Nos últimos anos, Portugal tem enfrentado inúmeros desafios económicos e sociais que exigem uma resposta clara e orientada para o futuro. Temos uma oportunidade única para construir um caminho que reforce a competitividade do país, promova o crescimento sustentável e melhore a qualidade de vida da população. Mas, para isso, precisamos de soluções concretas e bem direcionadas.

Portugal atravessa um momento decisivo na sua história recente. O país, com todas as suas riquezas naturais, culturais e económicas, enfrenta desafios estruturais que exigem uma resposta ágil, criativa e inovadora. Acredito que as mesmas estratégias que utilizamos no mundo empresarial para fortalecer marcas, expandir mercados e reter talento podem, e devem, ser aplicadas ao desenvolvimento do país.

Entre os principais desafios que o país enfrenta, destaco o envelhecimento da população, as desigualdades sociais e económicas, a baixa produtividade e competitividade, a escassez de financiamento e apoio às pequenas e médias empresas (PME), e a inadequação do sistema de educação e qualificação profissional às exigências do mercado de trabalho. Além disso, a transição energética e a adaptação às alterações climáticas exigem atenção prioritária. Paralelamente, enfrentamos uma burocracia excessiva, desigualdades regionais acentuadas e resistência à mudança em setores chave. Embora complexos, estes desafios representam também oportunidades únicas de transformação e crescimento.

Nos próximos anos, Portugal tem a oportunidade de se tornar um exemplo de como uma economia pode ser resiliente e competitiva, se houver um esforço transversal para investir na inovação, na educação, na digitalização e, acima de tudo, nas pessoas. As estratégias que utilizamos para fortalecer marcas no mundo empresarial podem servir de exemplo para o desenvolvimento do país. Marcas fortes não só impulsionam as empresas a competir num mercado global, como criam um ciclo de confiança, investimento e desenvolvimento. O mesmo se aplica ao país.

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Portugal, para se afirmar num mundo globalizado, precisa de consolidar a inovação como um pilar estratégico. Não há outra saída para a nossa economia que não passe pela modernização dos seus processos, mas isso requer mais do que boas intenções: exige investimento real em Investigação e Desenvolvimento (I&D). Hoje, apenas 1,6% do PIB é destinado a I&D, um valor muito abaixo da média europeia. O objetivo deve ser, no curto prazo, alcançar os 3%, de forma que o setor empresarial tenha uma base sólida de inovação.

Assim como nenhuma empresa cresce sem investir na diferenciação da sua proposta de valor, Portugal não conseguirá crescer sem uma aposta sólida em inovação tecnológica e digital. Ao olhar para o mundo empresarial, sabemos que marcas fortes são pilares fundamentais do crescimento sustentável. Elas não só impulsionam as empresas a competir num mercado global, como criam um ciclo de confiança, investimento e desenvolvimento. O mesmo se aplica ao país. Uma “marca Portugal” forte é essencial para atrair investimento, turismo e talento.

O desafio não está apenas em criar uma marca forte, mas em garantir que ela seja reconhecida pela sua qualidade e capacidade de inovar. Marcas que conseguem combinar tradição com inovação conseguem perdurar no tempo e atravessar fronteiras. Portugal, com a sua história e identidade tão rica, tem todas as vantagens para se destacar neste sentido. Mas para que isso aconteça, as empresas, especialmente as pequenas e médias, devem ser incentivadas a crescer, inovar e expandir internacionalmente. O apoio governamental e a criação de condições favoráveis para esse crescimento são fundamentais.

Em qualquer organização, o capital humano é o recurso mais valioso. E esta verdade aplica-se de igual forma a um país. Nenhuma empresa ou país pode progredir sem valorizar as suas pessoas, promovendo o seu desenvolvimento e bem-estar. Tenho a ambição que Portugal se torne num país onde todos tenham oportunidades reais de desenvolvimento, onde a coesão social seja visível e onde a justiça e a equidade prevalecem.

Para tal, acredito que devemos investir e apostar na educação e formação, adaptando o sistema educativo às exigências do futuro. A formação profissional contínua, particularmente nas áreas digitais, é fundamental para garantir que os trabalhadores têm as competências necessárias para se adaptarem à transformação tecnológica.

Portugal ainda enfrenta grandes desafios no que toca à produtividade. As nossas empresas, por mais resilientes que sejam, precisam de se tornar mais eficientes para competir num mercado global cada vez mais exigente. A digitalização da economia, com a automatização de processos e a utilização inteligente de dados, é um passo necessário para atingir essa eficiência. Mas, para que isso aconteça, é preciso vencer a resistência à mudança que muitas vezes caracteriza tanto o setor privado como o público.

Aqui, a simplificação de processos administrativos e a redução da burocracia são cruciais. Assim como no mundo empresarial, onde processos mais ágeis permitem uma resposta mais rápida às exigências do mercado, Portugal também precisa de descomplicar os seus procedimentos, tanto a nível estatal como corporativo. Esta agilidade é o que nos permitirá ser mais competitivos, mais atraentes para investidores e, consequentemente, mais resilientes a crises futuras.

A par de tudo isto, sublinho a necessidade cada vez maior de um sistema educativo que prepare os jovens para os desafios e oportunidades do futuro. A educação deve ser vista como um investimento estratégico, capaz de impulsionar a inovação e a competitividade do país. Devemos reformar o nosso sistema educativo para que ele prepare os jovens para os desafios que já sabemos que teremos de enfrentar, com foco nas competências digitais e no pensamento crítico.

A formação profissional contínua é também fundamental para garantir que os trabalhadores têm as competências necessárias para se adaptarem à transformação tecnológica. Ao mesmo tempo, é vital fomentar uma cultura de inclusão digital, onde todos, independentemente da idade ou origem, tenham acesso e literacia tecnológica.

Portugal é um país de enorme potencial. E não tenho dúvidas de que podemos ultrapassar todos os desafios que nos são colocados. Tal como no mundo empresarial, onde a inovação, a eficiência e a valorização das pessoas são essenciais ao sucesso, acredito que essas mesmas diretrizes podem guiar o nosso país para um futuro próspero e sustentável.

Ao investir nas nossas pessoas, ao simplificar processos e ao adotar práticas inovadoras, podemos construir um país mais competitivo, mais inclusivo e, sobretudo, mais orgulhoso de si mesmo. Tal como sempre acreditei nas pessoas e na sua capacidade de inovar, acredito no futuro de Portugal e no papel que cada um de nós tem na construção de um Portugal melhor.

Rui Miguel Nabeiro é licenciado em Gestão de Empresas, tem um mestrado em Gestão Aplicada (Universidade Católica Portuguesa) e uma pós-graduação em Gestão Avançada (Kellogg School of Management). É atualmente CEO do Grupo Nabeiro-Delta Cafés, onde já coordenou a expansão internacional e o lançamento do sistema de cápulas de café expresso. É membro do Clube dos 52, uma iniciativa no âmbito do décimo aniversário do Observador, na qual desafiamos 52 personalidades da sociedade portuguesa a refletir sobre o futuro de Portugal e o país que podemos ambicionar na próxima década.