O setor da construção é um dos maiores consumidores de recursos naturais (50%) e produtores de resíduos (35%), contribuindo também significativamente para a emissão de gases com efeito de estufa, entre 5 e 12% do total na União Europeia. Ciente desta realidade, no âmbito do “green deal”, a Comissão Europeia tem delineado várias estratégias para mitigar este impacto, incluindo a revisão do regulamento dos produtos de construção e a integração da avaliação do ciclo de vida nos contratos públicos, com o objetivo de atingir a neutralidade carbónica até 2050.

Além dos desafios ambientais, o setor enfrenta questões sociais como a falta de habitação e a escassez de mão-de-obra qualificada, bem como a necessidade de reduzir os custos ao longo do ciclo de vida das construções. Uma resposta eficaz para estes desafios pode ser encontrada num recurso abundante em Portugal: a madeira.

Durante o seu crescimento, as árvores capturam dióxido de carbono da atmosfera, contribuindo para a redução dos níveis deste gás no ar. Este carbono fica retido na madeira mesmo após o seu corte e transformação, sendo libertado apenas através da queima ou decomposição. Comparativamente a outros materiais de construção, a madeira apresenta uma pegada de carbono extremamente reduzida, especialmente se for garantida uma gestão florestal sustentável que inclua a replantação.

Apesar das vantagens evidentes, a adoção da madeira como principal material de construção enfrenta vários mitos e desconhecimento técnico. Por exemplo, a crença de que a madeira não é durável ou que não tem resistência mecânica é amplamente refutada por estudos, como os realizados no SerQ – Centro de Inovação e Competências da Floresta. Estes estudos mostram que a madeira de pinheiro-bravo pode ser comparável em termos de resistência a materiais como o betão e o aço, especialmente quando consideramos as proporções de peso para resistência.

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Adicionalmente, há mitos sobre a estética e a integridade estrutural da madeira, como a preocupação com fissuras, nós e variações de cor. Estes são elementos naturais da madeira que, longe de diminuir a sua qualidade ou segurança, conferem-lhe uma estética única e são contemplados nas normas de segurança e qualidade, como a marcação CE. O tratamento adequado e a seleção cuidadosa do tipo de madeira podem maximizar a sua durabilidade e resistência.

Outra preocupação é o custo da madeira, frequentemente percebido como elevado. No entanto, quando comparado com os custos de construção de gama média-alta e considerando os benefícios de redução dos tempos de obra através da construção modular, a madeira revela-se economicamente competitiva. Além disso, ao reduzir a pegada de carbono, os projetos de construção em madeira podem beneficiar de incentivos fiscais e subsídios no contexto das políticas de sustentabilidade da UE.

Para superar as barreiras à adoção da madeira, é fundamental aumentar o conhecimento técnico no setor. Muitas escolas de engenharia civil em Portugal não oferecem formação especializada em estruturas de madeira, limitando assim a capacidade dos futuros engenheiros de explorarem este material. Iniciativas como o “Mestrado em Construção em Madeira”, na Universidade de Coimbra, são passos importantes, mas é crucial expandir estes programas e incluir formações práticas acessíveis para os profissionais em atividade.

Finalmente, para que a madeira seja vista não só como uma opção viável, mas como uma escolha preferencial na construção, é necessário um esforço conjunto entre universidades, indústria, formadores e legisladores. Isto passa por garantir transferências de conhecimento eficazes, desenvolver novas tecnologias de tratamento e conservação da madeira e criar um quadro regulatório que reconheça e incentive o uso sustentável da madeira.

A transição para a construção sustentável não é apenas uma necessidade ambiental, mas também uma oportunidade económica e social. A madeira, com as suas propriedades únicas e o seu potencial para reduzir drasticamente as emissões de carbono, deverá assumir um papel central nesta transformação. Assim, investir no conhecimento, na tecnologia e na sustentabilidade do uso da madeira não é apenas investir num material de construção, mas num futuro mais verde e resiliente para todos.