determinados temas, ou seja, passaram a existir ceticismos em relação a questões que eram relativamente consensuais há uns anos; e ii) as economias enfraqueceram e a pujança de que precisamos está bem longe de vista. Em suma, em casa está difícil pôr pão na mesa e, nas ruas, as clivagens ideológicas são cada vez mais evidentes.
Por alguma razão se associa palavras como “reacionismo” ou “ativismo” à esquerda. Ora, o problema principal do progressismo de hoje é o limite do progresso. Não há. É, aliás, por aqui que se traça a principal linha vermelha entre o progressismo e o conservadorismo. O conservador não é um velho do Restelo, não é alguém que não aceita o avanço ou que se limita a criticá-lo pura e simplesmente. O conservador é aquele que entende que o avanço deve ser gradual, não disruptivo, não destrutivo, e que, no processo, se deve atender às culturas e tradições que nos construíram enquanto povo. Bem se viu ao que nos trouxeram medidas extremistas que apregoavam o avanço a todo o custo e sem olhar a mais nada. Dar um passo maior que a perna. Temas de importante relevo e da mais legítima preocupação passaram a barreira do ridículo, em muitos dos casos. E, mesmo naquelas causas em que não se nota tanto exagero no conteúdo, estes “ativistas” não se sabem conter na forma. Param estradas, vandalizam monumentos, destroem obras de arte, atacam pessoas nas mais estapafúrdias formas de protesto. É uma pena que temas tão importantes como é o exemplo da crise climática sofram por tabela com este tipo de ações irrefletidas e exageradas.
Os jovens votam à direita. Estão fartos de clivagens desnecessárias, estão fartos que temas pouco relevantes e discussões pífias dominem o debate público, estão fartos de uma economia fraca e, acima de tudo, estão fartos de ter como dado adquirido que, ou imigram, ou estão condenados a uma vida de poucochinho. No que diz respeito à economia, não são precisos mais estudos, como bem referiu, recentemente, Pedro Passos Coelho. Mas já se sabe que a receita da esquerda para se agarrar ao poder é manter grande parte da sociedade dependente do Estado. «Os socialistas não gostam que as pessoas escolham, porque podem não escolher o socialismo», numa tradução literal das palavras de Margaret Thatcher. Uma sociedade livre, com o Estado no seu sítio, desafogada e dinâmica não precisa de receitas mágicas para resolver problemas de fundo, simplesmente porque não existem. Virão uns quantos dizer que problemas existirão sempre, em toda a parte. Certamente. A diferença é a de os estarmos a discutir à mesa, com um banquete à nossa disposição ou, por outro lado, não os discutirmos de todo porque a fome não nos deixa pensar neles. E, felizmente, Portugal só ainda não chegou perto de países como Venezuela ou Cuba por obra da União Europeia. Enfim, antes na cauda da Europa que na cauda da América do Sul…
Hoje os jovens recusam, cada vez mais, a ideia de que há um conjunto de iluminados que ditam o que pode e o que não pode, o que deve e o que não deve. Ser de esquerda não significa ser, por inerência, um puritano dos bons costumes ou dos valores que devem nortear a sociedade. É por isso que, hoje, é preciso gritar bem alto contra aqueles que se sentem no direito de olhar para os restantes de cima para baixo. Defender o bom senso, hoje, é ser posto de parte por colocar em cheque o status quo. Manda esse bom senso focar a atenção no crescimento económico, de uma vez por todas. Manda esse bom senso relativizar o acessório e priorizar o essencial. Manda esse bom senso que se comece a construir o país das próximas gerações. O reacionarismo, agora, passará a ser o do bom senso. Que bom que o bom senso ficou em primeiro no domingo passado.